Ontem o Daniel e a Carolina começaram a praia da escola. Levei muito tempo a digerir isto dentro de mim, e a decidir se eles iam efectivamente fazer praia com a escola. Tomei a decisão com base num único pressuposto, não tinha com quem os deixar se não fossem, e não os ia fazer passar pela violência de ficarem na escola entregues a pessoas com quem não estão habituados a ficar, e muito menos, a verem os amigos a chegar da praia.
Para mim. a praia da escola não é uma coisa que lhes faça falta. Fazemos praia regularmente, e eles não precisam de ir à praia com a escola para terem praia. Sei que para eles é uma diversão tremenda, mas também é um enorme acréscimo no cansaço e confesso que desde que deixaram de dormir a sesta já andam tão cansados, que tudo o que não fazia falta lá por casa era mais cansaço ainda!
Mas, teve que ser. Lá os inscrevemos, e lá foram ontem, de mochila às costas com a toalha e o lanche, já de fato de banho vestido e protector solar aplicado. Muita excitação à mistura com o sono de quem se levantou quase 1 hora mais cedo do que é hábito.
Ontem, primeiro dia de praia do Daniel e da Carolina com a escola, passei a manhã a morrer de vontade de fugir do trabalho para os ir espreitar. Assim ao longe, sem que me vissem. Só para ver como se comportam, como passam a manhã, como as educadoras e auxiliares organizam as coisas.
Durante anos, na minha adolescência, passei parte das férias grandes a ajudar, na altura da praia, no infantário onde eu própria tinha andado em miúda. Regra geral ficava na sala dos 3/4 anos, ou seja, com crianças da idade dos meus filhos. Lembro-me de ver pais aflitos por deixarem os filhos irem para a praia pela primeira vez sem a sua supervisão e de achar ridículo que os pais ficassem naquela ansiedade. Lembro-me que os miúdos eram super obedientes e que as rotinas estavam muito bem instituídas e tudo funcionava na perfeição.
Ainda assim, ontem, morri de vontade de ir espreitar à praia. Assim ao longe, sem que me vissem. Só para ver como se comportam, como passam a manhã, como as educadoras e auxiliares organizam as coisas.
Vou passar os próximos dias com esta vontade. Não sei se algum dia vou ceder e vou mesmo espreitar, mas ontem, não fui! Fiquei a trabalhar, e a pensar no que estariam os meus filhos a fazer, na praia, sem mim.
Quando os fomos buscar, ao final do dia, vinham sujos, cansados mas felizes. Perguntei como tinha corrido a praia, e recebi uma explicação detalhada:
“Fomos no autocarro, chegámos à paia, fomos pá areia, fizémos uma roda, tirámos a toalha da mochiua, estendemos a toalha e sentámos a comer o lanche. Eu comi pão com chourição e iógute do pato mamã! A Ilda patiu o pão pa dar pa duas vezes. Depois fizémos o comboio quando a São disse e fomos à água. Mas a Sofia não foi mamã puque ela potô mau e ficou na toalha de castigo, que a São disse. A água tava muito fia mamã! O Gui até disse que tava memo gelada! Depois fizémos ôta vez um comboio quando a São disse e fomos pá toalha lanchar. E depois de lanchar fizémos ôta vez um comboio e fomos ôta vez pá água. E tava tão fia na mesma mamã! E depois fomos óta vez num comboio pá toalha e depois fomos pó autocarro e fomos embora. Foi só um bocadinho na paia mamã. Viémos embora rápido. Puquê que é só um bocadinho?“
Relatos detalhados do Daniel, super explicado e que gosta de contar todos os pormenores. Hoje já levaram o pão partido em dois, para dar para duas vezes. Em vez de chourição levaram queijo. E em vez de iogurte “do pato” [Danoninho] levaram Bongo. Para variar.
Hoje voltei a não ir espreitar à praia, mas a vontade… essa… continua por cá! E vocês? Já alguém foi para a praia espreitar os filhos ao longe?
One Comment
anaraquel
deixa de ser mãe galinha, pá! não me digas que também vais montar a tenda quando eles fizerem a primeira noite de campo?? é assim que eles crescem e só podemos ficar felizes com isso. 🙂