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#13 Crónica | Ser mãe hoje: dicas para gerir a frustração

Depois de ter escrito sobre a frustração que sinto por não poder passar tempo com os meus filhos, dar-lhes a atenção que precisam e merecem e por me sentir completamente esmagada pressão do dia a dia, falei sobre isso com o Hugo e surgiu um novo tema para uma crónica. Se se identificam com esta minha frustração não deixem de ler. Devagar e com paciência mas com a certeza de que daremos algum contributo para a mudança global que urge. Queremos um futuro melhor!
Esta semana a Sara escreveu este artigo no Definitivamente São Dois que reflecte a frustração de ser mãe e pai nos tempos de hoje.
Um artigo que colocou o dedo na ferida, na desilusão de não se ter tempo para os filhos face a um quotidiano preenchido por inúmeras obrigações que nos retira o tempo para o que é mais importante.
Trata-se duma revolta que a maioria das mães e pais sentem, no seu dia-a-dia, e por isso este post teve um número significativo de views e comentários, reflexo dessa identificação.
Também por isso, escrevo hoje algumas dicas sobre o tema, que aqui partilho.
As minhas dicas sobre esta frustração de ser mãe e pai nos dias de hoje, dividem-se primeiro na parte conceptual e depois na ação focada. Ou seja, primeiro vou refletir sobre o enquadramento destas emoções refletidas e que tiveram esta ressonância alargada, e depois dessa meta-análise vou começar a sugerir algumas micro-ações.
Comecemos por enquadrar, que é como que olhar para o tema de cima.
Perante essa frustração face a uma parentalidade sufocada, há três possíveis acções: 
1. Mudar a realidade externa, a do sistema; 
2. Mudar a minha realidade externa; 
3. Mudar a minha realidade interna.
O ideal é agirmos nos três campos, tendo a noção do tempo que cada um requer na mudança e do que está nas nossas mãos para essa sinergia. 
Vejamos o que implica mudar estes três campos: 
1. Mudar o sistema demora mais tempo, pois é uma mudança que implica inúmeras variáveis e estatisticamente geralmente demora gerações. Contudo, essa mudança qualitativa é um acumular de pequeninas mudanças, mesmo as mais individuais e aparentemente irrelevantes. Por isso, neste campo, podemos sempre ir fazendo a nossa parte (idealmente de forma consciente), como eu estou aqui a fazer ao escrever este texto. 
Parafraseando Madre Teresa de Calcutá: “o que eu faço é uma gota no oceano, mas sem essa gota o oceano era menor”.
2. Mudar a minha realidade demora igualmente bastante tempo. Muito menos tempo que mudar a realidade dum sistema, mas ao mesmo tempo com um peso maior nos meus ombros.
Neste ponto gostaria apenas de recordar uma metáfora importante a reter: “o importante não é o destino mas sim o caminho”. 
3. Mudar a minha realidade interna, comparativamente e em termos relativos, demora menos tempo. Mas é igualmente um desafio duma vida. Mudarmo-nos por dentro, apesar de ser algo que acontece todos os dias, não é fácil. Todos nós temos padrões internos enraizados na nossa forma de ser, que tendemos a confirmar e não a informar, não só por princípios de economia como igualmente de equilíbrio e auto-subsistência.
A parte positiva deste ponto, é que está mais nas nossas mãos que os campos anteriores.
Estamos a terminar a conceptualização. A conceptualização ou enquadramento é algo mais teórico, que puxa a reflexão, e tem sobretudo como objectivo um exercício mental que permite um olhar diferente sobre a realidade.
Intencionalmente, a reflexão usa metáforas, conceitos e não é tão concreta. Trata-se dum exercício mental de abertura.
Conceptualização terminada, vamos começar as acções. Estas sim são mais concretas, fechadas e focadas. Hoje trago-vos apenas uma dica de acção, pois o tema é de tal forma importante e com muita coisa para dizer que vai requerer mais que um texto.
Vejamos assim a dica de acção de hoje, sobre como mudar o mundo interno face à frustração de ser mãe ou pai nos dias de hoje:
1. Culpa
Esta é a grande variável. Se por um lado nos sentimos zangados com o sistema, com o país, com a sociedade, ou com outro conceito macro, o que depois acontece é que essa zanga bate nessa entidade abstracta, que parece mais uma parede impermeável, e volta para trás.
A zanga que volta para trás, ou seja, para dentro, chama-se de culpa.
E a culpa não serve para nada. Ok, precisamos duma dose de sentimentos de culpa para termos um adequado desenvolvimento moral e uma consciência humana mínima, mas nos nossos dias de hoje abusamos mais da culpa do que do açúcar. E a culpa faz bem pior.
Na verdade, a culpa tem uma função. A culpa é uma zanga em matéria bruta, uma emoção primária já em elaboração, que deveria bater cá dentro e transformar-se depois noutra energia, esta de acção para a mudança.
O problema do excesso de culpa é que o sistema bloqueia. A zanga bate na parede e volta para dentro, transforma-se em culpa, e este input repetido transforma-se em quê? Uma coisa que há muito hoje em dia e que se chama burnout (também se pode chamar esgotamento ou depressão).
Como é que a culpa origina depressão?
Simples. A depressão é uma tristeza não manifestada, não elaborada, não digerida. Ou seja, a depressão é uma indigestão de tristeza.
A culpa quando não sai, vai consumindo o interno e transforma-se em tristeza e desilusão. Fico desiludido comigo, por ter falhado.
Por isso: nada de culpas. Não servem para nada. 
Aliás, deitem fora as culpas. Se possível, larguem-nas para o mar num dia de sol. O mar vai dissipa-las. 
E como falar sobre frustração gera frustração, fecho o artigo de hoje com uma frase positiva, para ser este o tom final: 
“Tudo parece impossível até que seja feito”
Nelson Mandela
Estamos no caminho certo. 
Abraço,
Hugo Santos
Psicólogo

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