Banalidades

Adeus chucha?

Entre a Carolina e o Daniel, ele sempre foi o mais chuchão. Ainda tinha pouco mais de 24 horas, na incubadora a fazer fototerapia, e já tinha uma chucha, que lhe deram no hospital, que parecia quase do tamanho da cabeça! E se a da Carolina passava o tempo pousada na cama, a do Daniel rapidamente começou a ficar na boca por bastante tempo sem cair.
Com o passar do tempo, foi sendo sempre ele o que mais precisava da chucha. Não adormecia sem ela, acordava a chorar se a deixasse cair, e já mais crescido, quando a chucha deixou de sair de casa, era sempre o primeiro a subir a escada para ir buscar a chucha à cama quando chegava a casa ao final do dia.
Neste momento, de uma forma imprevista, aparentemente está a deixar a chucha. Desde 5.ª feira que dorme chucha. As chuchas dele, em silicone, ficaram todas com buracos, porque ele as mordeu. Na 5.ª feira foi a última resistente que sofreu um golpe, e em lágrimas, veio de chucha na mão ter comigo a dizer que esta também tinha buracos. Temos imensas chuchas em casa, e havia uma nova, de outra cor mas igualzinha, ainda por abrir. Fui buscá-la, abri a embalagem e dei-lha. Os olhos brilharam de felicidade, pô-la na boca, mas uns segundos depois tirou-a e disse que esta chucha cheira mal. Experimentou todas as chuchas que tinha no quarto, dele e da irmã, e entre as que tinham buracos e que decidiu deitar para o lixo, e as que não tinham mas que eram quase todas de borracha, nenhuma lhe serviu. A nova, de silicone, também não o convenceu, e como a irmã a experimentou e gostou, acabou por lhe dizer que lha dava. 
O resultado é que desde então que está sem chucha. Dorme mal, muito agitado e choroso, pede a chucha várias vezes, choraminga que quer a chucha dele mas que tem buracos com um olhar suplicante virado para mim que me parte o coração, mas tem andado sem chucha. 
Hoje, ao acordar, saiu da cama, veio para o meu colo, deu-me um beijinho de bom dia e logo de seguida disse-me muito baixinho ao ouvido: “Mamã eu quia a minha chucha…”. Sentei-o ao colo e perguntei-lhe se queria que eu lhe comprasse uma chucha nova, verde, igual à que ele tinha. Respondeu-me que queria, mas que as novas cheiram mal. Eu disse que lhe podia ferver a chucha, e que o cheiro saía, se ele quisesse… e ele pediu-me para o fazer. Com um olhar triste, derrotado, sofredor. 
Neste momento estou numa dualidade de sentimentos. Entre deixá-lo sofrer e aproveitar para o convencer a passar definitivamente sem a chucha, ou comprar uma chucha verde nova, ferve-la e fazer com que fique mais tranquilo e aconchegado com a sua chucha, mesmo que apenas para dormir. Na racionalidade já decidi que vou aproveitar para que deixe a chucha, mas na perspectiva de mãe que vê o filho sofrer, estou quase decidida a comprar uma chucha nova e deixá-lo enroscar ao meu colo de chucha na boca, com aquele ar consolado com que fica, a respirar fundo com a sensação de que nada no mundo o vai atingir enquanto estiver assim.
[Repararam que nas últimas três fotos a chucha é sempre a mesma, mas o tamanho parece completamente diferente? Assim se vê o quanto este rapaz era minúsculo, e o que cresceu!]

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