Como lidar com as birras inexplicáveis do meu filho em 7 passos
Já vos tinha falado aqui sobre as birras que em particular o Daniel tem feito nas últimas semanas. [Nesta fotografia, estava a fazer birra porque queria que o jogo fosse só para ele e a mana dizia que era dos dois e que tinham que partilhar] A verdade é que as birras cá por casa são cíclicas. Há alturas em que são recorrentes, e há outras em que desaparecem por completo. Já tentámos encontrar um padrão e perceber o motivo mas não conseguimos! Falei sobre isso com o Hugo e como sei que este é um tema com que todas as mães e pais se debatem, aqui ficam algumas dicas.
As birras infantis são reacções emocionais intensas de frustração, que a criança manifesta com maior ou menor frequência e duração, e ocorrem de forma mais ou menos racional. A reacção emocional de frustração caracteriza-se por vários comportamentos como manifestação de tristeza e zanga, activação psicomotora e cognição circular ou bloqueada.
Definição à parte, basicamente a birra é algo que todos os pais conhecem nos seus filhos e constitui um verdadeiro teste à capacidade parental de gestão educativa e afectiva.
Assim, como é que eu posso lidar com as birras inesperadas do meu filho?
A seguinte ilustração define o principio a aplicar na gestão da frustração da criança. Ou seja, esta é a equação-base.
A equação tem assim duas variáveis: amor e regras.
Amor define-se pela expressão de afectos, quer através do toque (abraço, por exemplo), das palavras ou da linguagem não verbal (como o sorriso, tom de voz, postura, expressão fácil, entre outros).
Regras definem-se como limites tácitos ou implícitos.
Deste modo, lidar com as birras implica dosear este equilíbrio entre a expressão de afetos e o dizer “não”.
Vejamos como:
Dica 1: avalie a sua frustração
Primeiro avalie como está o seu equilíbrio interno entre o amor e as regras. Se está a tender para um dos lados tenha em conta que a probabilidade é ter de seguida uma contra-resposta no sentido oposto.
Dica 2: comece com amor
A resposta inicial face à frustração deverá ser, regra geral, com os afectos. Recordemos que a criança está a sentir frustração, ou seja, está a vivenciar uma reacção de tristeza e zanga e os seus recursos estão mais bloqueados.
Se a birra é inesperada, quer dizer que o estímulo é interno e deste modo ainda menor é a compreensão da própria criança sobre o que está a acontecer. Os afectos ajudam por defeito a trazer tranquilidade e segurança interna.
Dica 3: lance uma bóia mas não se atire ao mar
Quando inicia com afectos recorde-se da contra-resposta que provavelmente vai ter a seguir: a das regras. Se der muito amor, entrará em desequilíbrio e de seguida tenderá a sentir-se igualmente frustrado(a) e a responder com um “não”, proporcionalmente. É a criança que vai sair da birra, mesmo que seja com a sua ajuda. Mas não fique sem pé.
Dica 4: atenção com o condicionamento pela negativa
Demasiadas vezes observa-se que a criança ganha atenção apenas pela negativa. Neste caso, recebe amor perante a birra. Assim, birra fica associado a amor. Se ela se sente mais carente, faz birra e aí ganha amor.
Dica 5: transmita algumas regras (e tente aplica-las a si também)
Uma regra importante é “se estamos zangados com alguma coisa primeiro respiramos e depois tentamos perceber o que se está a passar”. Esta parte nem sempre é fácil.
Por vezes, depois da primeira regulação com amor, a birra tende a aumentar, pois o gatilho interno não cessou e a tendência da criança é querer receber ainda mais atenção pela negativa pois não está a conseguir auto-regular-se. Neste momento, o importante é equilibrar com a regra.
Dica 6: não misture
A dica mais importante é não misturar. A sequência é amor-regra. A mesma pode ser repetida as vezes que forem necessárias. Mas não se mistura. Ou seja, se eu estiver a dizer: “agora podes respirar para conseguires acalmar-te e depois conversarmos”, estou a definir uma regra. A regra pode-se dizer de forma afectiva, claro, mas o foco é racional e não emocional.
Dica 7: intercale as vezes que for necessário
Então vamos recordar a sequência, na primeira pessoa (Eu) e alternando “meu filho” (proximidade e identificação) com “a criança” (afastamento e reprogramação emocional).
O meu filho tem uma birra inesperada. Eu inicio com amor e abraço-o ou pergunto-lhe o que tem. A criança não consegue perceber o que tem e recebe a expressão de afectos mas a birra mantém-se. Eu inicio a resposta regras e transmito-lhe algo como “agora respira para depois conversarmos sobre o que se está a passar”. Pode haver duas respostas por parte do meu filho:
– A criança que já recebeu afectos e ao sentir-se mais segura e nutrida emocionalmente, já baixou tristeza e zanga e assim consegue ouvir a regra, isto é, aceder melhor ao racional e por isso começa a respirar para baixar ainda mais a birra.
– A criança ao ser retirada atenção aumenta a birra. Quer novamente atenção pela negativa.
Independentemente da resposta, nesse momento eu sou consistente e mantenho a regra. Insisto para que ele continue ou consiga respirar. Neste caso, aguardo mais um pouco para que ele consiga baixar a frustração.
Se ele consegue baixar um pouco, reforço logo o comportamento de auto-regulação e dou afecto (afecto pela positiva face a um comportamento desejado, mesmo que um micro-comportamento).
Se ele não consegue, faço retirada de regra e aplico só afectos, ajudando na auto-regulação com indicadores positivos e didácticos como “eu gosto muito de ti”, “sei que estás zangado”, “às vezes ficamos zangados”, “não faz mal, isso vai passar”.
Passo assim a uma afectividade com estímulos de ajuda, aumentando o suporte. E as sequências repetem-se, como referi, as vezes que forem necessárias.
Deixo-vos assim algumas dicas. Boa aplicação das mesmas 🙂
Abraço,
Hugo Santos, Psicólogo