Banalidades

As tradições valem o que valem, e provavelmente, as da próxima geração não serão as nossas!

Quando eu era miúda, só se falava de Halloween nas aulas de Inglês. Viam-se uns desenhos animados do Scooby Doo com episódios especiais, uns filmes em que faziam lanternas de abóboras, e as crianças andavam pelas casas dos vizinhos a pedir doces: “doçura ou travessura”. Nunca me interessei especialmente pelo tema nem nunca pedi doces aos vizinhos. Na zona onde vivia e há 37 anos atrás não se celebrava o Halloween.

Em vez disso celebrávamos o Carnaval! Era uma época do ano que tinha tanto de alegria e diversão como de coisas que até determinada idade me assustavam. Por exemplo sempre morri de medo de apanhar com ovos, e nunca apanhei nenhum! Desde miúda que sonhava com os bailes de Carnaval da Sociedade Nova. “Toda a gente” ia mas eu não. Os meus pais não me deixavam porque era muito nova, eles não iam e não achavam que eu devesse ir. Até que lá para os 13 ou 14 anos, lá consegui que me deixassem ir, a foi aí que tudo começou! O grupo com quem me mascarava fazia 4 fatos por ano! Era assim a tradição. Íamos ao baile com fatos diferentes todos os dias! Fomos de fita métrica, de rebuçado, de havaiana, de colgate, de crunch, de pai natal, de pirata, de malboro, de signo… e de mais uma infinidade de coisas diferentes que já tenho dificuldade em recordar. Passávamos muitas horas de agulha e linha em riste, a cozer e descozer, a cortar e recortar, a colar, a montar, a conceber, mas tínhamos sempre fatos muito bem conseguidos. Havia uma certa tradição em ir para o baile da sociedade nova, e a coisa tinha regras. O pessoal das Quintas não se mascarava com o pessoal do Bairro Novo, mas se por exemplo aparecesse alguém de fora, era disputado pelos grupos e ganhava aquele que tivesse mais amigos. A entrada no baile era sempre um momento alto,  nunca acontecia antes da 1 da manhã e implicava subirmos ao palco para mostrar os fatos aos presentes. O Carlos [Vocalista do Grupo de Baile, cuja formação original se encarregou durante alguns anos dos Bailes de Carnaval do Seixal] suspendia a música por uns breves minutos durante os quais apenas se ouvia a percussão. [Lembro-me como se fosse hoje]. Quando já tínhamos estado no palco tempo suficiente, retomava-se a música: “Se a canoa não virá… ” e lá prosseguia a noite de folia! Terminávamos sempre a comprar bolos quentes numa fábrica, e a comê-los, já com o sol a nascer, enquanto nos desmaquilhávamos, na casinha do quintal da minha avó. Guardo muito boas recordações destes tempos, e nunca até ter filhos, percebi o quanto me foram úteis e as aprendizagens que dali retirei. Mas voltemos ao Halloween.

Rendi-me ao Halloween pela primeira vez no ano passado. Não gosto da data, não acho que tenha nada a ver com o nosso país e as nossas tradições e não sou das pessoas que gosta particularmente de tradições importadas pelo que, nunca celebrei esta data. Em miúda comia broas dos santos que a minha avó me dava num saquinho de pano feito por ela, e que não eram mais do que o Pão por Deus. Só que, no ano passado, com a mudança de escola do Daniel e da Carolina e com a iniciação das aulas de Inglês, o Halloween entrou-nos em casa. Da escola foi-nos pedido que os levássemos mascarados nesse dia [foram assim], e do LIDL veio um desafio para preparar uma decoração de jantar de Halloween em casa! Acabámos por nos divertir e os miúdos adoraram, mas não fez com que passasse a simpatizar mais com a data. Só que este ano, lá nos voltou a surgir o pedido de crianças mascaradas, e se para a Carolina foi fácil de resolver, para o Daniel nem por isso!
Se no ano passado o Daniel se satisfez com o primeiro fato que lhe propus, este ano não foi assim tão simples e os gostos do rapaz foram bem decididos. Morcego! Queria mascarar-se de morcego! Só que, após várias missivas pelas mais diversas lojas possíveis e imaginárias, não havia morcegos à venda, e restou-me resolver o problema da velha maneira, arregaçando as mangas e fazendo um fato!
Numa das saídas em busca de fato, fui parar ao Montijo, à afamada Loja do Helder. Era lá que tinha depositado todas as minhas esperanças, mas nem ali, num mundo de fatos e acessórios, consegui encontrar o que procurava. Acabei por sair de lá com 1 metro de tecido preto esponjoso, com o qual na manhã de domingo me entretive a costurar. Não fiz moldes, mas fiz um esboço do que queria, chamei-o, tirei as medidas que precisava e deitei mãos à obra. O tecido é óptimo para trabalhar, e o resultado [tenho que confessar] surpreendeu-me pela positiva! Afinal, tantos anos de Carnaval a fazer 4 fatos diferentes todos os anos tinham que dar frutos! Só precisei do tecido, agulha e linha, tesoura, fita métrica, 1 caneta e 1 CD. Desenhei o que queria, e cozi! Juntei-lhe umas leggins pretas da irmã e fiquei com um super morcego assustador e feliz!

 

A Carolina escolheu uma bruxa e consegui um fato de uma amiga com uma filha mais crescida super giro e completamente diferente do que se encontra na esmagadora maioria das lojas nesta altura do ano. Por isso, para ela só precisei de umas collants, vassoura e maquilhagem e voilá! 

[Fato Eureka Kids; Vassoura Loja do Helder]
Estavam os dois mesmo muito felizes, foram para a escola de vassoura, porque a Carolina deu boleia ao mano, que não conseguiu levantar vôo com as suas asas de morcego!

Chegaram a casa super felizes e super cansados, afinal, andar por aí um dia todo a voar tem muito que se lhe diga!! E só por isso, vale todo o trabalho que tive a preparar o Halloween, mesmo sem gostar da data. Porque a felicidade dos nossos filhos, vale ouro!

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