Banalidades

Com o coração a sair pela boca

Acontece hoje, no período da manhã, a primeira deslocação do Daniel e da Carolina, em autocarro, com a escola. Vão a Lisboa, assistir a uma peça de teatro. Já sei desta saída há algumas semanas, e tenho vindo a digerir a questão, mas ontem ao final do dia comecei a sentir o coração a querer sair pela boca. E se acham que se deve à saída em si, desenganem-se. Deve-se pura e simplesmente ao autocarro. 

Desde que soube desta saída que tenho andado a marinar a deslocação de autocarro. Fiz várias perguntas a esse respeito na escola, e até ontem, a resposta foi sempre que o autocarro em si não tem cadeirinhas auto, mas cintos de 3 apoios [idênticos aos que usamos no carros], e que o transporte de crianças a partir dos 3 anos, desta forma, é regular. 
Não me convenceu. Pensei vezes sem conta no assunto, e não consegui ficar certa de que esta fosse a melhor solução, a que garante que tudo vai correr bem e que faz o transporte dos meus filhos em segurança. Se no meu carro eles são obrigados a ter uma cadeira auto homologada, e sou eu que vou ao volante, e vão super protegidos por todos os sistemas de protecção que o carro tem, porque raio num autocarro com 20 ou 30 anos [como são se calhar 99% dos autocarros que circulam neste país] podem ir apenas sentados com o cinto posto?
Fiz uma consulta à Prevenção Rodoviária Portuguesa, mas não obtive resposta em tempo útil [assim que a receber esclareço tudo num novo post]. Por isso, face ao que pesquisei e ao que pensei, e face à possibilidade, que coloquei, de não os deixar ir, mesmo que deixando-os em lágrimas, pois a excitação de saberem que tinham uma saída com a escola de autocarro é mais do que muita, tomei uma decisão. Hoje de manhã, levávamos crianças e cadeiras, e colocávamos as nossas cadeiras nos bancos do autocarro. Assim, ficava garantido que os meus filhos iam de facto ser transportados com segurança.
À chegada à escola, e enquanto tentávamos saber qual era o autocarro em que ia a sala deles, acabámos por ser informados que afinal os cintos que o autocarro tem, são apenas de dois apoios, tipo avião, pelo que não permitem a instalação de cadeiras de tipo 1 ou 2, mas apenas de assentos elevatórios. 
Foi preciso em poucos segundos reagir a esta notícia e tomar decisões. Se por um lado a minha consciência me dizia para recusar e impedir os meus filhos de saírem nestas condições, por outro lado, tinha-os super excitados, de mochila com o lanchinho às costas, a conversarem com os amigos sobre a ida a Lisboa de autocarro. Olhámos um para o outro, e deixámos que fossem assim, sentados no banco do autocarro com um cinto com apenas dois apoios. Tal como todos os outros meninos vão. 
Saí da escola com o coração já fora da boca, completamente aos saltos nas minhas mãos. Conduzi até ao trabalho em modo piloto automático, sem saber exactamente o que estava a fazer, e apenas a seguir o curso normal da vida. Cheguei, sentei-me e vi o que tinha para fazer. Comecei a ler um documento, mas em poucos segundos percebi que não o estava realmente a ler. Estava apenas a percorrer letras com os olhos. Não me consigo concentrar e tudo o que consigo pensar, é que fui irresponsável por não ter tido a coragem de tomar uma decisão diferente.

Segundo este artigo da DECO, publicado no Verão passado:

“Existe uma lacuna na lei que permite que autocarros com cintos de dois pontos de fixação, subabdominais, transportem crianças, mas para este tipo de cinto não existem cadeiras homologadas.”
Para mim, em última análise, o que está em causa é a segurança das crianças. Pouco me importa se os argumentos assentam numa lacuna na lei ou no que quer que seja. Quando se trata de crianças, para mim, NUNCA se deve facilitar, NUNCA se deve confiar, NUNCA se deve entregar a sorte ao acaso. E se hoje a minha decisão foi esta, até Junho, altura em que começa a praia escolar, garantidamente terá que haver outra capacidade de resposta, caso contrário os meus filhos não vão à praia escolar. 
E não me venham dizer que nunca aconteceu nada e que fazem isto há muitos anos, e que nós nos anos 80 nem tínhamos cinto. Pode ser tudo verdade, mas se acontecer alguma coisa, é dos meus filhos que se trata, e não estou disposta a colocá-los em risco. [Agora por favor, que cheguem as 13h depressa, porque preciso de telefonar para a escola e ouvir dizer que estão seguros na sala deles].

6 Comments

  • Ana Inês Rico

    Olá Sara. Sou educadora e trabalgo num JI em Setúbal. Realmente os autocarros que tenham cinto de 2 fixações não podem levar banco nem cadeira, era mais perigoso porque em caso de acidente a criança podia escorregar pela folga do cinto por estar lá banco. Se o autocarro tivesse cintos de 3 fixações, ai sim, tinham de usar cadeira ou banco, para o cinto ficar no sitio certo no corpo da criança e nao a magoar em caso de acidente.

  • Ana Inês Rico

    Olá Sara. Sou educadora e trabalgo num JI em Setúbal. Realmente os autocarros que tenham cinto de 2 fixações não podem levar banco nem cadeira, era mais perigoso porque em caso de acidente a criança podia escorregar pela folga do cinto por estar lá banco. Se o autocarro tivesse cintos de 3 fixações, ai sim, tinham de usar cadeira ou banco, para o cinto ficar no sitio certo no corpo da criança e nao a magoar em caso de acidente.

  • Lena

    Tecnicamente sei pouco, mas pelo que questionei e muito investiguei em situação idêntica fiquei a saber que com cintos de 2 pontos devem viajar sem qualquer cadeira ou acento elevatório; apesar de ser mais seguro viajar com cadeira própria e cintos de 3 pontos, de facto eles também viajam seguros com os cintos de 2 pontos.

    Podes ter sorte, ou a escola ter autocarro próprio, mas em época de praia é muito difícil encontrar autocarros com cintos de 3 pontos … são milhares de autocarros requisitados para Junho e Julho para transporte de crianças e às vezes nem sequer é o mesmo a ir e vir, nem a fazer o serviço todos os dias.

    Eu sei, é uma angustia… mas aprendemos a viver com isso! Impedi-los de ir é pior, tendo em conta a probabilidade real de acontecer algum acidente com estes autocarros (que têm motorista formado especificamente em transporte escolar, assim como têm que ter um determinado nº de adultos a viajar as crianças).

  • Diana Rodrigues

    Compreendo-te perfeitamente. Passei pelo mesmo à pouco tempo.
    Na 1ª saída foram à Quinta Pedagógica, dividiram os meninos em grupos e foram na carrinha da instituição com cadeirinhas. Na 2ª saída foram ao cinema e iam todas as salas, aí já foram de autocarro tal como acontecerá quando chegar a época de praia. Não consegui concentrar-me nem pensar em mais nada enquanto não tive notícias de que tinham chegado à escola bem.

  • Monika

    Compreendo-a perfeitamente e lutei na escola da minha filha, em Faro, sobre este assunto e ainda continuo a lutar, embora agora com 4 anos e altura de 1m05 fique mais descansada que possa ir desde que em autocarro com cinto de 3 pontos e com banco elevatório. Desde os 2 anos que luto para que aquela escola tenha bancos elevatórios com costas nos autocarros. Disseram-me que se os tivessem, não poderiam ocupar todos os bancos do transporte, pois apenas cabe uma cadeira por cada 2 bancos. Nessa altura, contactei a APSI (que sugiro que o faça para ter um resumo da legislação e sentir-se apoiada) e de facto não aconselham que crianças menores de 3 anos façam saídas de autocarros, mesmo com cintos de 3 pontos e banco elevatório. A partir dos 3 anos, a legislação permite o transporte de crianças em bancos elevatórios e com cintos de 3 pontos, porém o cinto ao passar em frente do peito, poderá, em caso de travagem, lesionar a criança gravemente na traqueia/pescoço/clavicula, pelo que no caso da escola da minha filha, põem-lhe o cinto peitoral por trás do braço logo trava apenas na zona superior da barriga. Lutámos durante 2 anos para que a escola tivesse as condições de transporte adequado e permitisse que as crianças fossem todas em segurança e não tivesse que levar separadamente a minha filha aos locais, como aconteceu várias vezes desde que ela tinha 2 anos. Conseguimos, que adquirissem bancos para todos os bancos do autocarro. Não conseguimos, porém, que deixassem de levar crianças de 2 e 3 anos no autocarro para saídas que não lhe dão a segurança necessária. Continue e queremos lá saber como era antes em 19 e troca o passo. São os nossos filhos e por alguma razão começou-se a legislar o transporte de crianças.

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