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Crónica #8 | Crianças diferentes

Crianças


Escrevi este texto há uns meses atrás, numa altura em que estava desiludida com a forma como algumas pessoas com papéis preponderantes no sistema de ensino Português lidam com crianças que por um motivo ou por outro têm dificuldades de aprendizagem. Deste texto surgiram entretanto muitas conversas entre amigos, e um dia destes, discuti o tema com o Hugo. Decidimos por isso que era um tema a abordar nas crónicas semanais. A forma como nós adultos lidamos com a diferença nem sempre é fácil. Quando se trata de uma criança diferente, não só influencia grandemente a forma como essa criança interpreta o que os adultos representam para si, como influencia as atitudes das outras crianças perante a diferença. Não é um tema fácil, mas exige a nossa reflexão. Compete-nos ensinar aos nossos filhos que lidar com a diferença pode até ser bastante simples.

As crianças diferentes (Altruísmo, parte 2) 
Há umas semanas atrás falámos sobre a importância de educar os nossos filhos para o altruísmo [Podem ser a crónica aqui]. Apresentámos, então, fundamentos e argumentos neste sentido. Nessa mesma rubrica começámos a definir estratégias sobre como estimular o altruísmo, tendo sugerido um olhar inicial para dentro, por parte dos adultos.
Nessa mesma sequência, hoje iremos falar sobre as crianças diferentes, e o modo como elas nos poderão ensinar igualmente a ser diferentes e melhores. Começo por definir o que são crianças diferentes.
No rigor do conceito, todas as crianças são diferentes porque não há uma criança igual à outra. Mesmo dois gémeos homozigóticos, que partilham a mesma carga genética, são diferentes em dezenas e centenas de aspetos. Assim, o primeiro conceito a definir é que sentido absoluto do termo todas as crianças são diferentes.
Depois há o sentido relativo, onde aí entra a comparação e a estatística. Aqui, crianças diferentes são aquelas que se diferenciam estatisticamente da média, ou seja, que apresentam características que as colocam numa ponta na curva normal, quer por excesso, quer por defeito. Deste modo, tanto é diferente uma criança com uma deficiência física ou um atraso no desenvolvimento, como é outra que é rotulada como sobredotada ou com grande competência numa área.
Perante esta conceptualização, coloco assim a pergunta: como poderei promover o altruísmo do meu filho ou filha na sua relação e interação com as crianças diferentes?
Aqui vão algumas dicas:
Dica 1: ensine-lhe que ele também é diferente e único, que não há ninguém no mundo igual a ele, nem nunca houve, e mostre-lhe que isso é das maiores belezas do ser humano: sermos todos especiais e originais de nós mesmos.
Dica 2: mostre-lhe que o respeita na sua diferença e unicidade, que não só lhe permite espaço para essa originalidade, como igualmente o incentiva a se recriar e poder ser ele próprio.
Dica 3: por outro lado, demonstre-lhe que mesmo sendo diferente, ele tem necessidades iguais às outras crianças, e que duas crianças mesmo de extremos opostos do mundo sentem as mesmas coisas em muitos aspetos, ou pensam o mesmo, mesmo sendo muito diferentes culturalmente e espacialmente uma da outra. 
Dica 4: o mais importante, revele-lhe que também a mãe ou o pai são diferentes e são iguais. E fale um pouco sobre isso e como isso foi sendo gerido e vivido por si ao longo do tempo.
Dica 4: promova esse conhecimento, respeito e aceitação pela igualdade e pela diferença nas relações com outros pares, com outras crianças, conversando em primeiro lugar sobre o que a criança lhe traz para casa, da escola ou das interações com os colegas e amigos.
Dica 5: estimule contactos diferentes com diferentes crianças, mostrando a forma de sentir e agir do seu filho e dos outros, e reforçando a compreensão das diferenças e igualdades.
Dica 6: ensine-lhe como se pode ajudar um colega ou amigo que se sente diferente, e ajude o seu filho ou filha a fazê-lo, nas mais pequenas coisas, e de forma repetida.
Dica 7: estimule a cooperação e não apenas a competição, e mostre ao seu filho as vantagens de se cooperar.
Dica 8: mostre-lhe como não pensarmos só em nós, mas igualmente pensarmos nos outros e fazermos algo por eles, nos faz sentir melhores e nos faz crescer por dentro. Que cada vez que ajudamos ou respeitamos alguém, estamos igualmente e automaticamente a ajudarmo-nos a sentir-nos mais fortes e felizes.
Dica 9: acima de tudo, seja um modelo para o seu filho ou filha de respeito, altruísmo, bondade e força. Mais do que por palavras, eles aprendem observando a mãe e o pai.
Bem-haja,
Hugo Santos
Psicólogo – Psicoterapeuta
Crianças

Na semana passada falámos sobre a fronteira entre a descoberta e a violência sexual na infância. Um tema delicado que a mim pessoalmente me preocupa. Podem ler a crónica aqui. Queremos saber quais são os temas, dúvidas, questões que gostariam de ver aqui discutidos. Enviem-nos o vosso contributo.

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