Lamechices de mãe
Ando lamechas. Já me disseram que é da idade, das hormonas, da Primavera, dos poléns, do cansaço ou de outras 1001 coisas que se podem alegar como razão para lamechice. A verdade é que ando lamechas.
Emociono-me quando vejo que alguém que conheço vai ter um bebé, quando vejo fotografias dos meus filhos que goste particularmente, quando vou trabalhar e os deixo na escola sabendo que só os volto a ver ao fim do dia. Dou por mim de lágrima no canto do olho a ver um filme na televisão, ou quando encontro um post sobre alguma coisa que achei que valia a pena registar e de que já não me lembrava. Percorro as pastas de fotos no disco para dar por mim novamente de lágrima no olho a recordar o não muito distante passado em que eles eram assim tão pequeninos.
Hoje vi uma publicação do meu marido no facebook, e o texto que ele escreveu ao publicar a fotografia, e segui para os comentários que lhe tinham feito. O último era da minha mãe, e lá me fez aparecer a lagriminha ao canto do olho.
Fiquei a pensar no tempo que passou desde que eu era da idade dos meus filhos. Nas recordações que tenho dessa idade. Como era feliz! Não havia preocupações, tudo corria bem, os meus pais iam comigo a pé ao parque com frequência, andava num colégio onde me divertia, era filha única, neta única, sobrinha única e era mimada por todos! Não tinha os últimos gritos da moda, nem as bonecas que todas as meninas de 4 anos queriam ter, mas tinha o suficiente para ser feliz. Fiquei a pensar em como a vida passa depressa. Em como quando damos conta, olhamos para trás e… fases que são tão importantes nas nossas vidas… passaram.
Fiquei a pensar que por momentos, me apetecia voltar a ser criança, ir ao Seixal a pé para andar de baloiço, passear pela marginal de mão dada com os meus pais a ver os barcos na baía. A caminho de casa, passar pelo central e comprar um gelado na máquina. Subir pela estrada da praça a lamber o gelado! É de baunilha e morango. O meu favorito. Pelo caminho quase sempre ficava lambuzada até aos cotovelos, porque não conseguia comer tão depressa como deveria para que o gelado não derretesse. Ninguém me ralhava por isso, ninguém me dizia para comer mais depressa. Quando acabava [nas vezes em que o gelado não caía ao chão pelo caminho], limpavam-me o melhor possível e quando chegasse a casa logo tomava banho.
O tempo não volta para trás, e com os meus filhos a pouco menos de um mês de fazerem 4 anos, começo a sentir-me nostálgica com o crescimento. Tenho medo que cresçam tão depressa que a vida não me deixe aproveitá-los. Será que foi o que aconteceu com a minha mãe?