O reflexo do nosso humor nos nossos filhos
É indiscutível que o nosso estado de espírito, enquanto pais, afecta grandemente o estado de espírito dos nossos filhos. Desde muito pequeninos que o Daniel e a Carolina nos mostraram que assim era. Se um de nós estava ansioso ou preocupado com alguma coisa isso reflectia-se no comportamento deles. Cresceram e hoje com quase 7 anos continuamos a notar o reflexo do nosso humor nos nossos filhos.
Não consigo pensar em nenhuma necessidade da infância tão intensa como a necessidade de proteção de um pai – Sigmund Feud
Grande parte das vezes, pais irritados revelam falta de auto-controlo no que respeita às emoções. Quem nunca perdeu a cabeça em dada altura que atire a primeira pedra. A estratégia que devemos tentar adoptar é treinar a tomada de consciência destas situações e conseguir evita-las, ou seja, treinar o auto-controlo. Se nós nos descontrolamos vamos invariavelmente ver o reflexo do nosso humor nos nossos filhos.
Facto: A dificuldade de um adulto que é tido como referência em gerir as suas emoções, gera um efeito negativo no desenvolvimento cognitivo e emocional dos filhos.
Um exemplo muito comum em todas as casas com crianças são os gritos. Independentemente da causa, gritar transmite violência e tem um efeito negativo nas crianças. Até aos 3 anos são mais vulneráveis a este tipo de emoções, o que não quer dizer que a partir dessa idade lhes seja indiferente.
Nesta fase, o Daniel, por exemplo, fica muito afectado se me descontrolo e grito. A sua reacção de defesa é tapar os ouvidos e pedir-me que pare de gritar porque o assusto. Nas vezes em que isso acontece esta atitude dele é o meu gatilho para me aperceber de que perdi o controlo.
De forma global, quando os pais perdem o controlo e os filhos se sentem afectados pelo seu comportamento, tendem a culpabilizar-se, a sentir-se responsáveis pelo acontecimento que o causou. E não há nada pior do que uma criança a sentir-se responsável pela falta de controlo emocional de um adulto. Mais uma vez, vamos ter que lidar com o reflexo do nosso humor nos nossos filhos.
Para me treinar neste campo costumo pensar: “É isto que queres que o teu filho sinta? É assim que queres que ele se recorde de ti?” A resposta a que chego é sempre a mesma: Não!
Por norma os pais agirem de forma impulsiva e pouco controlada transmite um grau de insegurança enorme aos seus filhos. As crianças crescem nesse registo e isso vai gerar angustia, stress e afectar de forma significativa a formação da sua personalidade. Dentro de algum tempo teremos uma criança insegura, com poucas capacidades de sociabilização, instável perante as responsabilidades e em fim de linha com problemas de aprendizagem.
Os adultos mais próximos são normalmente as figuras que se assumem como exemplo para as crianças – os pais são os que surgem claramente em primeiro lugar. De forma inconsciente, as crianças imitam os comportamentos dos pais, que entendem como certos, sejam eles positivos ou negativos. Não há numa criança a habilidade de seleccionar quais os comportamentos que são bons para imitar e quais os que são para descartar. Se uma criança se habitua a ter pais “rabugentos” o mais natural é que assuma que “ser rabugento” é um modo de vida, se uma criança cresce com pais que gritam, para ela será natural gritar.
Crianças com este perfil, vão facilmente transformar-se em crianças conflituosas, com dificuldade de reagir perante as adversidades, negativas, ansiosas e inseguras.
Para além da vida familiar, isso irá reflectir-se na escola. A capacidade de concentração e de aprendizagem decai se a criança não se sentir capaz de lidar com os desafios que lhe vão surgir no dia a dia. No momento em que a escola se tornar em mais uma fonte de ansiedade, seja porque não se consegue concentrar, porque tem dificuldade em sociabilizar ou porque se sente incapaz de cumprir as tarefas que lhe são propostas, a criança perde a capacidade de tirar proveito do que poderia aprender.
A melhor ferramenta que podemos dar aos nossos filhos é estarmos lá para eles, seguros de nós, controlados, capazes de os apoiar sem julgar. Esta é a maneira de criamos filhos com competências de autoconfiança desenvolvidas.
Não há receitas a seguir nesta matéria. Há dias em que conseguimos e há outros em que simplesmente não temos essa capacidade e vamos perder o controlo. E está tudo bem, porque perder o controlo também faz parte. Importante mesmo, é termos essa consciência e fazermos tudo por trabalhar em nós aquilo que queremos reflectir nos nossos filhos.
No dia a dia, para além deste treino de auto-controlo, há pequenas coisas que podemos fazer para “caminhar de mãos dadas” com estes conceitos. Fortalecer o vínculo que estabelecemos com os nossos filhos é sem dúvida a base de tudo isto.
Para nós, há duas coisas que tentamos fazer com o Daniel e a Carolina e que sentimos que trazem resultados no que respeita ao fortalecimento do vínculo pais- filhos. A primeira é conversar com eles sobre tudo. De forma mais crua ou mais suave, dependendo do tema, pomos o jogo na mesa e fazemos com que sintam que são uma peça importante das decisões da família. Isto faz com que não só confiem em nós, como criem o hábito de dialogar, o que numa fase mais avançada de crescimento pode ser muito importante para sabermos o que se passa na vida deles. A segunda é tentar encontrar tempo para todos os membros da família. Embora a maior parte do tempo que temos livre seja passada em família, é importante que haja também tempo para estar em casal, e tempo para cada um estar consigo mesmo. Nem sempre é fácil, mas temos que tentar e sem culpa! Para eles também é importante perceberem que os pais precisam de sair só os dois para namorar, ou que o pai precisa de sair para andar de bicicleta e a mãe para fazer uma aula de pilates. Devemos encontrar actividades que promovam tempo para cada um de nós e assumi-las abertamente e sem culpa.
Não há nada que seja mais importante para um pai ou uma mãe do que saber que os seus filhos são felizes. Para isso, só podemos tentar muni-los das melhores ferramentas que temos ao nosso dispor através do exemplo que lhes damos. E se vamos mesmo ter que lidar com o reflexo do nosso humor nos nossos filhos, que esse reflexo seja positivo!
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