Considerações sobre a vida!
Li um texto à pouco, no blog da Lénia que me tocou de uma forma particular. Revi-me no que ali estava escrito. Escrevi um comentário no post, mas percebi ao reler, que isto tinha que ser passado para um post aqui. Porque pode haver por aí quem precise de ler estas palavras, quem se reveja, quem se identifique. Aqui fica!
(Texto copiado daqui: http://agatachristie.blogs.sapo.pt/o-divorcio-224860)
“
Um dia, uma amiga disse-me que o pior de tudo no divórcio tinha sido a sensação de falhanço. Não a percebi, na altura. Mas percebo-a agora. O fim de um casamento não é só o fim de um casamento. É o fim de um projecto de vida. Um projecto que era para sempre. Que incluía filhos e netos, tios e primas, sobrinhos e afilhados. Que incluía férias no Algarve e sonhar com uma casa no campo. Que incluia o colchão que comprámos a pensar no modo como os nossos corpos se encaixam, o candeeiro que escolhemos juntos, o tapete de que um de nós nunca gostou. Que metia os amigos ao barulho e as festas que planeávamos fazer e as conversas que tínhamos. Que metia gargalhadas e discussões. Projectos de trabalho, lutas a travar, promoções e contrariedades. Rotinas. Idas ao supermercado. Sopas. Roupa por estender. Colos. Coisas boas e coisas más. Memórias que se acumulam. Envelhecer de mão dada. Cuidar um do outro. Um casamento não é só um papel que se assina. É uma vida que se constrói todos os dias a dois (e a mais). Por isso quando um casamento acaba não é só o casamento que acaba. É a vida tal como a conhecemos que acaba. E começa de outra maneira. Com um tapete novo. Com outro colchão. Sem aqueles primos. Sem aquela rotina. Com outros sonhos. Talvez outro amor. Por isso, mesmo quando temos a certeza que é o divórcio que queremos. Mesmo quando o afecto já se foi. Mesmo quando há rancores que nos corroem. Mesmo quando sabemos que estamos a dar o passo certo, o passo que nos vai fazer bem, o único passo a dar. Mesmo assim (ou, talvez, sobretudo aí) perguntamo-nos como foi possível acreditar tanto e, afinal, estar tão errada. Como foi possível perder tanto tempo e desperdiçar tantos sonhos. Como foi possível investir tanto, querer tanto. E não conseguir. É que não foi um mero engano, uma coisa de nada. Foi um erro do tamanho de uma vida. Um falhanço, como quando se erra um golo de baliza aberta. Estava ali tudo e no entanto.
No dia em que fui assinar o meu divórcio não tirei os óculos escuros. Chorei o tempo todo. A senhora a ler aquelas coisas todas, o nosso nome, a morada, a casa, o carro, o número do cartão de cidadão, papéis intermináveis para assinar, a senhora a perguntar se eu queria mesmo divorciar-me e não bastou eu acenar com a cabeça, tem que dizer em voz alta, disse ela, e eu disse numa voz sumida, sim, quero, como tinha feito para casar, sim, quero, são as mesmas palavras, mas desta vez eu estava de óculos escuros e a chorar. Não era um chorar de tristeza. Essa já tinha passado, há muito. Era o chorar de quem se confronta com o seu falhanço. Total. Era um chorar de vazio. De quem perdeu o chão e agora vai ter de começar de novo. Tudo de novo. Ou quase tudo.
Outra vida. A mesma vida, que é a nossa.”
No dia em que fui assinar o meu divórcio não tirei os óculos escuros. Chorei o tempo todo. A senhora a ler aquelas coisas todas, o nosso nome, a morada, a casa, o carro, o número do cartão de cidadão, papéis intermináveis para assinar, a senhora a perguntar se eu queria mesmo divorciar-me e não bastou eu acenar com a cabeça, tem que dizer em voz alta, disse ela, e eu disse numa voz sumida, sim, quero, como tinha feito para casar, sim, quero, são as mesmas palavras, mas desta vez eu estava de óculos escuros e a chorar. Não era um chorar de tristeza. Essa já tinha passado, há muito. Era o chorar de quem se confronta com o seu falhanço. Total. Era um chorar de vazio. De quem perdeu o chão e agora vai ter de começar de novo. Tudo de novo. Ou quase tudo.
Outra vida. A mesma vida, que é a nossa.”
Revejo-me em cada palavra! Passaram 6 anos desde o dia em que assinei o papel. Também engoli em seco, e apesar de ter a certeza absoluta de que era o que queria, chorei. Não no momento, que aí fiz-me de forte, mas depois, sózinha, no carro, em casa, e no comboio a caminho de um fim de semana longe de casa com uma grande amiga que me quis dar colo. É um momento que não há palavras que consigam descrever. A sensação é de completo falhanço. Deitar para trás das costas planos, sonhos, projectos, e formalizar a saída de uma pessoa da nossa vida. Na conservatória, depois de oficializada a coisa, a senhora que tratou de tudo despediu-se com um:
” – Muito gosto! Até à próxima!”
“Até à próxima!? – Apetece-me berrar-lhe? – Está a gozar com a minha cara!?”
” – Muito gosto! Até à próxima!”
“Até à próxima!? – Apetece-me berrar-lhe? – Está a gozar com a minha cara!?”
6 anos passados, a minha vida reconstruiu-se, voltei a casar, tive filhos e sei que é esta a vida que estava reservada para mim! Estou feliz! Não me arrependo de nada, porque acredito que tudo fez parte de um caminho que construí, e que me conduziu onde estou hoje. E por isso, valeu a pena!