Crónica #6 | Como ensinar o altruísmo ao meu filho ou filha?
Cada vez mais vemos crianças que têm dificuldade em partilhar. Cada vez mais estamos rodeados de adultos egoístas. É mesmo neste mundo que queremos viver? Cabe-nos a nós enquanto pais, educar os nossos filhos para o altruísmo, pois é uma das virtudes que vamos orgulhar-nos de ver que adquirem e que lhes irá facilitar a vida no futuro, tornando-os adultos com uma resiliência superior. Hoje, o nosso psicologo.pt lança-nos um desafio! Eu já estou a pensar sobre o assunto, pensem também, e se sentirem que vos faz sentido, escrevam-nos sobre isto! Estamos cá para vos ouvir!
Enquadramento
A inteligência emocional é um conceito que surgiu mais expressivamente nos anos 80, com Gardner, e que desde então até hoje tem sido crescentemente valorizada. Contudo, ainda há um longo trabalho a fazer na promoção e desenvolvimento desta área das emoções. Por isso, aqui fica o meu contributo.
Começo por definir o que é a inteligência emocional (i.e.). A i.e. é a capacidade de 3 operações:
1. Identificar as minhas próprias emoções;
2. Identificar as emoções do outro;
3. Agir em conformidade com 1. e 2.;
Assim, dentro da teoria da Inteligência Emocional, o altruísmo é uma operação de segundo grau. Passo a explicar.
O altruísmo é a capacidade de agir voluntariamente para benefício do outro. Neste sentido, ser-se altruísta implica não só as 3 operações base da i.e., como igualmente uma quarta operação:
4. Escolher agir em benefício do outro, priorizando as emoções deste.
Mas no que é que isto é importante para as crianças? A fundamentação e resposta está relacionado com a vulnerabilidade a ultrapassar.
Vulnerabilidade
A criança, por um lado, em termos cognitivos e do desenvolvimento é tendencialmente mais egocêntrica. Assim o deve de ser pois está a aprender a ser ela própria e a construir a sua identidade e existência. Contudo, desde cedo é importante que seja estimulada a ver o outro e até a agir em conformidade com o benefício do outro, o tal altruísmo.
E porquê? Por duas razões:
A primeira é que infelizmente tendemos a ser muito protecionistas com as crianças hoje em dia. Por medos e culpas dos pais, os filhos, demasiadas vezes, crescem num mundo à parte, em nada ajustado à realidade.
Em segundo lugar, alguém muito auto-centrado tende significativamente a ser infeliz porque simplesmente o mundo lhe passa ao lado e vive numa constante insatisfação à volta do seu umbigo e sem compreender o outro.
Estratégia
Posto isto, vamos lá à parte prática. Como é que posso então estimular o altruísmo do meu filho ou filha?
Bem, desta vez não vos vou dar simples dicas mas vou começar por um desafio. E continuaremos a falar deste tema noutro dia, porque é demasiado complexo para ficarmos por aqui. Assim, convido-vos a refletirem sobre estas duas questões:
Questão 1. Como é que eu, pai ou mãe e enquanto pessoa, sou altruísta com os outros?
Questão 2. Como é que eu, pai ou mãe e enquanto pessoa, me permito ter tempo para as operações 1, 2 e 3 da Inteligência Emocional?
Não se preocupem em respostas muito elaboradas e despachadas. Estamos a falar de emoções. As emoções sentem-se, com o tempo que for preciso.
Por isso, como ensinar o altruísmo a uma criança? Começando pelo altruísmo e pelas emoções em nós, adultos.
O resto virá depois.
Bem-haja,
Hugo Santos
Psicólogo – Psicoterapeuta
www.psicologo.pt
Na semana passada falámos sobre arrumação e desarrumação aqui. Se não leram não deixem de o fazer que vale mesmo a pena! E se têm dúvidas, questões, temas que gostassem de ver aqui abordados, é só dizer! Queremos o vosso contributo!