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Como gerir a frustração gerada pela comparação entre irmãos?

Hoje retomamos a nossa rubrica de Psicologia. Este ano temos andado com dificuldades em manter a regularidade, mas estamos a trabalhar para retomar um ritmo que seja exequível para nós e que vos traga temas novos com alguma frequência. Há inúmeras coisas que podem afectar o comportamento dos nossos filhos. Já falámos por exemplo do humor dos pais, e esta semana vamos abordar um tema que foi colocado por mim enquanto mãe. De que forma podemos gerir a frustração gerada pela comparação entre irmãos?

Como estamos de férias, o mais relevante e impactante emocionalmente é mesmo a parte sublinhada: a tristeza sentida na comparação com o irmão.

Assim, vou sugerir algumas estratégias de análise e ação, que se resumem a 3 pontos:

  1. A comparação não é algo a evitar, mas sim algo a modelar
  2. A estratégia que os pais usaram é a mais comum mas tem limitações
  3. É importante também comer a sopa

A comparação

Comparar é algo natural e serve como bitola e medidor da realidade. Aliás, estamos constantemente a medir e a comparar: hoje comparado com ontem e amanhã, bom dia ou boa tarde, sol ou chuva, feliz ou triste, sucesso ou insucesso, etc.

Aqui a estratégia não é necessariamente evitar porque comparar é tão forte que é difícil fazê-lo.

Assim, o que se pode fazer, é ensinar a comparar (e sobretudo por modelagem, como vamos ver no ponto 3).

Na comparação há 3 truques:

  1. Comparação intra-individual
  2. Valor relativo e valor absoluto
  3. Diferentes perspectivas

A comparação intra-individual é quando a pessoa se compara consigo própria e não apenas com os outros.

Ou seja, tendencialmente um aluno compara a sua nota com a dos outros colegas, e esquece de se comparar consigo próprio, com a nota que teve anteriormente.

Assim, podemos estimular uma comparação individual transmitindo o valor que competir connosco próprios pode ser uma forma saudável de crescimento e evolução.

Por outro lado, não interessam apenas as notas em valor absoluto. O valor relativo, ou seja, a subida duma nota onde se tinha mais dificuldade, por exemplo, é algo a elogiar e a promover.

Por fim, é importante ter vários critérios de avaliação e classificação. Apesar da escola não ensinar isso porque a este nível está claramente desatualizada, há competências que cada vez mais são socialmente valorizadas, como a inteligência emocional, a criatividade, o happiness, a empatia ou a consciência. E estou apenas a falar de algumas das mais debatidas recentemente na sociedade em geral.

Deixo-vos um exemplo para leitura:

A estratégia mais comum

De forma tendencial quando se está perante sentimentos negativos como a tristeza ou a frustração a estratégias mais comum é contrariar essa sensação.

É algo natural reagirmos assim pois temos empatia e ficamos angustiados (de coração apertado) se vimos alguém chorar, por exemplo.

Eu costumo dizer em consultório, face aos pacientes adultos, que os psicólogos são das poucas pessoas que ficam felizes quando vêm alguém chorar.

Na verdade, ficar triste é tão saudável como ficar feliz, e é essencial existir tanto um como o outro.

Acrescento mesmo, que chorar é dos melhores antidepressivos que há.

O pior é quando se engole ou se nega essa sensação, como socialmente vamos aprendendo desde crianças.

E este facto é ainda mais alarmante face aos dados da OMS – Organização Mundial de Saúde que estimaram existir mais de 300 milhões de pessoas com depressão a nível mundial.

Comer a sopa

Uma das ideias que digo com frequência e que aprendi logo em adolescente quando estava a ser monitor de colónias de férias, é que quando se diz a uma criança para comer a sopa, é fundamental que o cuidador também coma a sopa.

Ou seja, a modelagem ou a aprendizagem vicariante é uma das formas mais importantes e poderosas de se ensinar.

Assim, quando a Sara fica triste e frustrada e diz “não fomos bem sucedidos”, a minha estratégia não seria para “tentar que ela conseguisse dissociar esse sentimento, que conseguisse aceitar que o desempenho que tem é bom é que não se sentisse inferior”, mas que leia esta crónica e que coma a sopa 😊

Bem-haja.

Abraço,

Hugo Santos, Psicólogo

www.hugosantos.pt

www.psicologo.pt

O que vos parecem as estratégias propostas pelo Hugo para gerir a frustração gerada pela comparação entre irmãos?

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