Crónica #11 | Hoje falhei com o meu filho
Enquanto pais, teremos certamente muitas situações em que sentimos que falhamos com os nossos filhos. Seja qual for a causa que conduz à falha, a verdade é que ela é natural e temos que aprender a gerir a frustração que nos causa a nós e aos nossos filhos.
Esta semana vamos falar sobre expectativas e a gestão de frustração face aos filhos.
Primeiro temos a regra: as promessas que os pais fazem aos filhos são para cumprir. Esta é uma premissa mais aceite na generalidade dos pais e educadores. Depois temos a excepção: as falhas acontecem, e são naturais, e até são boas oportunidades de proximidade e partilha. Contudo, eu opto por abordar o tema refutando a regra: as promessas não são para se cumprir. As promessas são intenções e não expectativas deterministas.
Passo agora á argumentação.
Vivemos num mundo em constante mudança. Sempre foi assim. A mudança é uma constante. Contudo, a velocidade dos acontecimentos é muito mais rápida nos tempos de hoje. A vida é muito mais cheia de coisas e acontecimentos do que era há 50 anos atrás.
Com esta mudança velocidade, a previsibilidade também mudou, o que implicou uma evolução duma competência humana: a capacidade de adaptação.
Alguns pilares das gerações dos actuais pais caíram. Os aprendizados como o casamento é para sempre, o emprego é para sempre, o melhor é ter casa própria, vou viver perto dos meus pais, espero ter uma carreira na mesma empresa, o estudar dá garantias dum bom futuro, entre outros, são crenças que foram tombando ao longo dos tempos, com grande custo para quem viveu a mudança pelo confronto abrupto com a realidade.
Assim, se por um lado é importante que as crianças cresçam com solidez, rotinas e relações de confiança, também é importante que cresçam com a realidade, a capacidade de adaptação, de mudança, de negociação, de gestão da frustração e expectativas, com resiliência, e com capacidade de retirar o positivo das situações.
Neste sentido, eu reformularia a regra dos pais para: vou tentar não fazer promessas, mas sim exprimir intenções e acordos. Promessas só para algo muito profundo e sólido, como prometo amar-te para sempre.
Regra dois: quando expressar intenções e expectativas, vou criar um plano A e um plano B. Um exemplo da aplicação da regra reformulada e da regra dois: “eu hoje gostava de te ir buscar mais cedo à escola. Espero conseguir isso. Mas se não conseguir o que vamos fazer para compensar esta frustração de ambos?”
Assim é bem mais simples.
Nesta sequência, experimente planear com o seu filho um plano de contingências, como “se hoje tivermos menos tempo em conjunto então jogamos a um quizz os dois antes de deitar, ou no fim de semana vamos fazer um programa em conjunto”.
Sobretudo não tenha medo de errar. Pelo contrário: erre. O erro é uma óptima oportunidade de aprendizagem, evolução, crescimento e mudança.
Termino parafraseando Bento de Jesus Caraça:
“Se não receio o erro é porque estou sempre pronto a corrigi-lo”.
Abraço,
Hugo Santos
Psicólogo – Psicoterapeuta
A última crónica foi sobre o medo e sobre como podemos ajudar os nossos filhos a lidar com ele. Podem ler tudo aqui.