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# Crónica 4 de 2018 | Como gerir o ciúme entre irmãos quando um está doente e o outro tem que ir para a escola?

Quase duas semanas depois do último texto, consigo finalmente sentar-me e trazer-vos um texto sobre o tema mais actual desta família! A verdade é que quando temos mais do que um filho, sejam gémeos ou não, quando adoece o primeiro há uma forte probabilidade de adoecer o segundo de seguida. Considero-me uma sortuda, porque até hoje agora isso aconteceu pouquíssimas  vezes, mas desta vez, lá acabou por acontecer. A primeira a adoecer foi a Carolina, e o Daniel foi ao colégio sem ela. Nesses dias, começámos a notar comportamentos típicos de quem queria chamar a atenção, nitidamente porque tinha ciúmes da atenção que a irmã estava a ter. Quando adoeceu ele também, as atenções tiveram que começar a ser repartidas, mas a verdade é que estando ambos doentes e por isso mais fracos nem sequer sentiram. Mas e quando adoece apenas um, como é que devemos gerir o ciúme?
Os ciúmes fazem parte e até são positivos, se em pequenas doses e enquadrados numa interacção afetiva. Isso aplica-se tanto a graúdos como a crianças. Se o ciúme é recorrente e se repete vezes e mais vezes, então é porque são o sintoma de algo, e geralmente de insegurança. 
Resolver a insegurança é mais difícil que resolver o ciúme, porque enquanto o ciúme é uma reacção emocional, a insegurança é uma distorção cognitiva ou mesmo uma crença. 
Por isso, hoje vamos falar do ciúme entre irmãos, e mais em concreto quando um está doente e o outro tem que ir para a escola. 
Para esta situação, aqui ficam 4 dicas: 
1. Regressão 
Os momentos regressivos, ou seja, onde a criança começa a ter comportamentos mais infantis do que estava a ter ou que são habituais na sua idade, fazem parte do crescimento e são fases, quer durem 5 minutos, quer 5 semanas. Ocorrem quando nasce um irmão ou quando há uma outra mudança que gera insegurança. Por isso, não há problema que ocorram. Está feito o enquadramento. 
2. Regras 
Mesmo não havendo problema e sendo natural, terá que haver as chamadas regras e limites. Ou seja, eu tenho um dos meus filhos com uma crise de ciumeira e a fazer fita e eu até percebo que isso faz parte, que a regressão é natural, que ele está a expressar a sua insegurança e dessa forma a enfrentar a sua frustração, mas a minha tolerância tem um limite, um q.b. 
Há uma linha que separa o “está ok” do “já chega” e o ideal é que entre o verde e o vermelho haja um laranja, para não se passar do sorriso compreensivo e empático para o tom de voz alterado e o castigo quase a sair. 
3. Atenção pela positiva 
Uma estratégia importante e resulta, é a da atenção pela positiva, quer para o filhote “vítima” do ciúme, quer para o filhote doente. Aqui recebem os dois o mesmo remédio. A ideia é dar tarefas e objetivos, mesmo que micro, e valorizar as pequenas conquistas. 
Assim, valorizar o não doente pelo papel de cuidador, ficando responsável de falar com a professora da escola, trazer os TPC e explicar aos colegas. 
O filhote doente tem como papel o de se cuidar, devendo agasalhar-se, recordar o que vai comer, a que horas é a medicação, escrever num papel a febre, etc. 
4. Prevenção 
No meio disto tudo, estamos a esquecer-nos das estratégias de prevenção e cuidados dos pais. Com esta gestão acrescida e a dobrar, o stress aumenta e as defesas físicas e emocionais baixam. Assim, para que o adulto também se recorde de cuidar dele próprio, o que nem sempre acontece, é importante que se recorde que também tem de comer, beber água, respirar e ter pequenas pausas. 
Estes são momentos difíceis e estar doente, ficar com inseguranças e ciúmes, ou ter que gerir duas crises ao mesmo tempo, vai exigir de todos. Mas recordem-se que são exatamente estes desafios que nos fazem ficar mais fortes, crescer e ficar ainda mais unidos e ligados aos que nos são próximos. 
E por fim: melhoras, para todos 😉 
Abraço, 

Hugo Santos, Psicólogo 

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