Banalidades

Hoje também quero ser criança…

“…acordar devagarinho, com os raios de sol a entrar pelos cortinados e a acariciar-me a cara com meiguice. Sinto que a minha mãe se aproxima, em silêncio, para me espreitar, e ver se ainda estou a dormir. Faz-me festas na cara, sinto o cheiro e o calor das mãos dela. Oiço-a a falar baixinho… “Sara… acorda filha…”. Espreguiço-me devagar, abro os olhos, e lá está ela a sorrir. Levanto-me e vamos para a cozinha. O papá, que entretanto também já acordou, junta-se a nós. Aos pés da mesa está a Binocas, enroladinha na sua almofada. Ainda é minúscula! Chegou a nossa casa há umas semanas, e adaptou-se imediatamente à família. Sempre adorei animais, e ter uma gatinha bebé tem sido um sonho.
Como torradas e leite com nesquick. O papá e a mamã partilham as torradas comigo mas trocam o nesquick por nescafé. Deve ser coisa de crescido, porque o cheiro não é nada agradável comparado com o da minha caneca! Antes quero o meu leitinho!
Hoje não há Pica Pau. Está fechado. É fim de semana, e dizem que é o Dia da Criança. Dizem que é um dia em que devemos brincar ainda mais! Não sei bem o que isso significa, mas sei que brinco sempre muito!
Depois do pequeno almoço, a mamã arruma tudo num instante, e vamos os três a passear a pé. Levamos um saco com pão duro para dar aos patos! Paramos no jardim, ando de baloiço, de escorrega, de balancé. De seguida quero ir dar o pão aos patos. Encosto-me às pedras que fazem o muro do lago, e vou atirando pedaços de pão lá para dentro. A água do lago é escura e cheira mal! Alguém devia dar banho a estes patos de vez em quando!

Seguimos para junto do rio, e passeamos por ali a ver os barquinhos. Um dia vou andar num daqueles barquinhos! Vejo-os aqui desde sempre e gosto tanto.

Voltamos para casa a pé, e pelo caminho tenho direito de comer um gelado! A máquina de gelados do café central tem os melhores gelados do mundo! São de baunilha e morango, têm um cone de baunilha que adoro comer às dentadinhas quando o gelado acaba. Gosto de ver o gelado a sair da máquina como se fosse de plasticina, e a ficar encavalitado no cimo da baunilha! Se não o comer depressa, ele derrete, e uma vez íamos a pé para casa, e caiu no chão! Fiquei com a baunilha na mão mas fartei-me de chorar porque fiquei sem o meu geladinho.

Quando vamos a meio caminho, sinto-me cansada e peço colinho! A mamã tem a barriga grande porque tem um bebé lá dentro! Vou ter uma mana! Por isso, ela não me pode pegar ao colo. O papá vai dizendo que já sou crescida, mas eu insisto e ele pega-me um bocadinho!

Enquanto a mamã prepara o almoço, o papá vai um bocadinho comigo para o recreio da escola primária para eu andar de triciclo. Fazemos isso muitas vezes, porque a escola é mesmo ao lado da nossa casa, e eu posso andar ali à vontade a brincar. Quando fico cansada, vamos para casa e sento-me no sofá a ver desenhos animados enquanto a mamã acaba de fazer o almoço. Tenho sono. Sinto-me molinha… adormeço. E sonho que já sou crescida, que tenho uma casa minha onde vivemos todos, os pais, os avós, os tios. Brinco muito, todo o dia. Ninguém tem que trabalhar nunca, e só fazemos coisas de que gostamos. E sou feliz!”

Isto fui eu, a recordar a minha infância. Um dos maiores desejos que tenho, é conseguir que os meus filhos sejam tão felizes como eu! Olhando para trás, recordo sempre momentos bons. Vivíamos com muito pouco, mas tínhamos tanto. Que todas as crianças possam um dia ser adultos felizes, com recordações felizes!

Deixo umas fotografias da Carolina e o Daniel, que nunca publiquei. Tinham 4 meses, e estas foram as primeiras fotografias que lhes tiraram com uma boa máquina fotográfica, numa tentativa de sessão fotográfica que correu muito mal!

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