Banalidades

A menina da cadeira de rodas

No Verão passado, quando estávamos de férias, havia na praia uma menina de cadeira de rodas. Era uma menina cuja idade era dificil de adivinhar, mas que provavelmente estaria na casa dos vinte anos. Ia todos os dias com a família para a praia, deixavam a cadeira de rodas “estacionada” no final do passadiço (como nós fazíamos com os carrinhos de bebé), e um senhor que devia ser o pai, leváva-a ao colo até à toalha. Montavam sempre o chapéu e as toalhas o mais próximo possível da água, numa zona alta, de forma a que ela pudesse ver o que se passava em redor. E passavam ali o dia. Ela lia, observava o movimento da praia em Agosto, comia, dormia… sempre com boa cara, com um ar bem disposto. A familia fazia o mesmo… cada um nas suas rotinas, passavam por ali os dias. Esta menina andava numa cadeira de rodas, porque tinha os membros atrofiados. Pareceu-me fruto de uma má formação de nascença ou eventualmente de alguma patologia grave em bebé, mas era uma menina cujo tronco tinha as dimensões normais, mas os braços e pernas não… eram muito magros, nada desenvolvidos e sem força.
 
Vi esta menina ser carregada ao colo dia após dia, e houve um dia, em que ficámos até mais tarde, a ver o Pôr do Sol, e éramos só nós, as gaivotas, e a familia da menina da cadeira de rodas.
 
Penso nela muitas vezes, e acho que desde as férias, que tinha aqui uma anotação para escrever sobre ela, mas só hoje o fiz. Penso nela, porque admiro a força com que lidava com o que considero ser uma das verdadeiras adversidades da vida. Admirei durante aqueles dias, a força da menina, que estava na praia com um ar bem disposto, e que poderia entregar-se à sua limitação física, e não reagir, mas reagiu. Sabe-se lá à custa de quanto sofrimento, mas escolheu viver feliz!
 
Hoje, sinto-me particularmente desanimada. As últimas semanas têm sido muito dificeis, este fim de semana adoecemos todos, as noites têm sido péssimas, a creche fechou na 5ª feira passada e hoje (o que dificulta e muito as rotinas!). A exaustão tende a deixar-me negativa e desanimada, e hoje, estou particularmente em baixo. Sinto acima de tudo, que preciso de parar. Preciso de férias. Preciso de respirar, de desligar, de “fugir”. Previsão para que haja férias? Não há! Só na segunda metade de Agosto, e isso ainda me desanima mais.
 
Mas de repente, enquanto batalhava com a minha mente para me concentrar no trabalho, veio-me à cabeça a imagem da menina. A imagem da menina, de cabelos compridos encaracolados castanhos claros, ao vento, com o Sol a bater na cara, sentada na toalha, com as pernas dobradas para trás e as mãos apoiadas na toalha, a olhar o mar ao pôr do Sol, ficou-me gravada na mente. E lembrei-me, que há coisas, muito piores, do que o cansaço…

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