Banalidades

# Dicas para mães | A autorregulação dos pais

Há dias ouvi na televisão um anúncio, cujo produto anunciado nem sequer fixei, onde foi usada uma frase que me ficou a ecoar na mente. “Sabia que as crianças ouvem a palavra não em média cerca de 100 vezes por dia?“. Fiquei a pensar nisso.
Nas últimas semanas o Daniel tem passado novamente por uma fase de birras completamente imprevisíveis e muitas das vezes inexplicáveis. Temos tentado perceber o que é o “gatilho” destas birras, o que é que o faz mudar de comportamento de um segundo para o outro, e a verdade é que provavelmente na maioria das vezes é o facto de ouvir a palavra “não” que o frustra de algum modo e o faz reagir desta forma.
Basta uma coisa tão simples como pedir para jantar no sofá e eu responder-lhe que não porque vamos comer todos à mesa juntos. Pode estar super bem disposto que nesse exacto momento muda completamente de comportamento e passa a uma birra inimaginável. [E atenção que há dias em que deixo jantar no sofá, mas claro que não o faço todos os dias. Temos por regra jantar juntos, sem televisão nem distracções, em família, e o sofá elimina a partilha que se gera nestes momentos.]
A verdade é que enquanto pais temos o dever de os educar e de os ensinar a viver e muitas vezes acaba por passar um pouco por contrariar o que querem fazer. Mas não será que no meio do dia-a-dia envolvente que temos, do cansaço, do stress e de todos os “problemas” que temos que gerir acabamos por ceder ao “não” mais vezes do que deveríamos?
Mesmo enquanto adultos, se pararmos para nos colocar no lugar dos nossos filhos, não gostamos que nos digam que “não” muitas vezes. Ficamos desiludidos, frustrados, desapontados… mas como somos adultos conseguimos gerir esses sentimentos e não os deixamos afectar o nosso comportamento. Nas crianças isso não acontece. Eles não têm ferramentas de autorregulação desenvolvidas e a única forma que têm de expressar a sua desilusão é fazendo birra.
Mas agora vamos lá pensar em conjunto… como é que contornamos esta situação e encontramos estratégias para usar a palavra “não” menos vezes? Há situações em que não há volta a dar! A palavra faz parte do nosso dicionário e temos mesmo que fazer uso dela, mas podemos tentar evitar os “nãos” mais impulsivos trabalhando a nossa própria autorregulação. Vamos a um exemplo:
Chegamos a casa ao fim do dia, cansados e com pouco tempo para fazer tudo o que há para fazer antes de deitar os miúdos a horas decentes para que acordem bem dispostos na manhã seguinte. Quando estamos com tudo mais ou menos orientado, e o jantar quase pronto. eles entram na cozinha e pedem para ir brincar com Legos. A nossa resposta imediata:
” – Nem pensem em desarrumar isso tudo agora! Vamos jantar que tenho tudo praticamente pronto! Vão arrumar isso e venham!”
A reacção a esta resposta vai ser de frustração. Vai haver argumentação, contra argumentação, talvez gritos e até eventualmente uma caixa de legos pelo ar até ao chão do outro lado da divisão. Acaba numa gritaria, eventualmente numa palmada no rabo e num castigo. Há necessidade disso? Não! Em vez disso, podemos responder pausadamente e com um tom de voz tranquilo:
” – Podem sim. Mas só um bocadinho até o jantar ficar pronto. E depois têm que arrumar tudo novamente no lugar, ok?”
A resposta é diferente para eles e evitamos conflitos desnecessários! Se depois eles cumprem com o prometido e vêem jantar quando os chamamos ou arrumam os legos já é outro problema, mas pelo menos não geramos um conflito no imediato, numa hora em que eles próprios estão cansados e mais facilmente reagem mal.
Muitas vezes nestes processos de negociação o nosso tom de voz é preponderante, e aí sim precisamos muitas vezes de trabalhar a nossa autorregulação. Estamos cansados? Sim estamos, mas não é gritar com eles que nos faz descansar mais e só vai piorar o nosso estado e o deles! Se for necessário, respiramos fundo, fechamos os olhos, vamos até à janela, mas primeiro mantemos a calma! Enquanto pais, precisamos  de treinar esta nossa capacidade. Por nós e pelos nossos filhos.

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