Banalidades

Crianças diferentes

[Fotografia com 5 anos, tirada no dia em que fez 1 ano] 

Tenho um irmão que é diferente. Não tem nada de especial mas fruto de uma herança genética complicada, tem tido um desenvolvimento mais lento do que é “normal” nas crianças. É um miúdo doce, meigo, inteligente, mas tem dificuldade em exprimir-se, e isso, nem sempre é fácil de gerir. Mas como devemos nós reagir perante uma criança com dificuldades? Como devemos ensinar os nossos filhos a gerirem estas diferenças?

Os meus filhos sempre conheceram o tio com sendo um dos seus melhores amigos. Sempre estiveram do lado dele, sempre o entenderam, mesmo quando nós adultos sentíamos dificuldades em entender o que nos queria dizer. A diferença de 2 anos que os separa faz com que se vejam quase como irmãos. Há um instinto de protecção uns dos outros que os une de forma incondicional, e agora que não se vêem todos os dias, sentem a falta uns dos outros. 
Já houve uma fase em que entre os três conversavam, e depois um deles fazia uma espécie de tradução simultânea que punha os adultos a par do que queriam ou decidiam. Hoje já não acontece, e cada um fala por si, e na eventualidade de surgir alguma dificuldade, um dos outros corre em auxílio. Os meus filhos lidam bem com isso, mas há crianças que não o sabem fazer. Há crianças que mesmo que sem maldade, quando não conseguem comunicar com o outro, erguem uma barreira em sua defesa. 
Este ano, o meu irmão sentiu na pele as consequências de estar durante as primeiras duas semanas de aulas integrado numa turma de crianças que foram conduzidas por uma professora que não soube lidar com as dificuldades de comunicação. Que não soube explicar aos restantes alunos, que as formas que ele tinha de se exprimir eram diferentes daquelas a que eles estavam habituados. Essa incapacidade da professora, reflectiu-se na atitude dos restantes meninos, que sem saberem como reagir, foram ao encontro do que sentiram que era correcto, por cópia do que viam ou apreendiam do exemplo mais próximo – a professora. O que poderia ter sido uma coisa muito grave, foi travado a tempo, com uma mudança de escola. Mesmo a tempo, a situação inverteu, e hoje, a escola deixou de ser um ambiente hostil para ele. Mas e se não tivesse sido possível reverter todo este processo traumático?
[Fotografia tirada em Agosto, nos dias em que passaram férias os três juntos]
No ano passado, os meus filhos tinham como colega de sala no colégio, um menino que é surdo. Por não conseguir ouvir, também não consegue falar. Emite sons, mas construir palavras, ou frases, é muito complicado. A comunicação com as crianças da sua idade era a sua maior barreira, e com frequência se revoltava porque não conseguia que os amigos o entendessem. Muitas vezes tive os meus filhos a chegarem a casa relatando situações em que havia discussões e castigos com origem na falta de comunicação e da consequente falta de compreensão do que este menino queria. E claro, da dificuldade em gerir estes problemas por parte dos colegas, que de idades próximas e sem capacidade de entender a diferença, o punham de parte. Por saberem como lidar com as dificuldades de comunicação, para os meus filhos era natural que fossem amigos dele na mesma, mesmo quando ele se zangava porque não o conseguiam entender. Mesmo quando todos os outros meninos o punham de parte por não conseguirem comunicar com ele. Mas ficavam tristes, e diziam-no em casa: “Ele zanga-se puque não conseguimos saber o que ele diz, mas ele é amigo na mesma…
A verdade é que se calhar a maioria dos adultos de hoje tem dificuldade em lidar com crianças diferentes. Porque é difícil, porque é desafiante, porque dá trabalho e exige esforço. Mas não nos podemos esquecer que se o fazemos assim, os nossos filhos farão igual. E se aquela criança diferente fosse o nosso filho? 
O mais fácil perante uma dificuldade é ignorar. O mais fácil perante uma situação com que não sabemos lidar, é fazer de conta que ela não existe. Mas é a nós pais, que nos cabe o papel de ensinar os nossos filhos que não é o caminho mais fácil aquele que devemos escolher. Nunca, ou quase nunca é esse o caminho que devemos seguir. 
Hoje deparei-me com este texto escrito por uma mãe que tem um filho com autismo [cliquem no link para ler] que me emocionou imenso, e acho que transmite exactamente o que devemos tentar nunca esquecer, o que devemos tentar nunca deixar de passar aos nossos filhos. Os valores, as atitudes, a forma como lidamos com as situações difíceis. É isso que os vai transformar em adultos com personalidade, com valores, com integridade. 

One Comment

  • Isa

    Ainda há pouca tolerância e sensibilidade para a diferença, para a deficiência. As pessoas deixam de ser vistas como pessoas. É desde pequenino que se educa para a diferença, para o respeito pelo outro, para a integração! Beijinhos e que corra bem com o teu irmão, pode avançar mais devagar, mas avança!

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