#12 Crónica | Como contrariar o marketing ao consumo de brinquedos dirigido às crianças?
Com dois dias de atraso – mea culpa, mas cá está a crónica desta semana! Na 2.ª feira recebi o texto tarde e já não consegui publicar, e ontem à noite tive uma paragem de digestão e deitei-me às 20h30 pelo que precisei de aproveitar o wi-fi perto do trabalho e vir publicar na hora de almoço para poder partilhar este texto tão interessante escrito pelo nosso psicólogo! O tema desta semana surge na sequência da controvérsia que gera sempre que os supermercados lançam campanhas de colecção de artigos infantis. Ninguém se insurge contra a colecção de copos do Continente, mas há um sem fim de criticas ao gang dos frescos do LIDL, aos Angry Birds do Continente, ou mais recentemente aos Amigos da Quinta do LIDL, de que já falámos aqui. E porquê? Porque aqui, os visados são as crianças, e os pais por vezes têm dificuldade em que entendam a dinâmica da coisa! Vamos ver as sugestões do Hugo?
Este é um bom tema para reflexão porque é uma realidade cada vez mais incomodativa para muitos pais.
A publicidade vem cada vez mais a dedicar-se ao target infantil, colocando assim os pais e mães em cheque perante os pedidos repetidos e suplicantes dos filhos.
No passado Natal fiquei surpreendido pelo conhecimento pormenorizado de marcas e características dos brinquedos na moda por parte dos meus mais velhos, que na altura ainda tinham 7 anos de idade.
Conheciam os nomes dos modelos, o que faziam, comparavam produtos, diferenciando-os, sabiam quais as caixas onde estavam e facilmente encontravam a prateleira no híper onde os tais desejados brinquedos estavam, e muito bem posicionados.
Por isso, a crónica de hoje é para vocês e também para mim, pois esta batalha contra o consumo requer reflexões constantes e partilhadas.
Felizmente, também cada vez mais os pais tomam atitudes ativas e de gestão deste consumismo, incomodados não só pelo impacto nas bolsas e orçamentos familiares, como igualmente pelos valores e emoções que os seus filhos estão a apreender com tudo isto.
Ainda para mais quando os pais recordam o impacto que sentiram na pele da recente crise económica mundial, e do preço que todos pagámos pelo consumo fácil e altamente apelativo, onde fomos alvos das mais diversas campanhas.
Assim, após este enquadramento e auto-revelação, aqui ficam as Dicas para um Consumismo Inteligente:
1. Leve-os às compras consigo
Integre os seus filhos mais vezes nas compras para casa, para que tenham um papel mais ativo no consumo positivo e consciente, na gestão do quotidiano.
Atribua-lhes a tarefa de encontrar um produto na prateleira, de ver o preço, de comparar o preço com outro produto similar, de pagar e verificar o troco em pequenas compras, entre outros.
2. Ajude o seu filho a ser um consumista inteligente
Há ainda uma falha no marketing: ele é baseado na psicologia social clássica, ou seja, baseado no comportamento dos grupos, e não no indivíduo e na escolha inteligente.
Assim, ajude o seu filho a perceber o que gosta mais, desde os cereais que come de manhã, comparando sabores, marcas, preços e supermercados.
3. Crie campanhas de endomarketing lá em casa
Ou seja, crie com os seus filhos slogans e lenga-lengas de valores a serem seguidos em casa, tais como:
“Hoje é o dia dos doces”
“Um brinquedo novo por mês é inteligente e fico contente”
4. Distribua os presentes do Natal ou dos Anos por outros períodos do ano
Esta é uma estratégia que cada vez mais pais adotam. Criam uma reserva de presentes nestas datas de avalanche e depois vão oferecendo os brinquedos mensalmente ou trimestralmente aos filhos.
5. Negoceie orçamentos
Esta é uma boa estratégia para que a criança aprenda a escolher e a gerir a frustração. Por vezes quando estou a enfrentar a pedinchice aguda atribuo um orçamento de 1 euro ou 2, em formato de desafio, e digo que pode levar o que quiser mas só dentro desse orçamento.
Não é uma tarefa fácil, sobretudo porque os brinquedos apelativos não são desse preço. Mas essa é a regra da negociação, o meio termo entre a vontade da criança e as regras do adulto.
Quando a criança já consegue adiar a vontade de consumir naquele momento, então pode ir juntando esses 1 ou 2 € até fazer a quantia que quer.
Há miúdos muito bons no poupar e conseguem focar-se num só objetivo. E chegam lá.
6. Dê exemplos comparativos sobre o valor dum brinquedo
No outro dia ouvi a frase “15 euros é barato”. E respondi: “sabes quantas horas de trabalho numa loja de roupa ou no McDonald’s representa 15 euros?”
7. Recicle frases como “Não tenho dinheiro”
Esta frase é frequente e válida. Mas experimente transmitir também o valor relativo e não apenas o valor absoluto.
Ou seja, não dizendo o orçamento que o adulto tem, pode dizer “este mês já recebeste isto e aquilo. Já chega”. Ou diga “Isso sai fora do orçamento. Não pode ser”.
8. Brinque e jogue com eles
Os brinquedos mais valiosos não são os que as televisões anunciam, as lojas publicitam ou aqueles que os amigos falam na escola. São aqueles que partilhamos com quem é mais importante para nós.
9. Transmita os seus valores e faça campanhas anti-consumo
Não tenha problemas em fazer um campanha anti-produto A ou B. Faça-a mesmo, com argumentos e repetição. E torne isso algo positivo, como um jogo ou um desafio que vão superar em conjunto.
Faça cartazes lá em casa, se preciso for. E quadros de pontuações a quem conseguir mas anti-consumir.
10. Ajude-os a arranjarem outras formas de aceitação e desejabilidade social
A pressão social é algo que pesa e muito no consumismo. Parece que ficamos de fora se não tivermos o objecto x ou y. E as crianças vivem isso significativamente.
Ensine-as a arranjarem estratégias para serem aceites pelo que são. Se o seu filho não leva o novo brinquedo para a escola ou não pode dizer “eu também tenho”, construa com ele um jogo feito artesanalmente e que será único e ainda mais especial.
Eles adoram dizer aos amigos “a minha mãe…” e “o meu pai…”. Em vez de dizerem que “comprou” isto ou aquilo, vão dizer “fez” ou “inventou” ou “criou” isto ou aquilo e “comigo”.
11. Ensine-os a oferecer
Esta dica é simples mas esquecemo-nos dela com frequência. Eles vão a aniversários dos amigos mas são os pais que escolhem, compram e oferecem as prendas.
Ou eles até oferecem mas nem sabem bem o que oferecem.
Ou outras vezes oferecem e ficam a olhar e depois dizem: “também queria”.
Do mesmo modo, pode ensiná-los a doarem os seus brinquedos a Instituições de Solidariedade, escolhendo-os, arrumando-os e levando-os consigo até ao local de entrega.
E se isto não chegar, então podemos os pais juntarmo-nos e começar a fazer mais acções e campanhas sociais sobre este tema. Podem contar comigo para isso, porque como disse no início, preocupa-me nesta matéria os valores que estamos a transmitir aos nossos filhos.
Abraço, e sejam consumidores inteligentes.
Hugo Santos
Psicólogo