# Crónica 3 de 2018 | Supernanny: o que é que tem de mal e de positivo este programa televisivo?

Na semana passada abordámos o limite da exposição dos nossos filhos. Tema controverso, que acima de tudo depende de cada um de nós decidir, mas que tem sido sobejamente discutido graças ao recente programa de televisão Supernanny. Mas afinal, será o programa assim tão mau? Pessoalmente continuo sem o ver, porque a verdade é que não vejo televisão e muito menos reality shows. Não sou contra a exposição, sou contra a humilhação. Ninguém em circunstância alguma merece ser humilhado, e na verdade, os pais também o têm sido com todo este processo e o que ele gerou e ainda está a gerar.
A SuperNanny continua a dar que falar e ainda no passado Domingo o programa bateu recordes de audiência nacional. Em paralelo o debate continua, com alguns excessos dispensáveis mas colocando algumas questões relevantes no centro das atenções e este último ponto é um fenómeno bem-vindo e uma mais valia para todos nós.
Como poderão ter reparado na crónica da semana passada, nem sequer coloquei o tag Supernanny no título da mesma, pois quando há muita confusão ou emotividade nalgum debate tento não pôr lenha na fogueira e até dar-me tempo para ouvir os vários pontos de vista antes de elaborar a minha opinião final.
Hoje escrevo sobre o tema, identificando-o, apenas por uma razão: acho que têm sido polarizadas várias questões e posições, e têm sido ditos até muitos disparates. Por isso, clarifico algumas ideias sobre o programa de forma simples e tranquila.
1. O que é que está de mal no programa Supernanny?
A questão central que falhou no programa foi uma: a exposição humilhante das crianças.
Muito se tem falado sobre o direito à imagem e à vida privada das crianças, como um direito inadiável e inalienável, como qualquer pessoa o tem, mas que no caso dos menores trata-se dum direito altamente protegido pelas convenções, cartas, diplomas, entre outros, pela defesa dos mais frágeis e dos nossos filhos.
Este ponto é altamente importante porque socialmente foi uma conquista ao longo da história e ainda continua a ser, a defesa do superior interesse da criança.
Contudo, a exposição de uma criança na televisão ou nas redes sociais não é algo por si só negativa. A exposição por si só não é nem boa nem má. E a sua dimensão não se avalia pelas audiências.
A questão é a exposição humilhante da criança. E neste caso, uma exposição com grande audiência. Mas se fosse a exposição humilhante duma criança por um professor no meio da turma, ou a exposição humilhante dos pais junto a outros familiares, era também algo negativo e criticável.
2. O que é que o programa Supernanny tem de positivo?
Humilhar é uma prática condenável, não só por não ser pedagógica, como pelo contrário, representar um mau trato à dignidade da pessoa. Isso inclui não só humilhar a criança, como igualmente os pais. E neste programa é isso que vemos: pais cansados e a sentirem-se humilhados e desesperados, e por isso a pedirem ajuda.
Igualmente crianças que não estão bem e que só conseguem mostrar a frustração e as birras, humilhando os pais e humilhando-se a si mesmos.
Falar sobre isto, sobre a parentalidade, as dificuldades que as famílias têm, é algo que este programa trouxe de muito positivo. Se já evoluímos em defender os direitos da criança, e com muito orgulho pela nossa sociedade vi as entidades a reagirem em defesa dos menores, continuamos obsoletos a condenar os pais. Já evoluímos um bocadinho porque (aparentemente) não condenamos só as mães. Já dizemos “pais”. Mas a culpa é o pior erro pedagógico de todos.
O Supernanny mostrou uma carência de programas pedagógicos, onde pais, crianças, famílias, profissionais, possam aprender, trocar experiências, reconhecer e validar práticas, estratégias, metodologias, sobre como gerir o dia-a-dia duma família.
Humilhar crianças e pais, e polarizar os pró-crianças vs os pró-pais não é claramente a resposta a esta carência.
Está agora nas nossas mãos (continuar a) procurar outras soluções.
Afinal, é para isso que estamos aqui 🙂
Escola para Pais
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