E se as birras dos nossos filhos “falarem” connosco?
Já aqui escrevi várias vezes, sobre as birras que temos enfrentado cá por casa e sobre como temos tentado lidar com elas o melhor possível. A verdade é que todas as crianças passam por uma fase de birras constantes, umas mais do que outras, e umas mais cedo do que outras. Cá em casa, o Daniel começou mais cedo, e com maior representatividade do que a Carolina, que só mais tarde entrou nesse registo e de uma forma mais suave. Mas afinal, porque é que os nossos filhos fazem birras?
Na generalidade dos casos, as birras surgem por volta dos 3 anos. Com esta idade, as crianças começam a ter consciência das suas emoções, e a ter dificuldade em lidar com elas, pois não as compreendem. As birras desta fase podem por vezes tornar-se agressivas, pois é a forma que têm de expressar os sentimentos esquisitos que não entendem.
É por isso, a altura certa para estarmos atentos aos sinais e apoiarmos os nossos filhos o melhor possível, na forma como lidam com os seus sentimentos, e na forma como os exteriorizam. A sua auto-estima está em franca construção, e se não compreendem o que sentem, vão ficar frustrados e desiludidos, e reagir com birras.
Uma coisa que temos tentado com o Daniel, nas situações em que a birra não tem uma causa objectiva, é sentá-lo numa cadeira, normalmente perto de mim [quando estou por exemplo a cozinhar acontece bastante], e deixar que chore o tempo que achar necessário. Regra geral, começa por ficar muito zangado, chora ainda mais, e grita o mais alto que consegue, como forma de me tentar irritar. Eu tento fazer de conta que nada se passa, e continuo a fazer o que estiver a fazer na altura até que ele se acalma e se cala. Quando isto acontece, vou ter com ele, abraço-o, pergunto se já passou e se já está mais calmo. Responde-me sempre que sim, fica uns minutos com a cabeça encostada ao meu peito, e depois conversamos. Tento que me explique o que se passou para originar a birra, tento ajudá-lo a entender que a birra não é solução e que se está frustrado com alguma coisa ou se se sente zangado, deve antes vir ter comigo, conversar sobre o assunto, e pedir-me ajuda. Diz-me que sim e acaba por ali o tema. Com esta abordagem, já consegui travar algumas birras logo no início, quando chego a tempo, e opto por dar logo um abraço e pedir que se acalme, perguntando quem é que perde com as birras. Ele já sabe que quem perde é ele, porque se enerva, fica irritado e a chorar, e não resolve nada.
Com isto, o que quero é que ele aprenda a gerir os sentimentos, e a reagir a eles de forma mais calma. Fazê-lo perceber que a birra não é o caminho que lhe traz mais vantagens. Dar-lhe ferramentas para que sozinho, perceba como deve gerir estes sentimentos.
Também na relação um com o outro é notório que estão mais agressivos. Adoram-se, não se podem perder de vista, não passam um sem o outro, mas se num momento estão tranquilamente a brincar, no momento seguinte, zangam-se por um qualquer motivo, e estão a bater um no outro! E o pior, é que já têm força suficiente para se magoar, embora por vezes não tenham consciência dela!
Um dia destes, num desses episódios, o Daniel deu uma chapada na Carolina. Nós estávamos na cozinha, ouvimos que estavam zangados, e de seguida ouvimos a Carolina a chorar. Como menina que é, se o irmão lhe toca, 90% das vezes, dramatiza e exagera na reacção, mas desta vez, tinha razão! Encostou-se a mim a chorar, fiz-lhe festinhas, dei-lhe beijinhos e abracei-a, e quando se acalmou e afastou a cabeça do meu colo, olhei para ela, e tinha a cara cheia de sangue! O irmão tinha-lhe acertado em cheio no nariz e estava com uma hemorragia nasal. Não era nada do outro mundo, e calmamente, peguei-lhe ao colo, levei-a para a casa de banho, sentei-a na bancada e abri a torneira para a lavar. Olhou para o espelho e entrou em pânico! Viu-se com a cara cheia de sangue e obviamente, assustou-se! Lavámos a cara, e imediatamente parou de sangrar e acalmou. Não foi nada de especial, mas serviu para assustar os dois, ela por se ver a sangrar, e ele por ver o que fez à irmã!
Ainda assim, os resultados foram pouco duradouros, porque depressa se esqueceu e de vez em quando lá acaba por se distrair e bater na irmã! Esta deve ser a maior dificuldade que temos sentido! Fazê-los perceber que não podem bater um no outro! Muitas das vezes, a sensação com que ficamos, é que o fazem por impulso, num momento de zanga, em que perdem o controlo. Ás vezes, antes mesmo de chegarmos ao pé deles, já estão a pedir desculpa um ao outro. Mas o que queremos, é que não o façam! Será isso possível?
Muita da minha inspiração diária na forma como lido com os meus filhos, como já sabem, vem da Magda. Podem ler mais sobre as birras dos três anos aqui.