Banalidades

Fins de semana difíceis

Sexta feira. Apanhar dois miúdos bem dispostos e contentes por ser “fim’semana” e levá-los para casa. Acender a lareira, fazer o jantar enquanto o pai dá os banhos, e fazer planos em família para o fim de semana. 

De um momento para o outro, depois do banho, o Daniel fica silencioso, parado, apático. Pergunta se falta muito para jantar “puque tou canxado“. Acelero as coisas, sento-os à mesa para jantarem. Ela começa a comer, ele fica prostrado em frente ao prato. Não come. Fica parado, com os olhos a quererem fechar. Pede ajuda para comer “puque tou canxado“. Dou-lhe a comida à boca mas come muito pouco. Pede para “i’pá cama já“, pego-lhe ao colo e percebo de imediato. Está a arder em febre. Ponho-lhe o termómetro e leio 38,6ºC. Toma ben-u-ron. Deita-se, adormece, dorme mal, com pesadelos, agitado. Cerca das 2h da manhã vai para a nossa cama a choramingar. Ainda tem febre. Não desceu, não o deixa descansar. Passou o resto da noite na nossa cama. Ninguém dormiu como deve ser.
Acordou no sábado exactamente na mesma. Febre persistente, pouco ou nenhum apetite, sede. Começou a vomitar assim que tentou tomar o pequeno almoço. O pai saiu para comprar brufen para alternar com o ben-u-ron. A manhã de sábado era dedicada a uma festa de Natal que ele adora e pela qual esperava há algumas semanas, e nessa manhã, não sei bem qual foi a dor maior: a de se sentir mal, ou a de ter perdido a festa de Natal do Lego. A irmã foi com o pai, e ele passou a manhã a choramingar e a perguntar-me quando é que eles voltavam, e a dizer que também queria ir à festa. [E eu com vontade de o vestir e de o levar! Coração de mãe sofre!]

  
[Estava de tal forma, que nem a mega caixa de Lego que a irmã lhe trouxe da festa o animou]

Passou o resto do dia todo no mesmo, com febre entre os 38,6ºC e os 39,5ºC, com vómitos regulares, a dormitar em períodos curtos e agitados, a pedir colo, e pedir que lhe desse a mão e “ficax aqui ao pé de mim xempre mamã?

A noite foi muito idêntica à anterior, e de manhã, disse que tinha fome e pediu para beber leite. Tentei dissuadi-lo, dar-lhe outras opções, mas só queria leite. Bebeu “leitinho branquinho num pacote” com o maior prazer do mundo. Não comeu nada, mas pelo menos o leite ficou no estômago. A irmã saiu com o pai para outra festa de Natal, e ele, resignado, ficou encostado a mim no sofá. Não me deixava sair de ao pé dele nem por um minuto, pelo que fiz o almoço às prestações, no momentos em que ele adormecia e eu conseguia fugir sem que acordasse. Pediu-me “canjinha e o resto é franguinho com arroz“. Comeu a canjinha e provou o frango, mas já foi a melhor refeição dos últimos dias e não insisti para que comesse mais. Durante a tarde foi arrebitando mais, e foi comendo pequeninas quantidades de fruta, biscoitos, pão com queijo e bebendo “leitinho branco num pacote” que tanto gosta. Não voltou a ter febre, não voltou a vomitar.

À noite deitou-se e adormeceu na hora. Estava exausto. Acordou cerca das 2h30 a chorar em berros. Foi preciso mais de meia hora para que se acalmasse. Quando finalmente parou de gritar, tentei perceber a causa do choro, e perguntei se estava assustado ou com medo de alguma coisa, se estava a sentir-se mal, se tinha tido um pesadelo… só me souber responder: “Eu não xei mamã, eu não conseguia pará de chorá…“. Adormeceu ao meu lado, de mão dada comigo e a sussurrar que ficasse sempre ao pé dele. Acordou vezes sem conta, sobressaltado, a gemer, a choramingar, e agarrava-se sempre a mim com força. Eram quase 8h quando me perguntou se já era de dia e se podíamos ir tomar o pequeno almoço. Bebeu mais uma vez “leitinho branco num pacote” e um quarto de uma bolinha com queijo, e foi para a escola. 
Ainda não passou 1 minuto sem que eu desejasse tê-lo ao pé de mim, sem que me apetecesse ligar para a escola a perguntar como está, sem que tivesse uma vontade compulsiva de sair a correr e buscá-lo imediatamente. Sintoma de quem raramente tem filhos doentes, de quem está num grau de cansaço atroz e a sentir-se a flutuar e a precisar de um dia inteiro a dormir para tentar recuperar.
Comecei a semana no pior estado físico e psicológico possível. Estou exausta, desanimada, sem forças nem vontade para fazer nada. O que vale, é que esta semana há um feriado!

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