E passear nos telhados à noite?
Jantar de Natal de amigos de longa data cá em casa. Os miúdos estão todos a brincar, as mulheres à lareira a conversar, dois dos homens vão ao terraço fumar. Algum tempo depois, damos por falta da yoga. Corremos a casa toda, abrimos armários, chamámos, gritámos, e nada!
Os homens que foram fumar ao terraço, dizem que ela foi ao terraço, que se roçou nas pernas e voltou para dentro de casa!
Ora… Conhecendo a Yoga, percebi logo que o que aconteceu, foi que ela fingiu que ia para dentro de casa e fugiu para o telhado. E o que é que acontece quando ela foge para o telhado? Fica enfiada dentro de um algeroz qualquer, de um dos prédios que pegam com o nosso, paralisada pelo medo.
E lá fui eu, enfiar-me nos telhados, bem carregadinhos de humidade e musgo, como é característico da zona e da estação do ano, a percorrer algerozes e caleiras, no cimo de um conjunto de cinco prédios de três andares. Um dos homens que tinham ido fumar, resolveu ir comigo. Percebeu que escorregava assim que subiu para as telhas, e resolveu descalçar-se e ir de meias!
Na rua, junto do café do largo, uma dúzia de pessoas olhavam com ar incrédulo para os dois malucos que andavam a percorrer telhados com a luz do iPhone a chamar “yoga yoga” alto e a bom som.
Passado uns 10 minutos de telhado, ouvi muito ao longe um miado assustado. Olhei em volta, avaliei o volume do som que ouço e escolhi para qual dos algerozes ia descer. E tive sorte! Acertei à primeira e enfiei-me no algeroz onde ela estava. Enfiada num canto, debaixo de um monte de teias de aranha, assustada claro, e sem se mexer. Fui ter com ela e apanhei-a para o colo. Tremia como varas verdes e tinha o coração aos pulos. Alternou entre aninhar-se e tentar fugir do colo, mas acabou por acalmar.
Agora tinha que decidir, se ia voltar para casa pelos algerozes para não ter que voltar a subir para o cimo de um telhado escorregadio com uma gata ao colo, ou se subia e voltava pelo mesmo sítio. Decidi que ia pelos algerozes, e que mais simples, era entrar pelo terraço do meu vizinho do lado. Telefonei ao marido, directamente do telhado, e pedi-lhe que fosse bater à porta ao vizinho pedir para me abrir a porta do terraço dele, e me deixar entrar pela casa dele. E lá fui eu, de gata ao colo, pelos algerozes fora, direita ao terraço do vizinho do lado! Quando entrei no terraço já ele estava à minha espera, para me deixar entrar!
Escusado será dizer, que o jovem de meias, que me recomendou centenas de vezes que tivesse cuidado para não cair, se espatifou nas telhas e ficou a gemer. Escusado será ainda de dizer, que os meus vizinhos do lado, que também tinham visitas, foram forçados a interromper o jantar para deixar passar dois malucos e um gato! Felizmente, as visitas eram um casal de amigos da escola secundária, e acabámos todos a rir à gargalhada! Excepto o jovem que se estatelou, que entre a vergonha de ter entrado em casa de pessoas que não conhecia de meias, e as dores, pouco falou!
Coisas da vida, que acontecem e nos fazem rir!