Da merda de vida! (Perdoem-me a expressão!)
Depois do dia de ontem, com os dois em casa, o Daniel a recuperar da otite, a Carolina a arder em febre e com uma tosse terrível, a noite não ajudou!
Pouco depois da meia noite, resolvi ir para cima, ver como eles estavam e enfiar-me na cama à espera que o marido chegasse do trabalho. Comecei a arrumar as coisas, e ouvi a Carolina desatar a chorar desalmadamente. Fui a correr e encontrei-a sentada na cama, com um ataque de tosse fortíssimo, a chorar de aflição. Pediu-me colo, que eu dei de imediato e levei-a para a minha cama. Dei-lhe uma colher de xarope, aconcheguei-a em mim, e tentei que acalmasse a respiração. Demorou, mas lá começou a acalmar, e devagarinho foi fechando os olhos e cedendo ao sono.
Quando já estava a dormir, ouvi um grito do Daniel, tosse, ouvi-o engasgado e a chorar de aflição. Dei um salto da cama e corri para o quarto deles. Encontrei o Daniel em pé, agarrado às grades da cama e literalmente coberto de vómito. Cara, cabelo, corpo da cabeça aos pés, lençóis, edredões, almofada, grades da cama, chão… tudo! Peguei nele ao colo (enchendo-me de vómito também a mim!) e levei-o para o meu quarto. Por esta altura já a Carolina tinha voltado a acordar assustada e chorava sentada na minha cama. Fui sentar-me ao lado dela, com o Daniel ao colo, e antes de mais nada, tentei acalmar os dois. A Carolina chorava assustada com o acordar repentino, o Daniel chorava assustado porque se engasgou e tomou banho em vómito, e claro, porque se sentia mal! Fui despindo o Daniel, enquanto lhes ia dizendo que já passou, que a mamã estava ali, que dava miminhos, que não era preciso chorar. O cabelo do Daniel estava ensopado, e exigia banho. O quarto deles tinha que ser todo limpo, a cama mudada, o chão lavado. Entretanto já tinha telefonado ao papá, que veio a correr para casa.
Com a chegada do papá, e mais apoio para os dois, a Carolina acalmou. O Daniel continuava indisposto e chorava sem parar. Foi tomar um banho com o papá, para lavar a cabeça e tirar o cheio a azedo, e enquanto isso, eu fui limpar o quarto todo e mudar a roupa da cama. O Daniel acalmou-se, vestiu roupa lavada, e deitámos os dois na nossa cama a ver desenhos animados, para distrair e tentar deixar o sono voltar. Uma meia hora depois, estavam calminhos e foram para a cama.
Nem 10 minutos tinham passado, quando ouvimos o Daniel a engasgar-se novamente e a chorar. Repetiu-se a cena… Mais vomitado, mais lençóis para trocar, mais Daniel para limpar. A Carolina voltou a acordar assustada, voltou a chorar e a ter ataques de tosse. Voltámos a repetir o ciclo, limpezas, trocas de lençóis, e voltámos a deitá-los conosco, desta vez sem televisão.
Adormeceram os dois ao pé de nós. Levámo-los para a cama ao colo, já a dormir bem. Dormiram o resto da noite… Até cerca das 8h, o que fez uma noite de mais ou menos 5 horas de sono.
Acordaram de manhã com fome. O Daniel aparentemente bem disposto. A Carolina cheia de febre e chorosa. Mamaram, comeram uns pedacinhos de pão, e vieram para o quarto de brincar. Em 5 minutos a Carolina adormeceu em cima de mim. O Daniel adormeceu no chão, passados outros 5 minutos, de rabo empinado. Mudou de sítio e foi apoiar-se no canto da cama, e assim ficou. Consegui deitar a Carolina na cama e fui fazer o mesmo ao Daniel. Nenhum dos dois acordou. Tapei-os, aconcheguei-os e aqui fiquei… A tomar conta dos meus bebés doentes.
Peguei no iPad, mandei mensagem ao Dr. Cabrita, e deparei-me com uma conversa no chat do facebook, entre um grupo de pessoas do qual faço parte. Leio assim:
“Com que cabeça sai de casa uma mãe para trabalhar durante 8 horas deixando um filho de 12 anos doente sozinho em casa e mandando outro de 15 com os mesmos sintomas para a escola? Mesmo sabendo que o mais velho só vai porque não quer faltar à aula de revisões para o teste de físico-química que tem amanhã (depois volta para casa e fica com o irmão) e que o marido vai almoçar com ambos??? Porquê que venho tratar dos filhos dos outros e deixo os meus neste abandono???? Hoje dá-me uma coisinha ruim…”
Sinto um murro no estômago! Digo palavrões para dentro! Que merda de vida é esta? Que prioridades são estas?! Porra! Isto é viver ou sobreviver? Eu ainda posso faltar ao trabalho sempre que estas coisas acontecem, com penalização monetária, ou com dias de férias, mas posso. Mas e quem não pode faz o quê?? Gelo por dentro e não consigo deixar de lançar pragas a este país, às condições de trabalho, às condições (ou falta delas!) de vida. Maldizer o frio, a chuva, o vento, que deixam toda a gente doente! Merda de vida esta!
3 Comments
Titanices
Neste momento os meus rapazes, aqueles de que falas ali em cima estão respectivamente com 39.1º e 38,4º, estou a monitoriza-los à distância e de coração nas mãos… e assim será até cerca das 16.30h. Já nem sei que mais posso eu maldizer por aqui…
Mamã
Merda de vida mesmo 🙁
As melhoras, beijinho.
Marta Lourenço
Anónimo
Que país este onde vivemos onde há cada vez mais velhos e cada vez menos crianças… é um país onde se faltas mais do q duas vezes num mês por teres o filho doente, és dispensada na primeira oportunidade! Ou então vês a tua avaliação descer a pique…. é um país onde atestados por doença de descendentes são vistos como "desculpa para tirar férias" e onde o incentivo para que os miúdos vão à escola doentes é escabroso: mais do que 3 dias em casa e já têm de levar atestado do médico. E lá vai o pai ou a mãe ter de faltar mais uma manhã para ir ao centro de Saude buscar um atestado para o patrão…
Por isso há cada vez mais miudos doentes…porque a maior parte dos pais não pode faltar ao trabalho, porque não têm outro suporte familiar e lá mandam os miudos para os colégios, quando deviam era ficar em casa até ficarem bons.
Enfim….nestes dias dou Graças a Deus, por poder ficar com as minhas sempre que elas precisam (e a Matilde esteve internada o ano passado cerca de 15 dias ao todo).
Mas revolta-me! Revolta-me morar num pais de velhos onde ter filhos é cada vez mais "coisa de rico"!
Um beijinho e as melhoras da Carolina e do Daniel!