# Life | A vida glamourosa de uma blogger
Nos últimos anos, o mundo dos blogs tem vindo a dar cartas. Se há 10 anos atrás mal se ouvia falar neste novo “meio de comunicação”, hoje é um tipo de imprensa mais lido do que muitas revistas e jornais e que influencia mais os hábitos de consumo do que a maioria dos anúncios em imprensa escrita ou televisão. Vidas cheias de glamour, pessoas que passam os dias as passear, a tirar fotos lindas, a almoçar e jantar em restaurantes da moda, a viajar, a testar novas maquilhagens ou a participar em criação de peças de roupas para marcas conhecidas. Que recebem em casa todo o tipo de produtos de cosmética, roupas, convites para almoçar, jantar, passar férias e não precisam de gastar um cêntimo em nada. Mães sem barriga, sem celulite, sem manchas de bolsado ou ranho nas suas próprias camisolas que só descobrem quando chegam ao escritório, e com filhos sempre aprumadinhos, que não vomitam, não se despenteiam nem dão puns. Mas será que é mesmo assim?
Quando alguém que não me conhece se dirige a mim sabendo que escrevo um blog, vem quase sempre com um meio sorriso, com um olhar meio embaraçado, do género: “ah eu leio o seu blog…” ou “sigo o seu instagram…”, como que com medo que eu seja uma pedante e nem sorria. Enganam-se. Sou uma pessoa como outra qualquer, que tem um trabalho, uma família, uma casa para gerir e todo um dia mega preenchido, e que… em cima disso, escreve um blog! Sorrio sempre, dou dois beijinhos e apresento-me, porque o que conhecem de mim, é apenas o meu lado virtual, e naquele momento, estão a conhecer-me a mim, a Sara, com 39 anos, mãe de gémeos que anda sempre a correr e a quem dizem coisas como “deves ter caído num caldeirão de red bull quando eras pequenina.”
É normal que quando não conhecemos uma pessoa sem ser do mundo virtual tenhamos tendência para criar uma imagem da pessoa, mas a verdade é que pelo menos em 99% das vezes, se conhecermos a pessoa pessoalmente, concluímos que é só uma pessoa… como nós!
Embora por esse mundo fora já haja muito quem viva dos blogs, a verdade é que Portugal não só é muito pequenino, e com muito menos população, como por estar “na cauda” da Europa, geralmente leva mais uns anos a seguir as tendências. Isto para dizer que em Portugal este mundo dos blogs ainda tem muito que crescer. Já se consegue ganhar dinheiro com os blogs, sim, consegue, mas viver disso é outra conversa. Há em Portugal quem o faça, e na minha opinião bem feito, e há também quem o tente fazer e tenha que penar muito para conseguir um trabalho que valha a pena, mas a generalidade da(o)s blogs não dão propriamente um rendimento que permita pagar contas. A grande maioria de nós tem um trabalho, e mata-se para pagar as contas ao fim do mês, e de vez em quando lá surge uma coisa paga no blog que dá um jeitão, porque os miúdos deram um salto e tudo deixou de lhes servir, ou porque é o mês de pagar o IMI ou o seguro do carro e o rendimento extra cai que nem ginjas! Mas é só isso!
Da minha experiência na coisa, que conta com 6 anos deste part-time que por vezes me dá tanto trabalho como o meu ganha pão, já passei por várias fases, e já tirei algumas conclusões me vão fazendo mudar de estratégia.
Já escrevi apenas para me ocupar, porque gosto de escrever e porque estava em casa sem nada para fazer senão ver séries e aguentar dois bebés dentro da barriga o máximo de tempo possível. Já escrevi só sobre o dia a dia de uma mãe de dois bebés, sobre a gestão da rotina, da amamentação, etc. Já escrevi sobre tudo e mais um par de botas que pesquisava ou que me chegava ao email, porque entendia que era só assim que a interacção do blog crescia. Já fiz muitas [mesmo muitas] noitadas a escrever conteúdos, editar fotografias e agendar publicações. E neste momento estou numa nova fase, aquela em que escrevo apenas quando e como me apetece, porque é isso que quero tirar do blog – prazer. Excepção feita a compromissos que assumo com marcas, que esses faço questão de cumprir mesmo que exijam sacrifícios em termos de horários. [Quando o meu avô faleceu, tinha compromissos assumidos, embora não monetários, e na noite do velório dele cheguei a casa e estive a escrever e editar até às 5h da manhã para que no dia seguinte os conteúdos saíssem na mesma. Custou-me imenso, mas não quis falhar com quem deu a cara pelas marcas e confiou em mim para a produção daqueles conteúdos.]
A verdade é que as pessoas imaginam que ter um blog é todo um glamour. Mas não é bem assim. Preparar conteúdos dá trabalho. Os conteúdos escritos exigem pesquisa, exigem tempo para os escrever, exigem revisão do conteúdo antes da publicação, exigem ilustração, agendamento, planeamento. Os conteúdos de redes sociais, mais focados na imagem, exigem que se prepare e se tire uma [ou várias] boas fotografias, exige que se seleccione e edite, que se publique na altura certa e com os hashtags certos. Dão trabalho, exigem de nós, concentração e tempo, que muitas vezes não temos. Comprei uma máquina fotográfica por causa do blog, preciso de aprender mais sobre fotografia por causa do blog. Dá-me prazer, mas também me dá trabalho e exige que eu gaste dinheiro.
Este ano de 2018 decidi que o meu principal objectivo de vida era seguir cada vez uma palavra: desconectar. E tenho cumprido. Não tanto como gostaria, mas já bastante mais do que julgava ser capaz há um ano atrás.
O blog traz-me muitas coisas boas, é certo, mas não é na quantidade que está o ganho. Em vez disso, prefiro a qualidade. Prefiro publicar menos, mas limitar-me a abordar temas que realmente goste, que tragam alguma coisa de novo a quem os lê, que partilhem alguma coisa interessante da nossa vida. Para vocês é mais interessante lerem sobre onde passámos um fim de semana em família, conhecerem a receita dos pães que tenho feito e com os quais tenho inundado as redes sociais, saberem como se passam as noites cá em casa, onde fomos almoçar em família e o que achámos do restaurante ou lerem o meu desabafo sobre o quão difícil pode ser conseguir engravidar. Estes são actualmente os temas que mais abordo. Temas nossos, que fazem parte de nós, das nossas escolhas, do nosso dia-a-dia, da nossa vida. Por isso quando me perguntam de que é o meu blog hesito, e digo… de família.
Deixei de escrever apenas sobre produtos ou marcas, excepto se elas fizerem parte da nossa vida. Deixei de passar os meus dias a caminhar para Lisboa para participar em apresentações e eventos de marcas. Até porque, pasmem-se, ir a eventos implica não só tempo [o que para quem trabalha nem sempre é fácil] mas também dinheiro. Quando uma marca nos convida para assistir a uma apresentação de um produto, regra geral, oferece-nos o produto, mas não comparticipa a deslocação [combustível, portagens], o estacionamento e todas as despesas que temos para nos deslocarmos. Eu vivo a quase 50km de Lisboa, e participar em eventos muitas vezes exigia uma enorme ginástica minha e da família, e uma despesa significativa. Por isso, optei por reduzir muito as minhas idas a Lisboa e sinto que me fez muito bem! Afinal, se as marcas quiserem mesmo que eu experimente o produto A ou B, podem enviar-me para casa e eu experimento e provavelmente até partilho o que achei nas redes sociais. Qual é a diferença? Não tenho que fazer ginástica para isso, recebo o produto em casa e faço o mesmo que faria se fosse ao evento. Ok, há eventos que são completamente fora da caixa e nos quais tento participar, mas a maioria, embora sempre em sítios giros, são apenas apresentações.
Deixei de me preocupar em ter novos conteúdos escritos todos os dias. E até deixei de publicar nas redes sociais todos os dias. Se me apetecer ter um fim de semana em paz e sossego, tenho-o! E ninguém fica a saber o que fiz, onde andei ou se estou bem de saúde!
A vida de um(a) blogger não é todo um glamour. Dá trabalho, exige de nós, implica muitas vezes sacrifícios familiares, noites mal dormidas e muitas horas em frente ao computador. E quem está atrás do écran, quem vos escreve, não é mais do que uma pessoa como vocês, com uma vida parecida com a de qualquer outra, sem nada de especial.
Isto para vos dizer que tenho recebido mensagens a perguntar-me porque tenho escrito menos, porque tenho publicado menos, e a explicação é esta. Simplesmente porque não me apetece! Não vou desaparecer, haverá certamente alturas em que escrevo e publico mais e outras em que escrevo e publico menos, mas vou andando por aqui! E espero que vocês também!
2 Comments
Xica Maria
Parece que não mas estava mesmo a pensar no “desconectar” principalmente das redes sociais.
Adoro blogs reais e autênticos. Onde a vida normal está presente. O meu favorito de sempre é de poucas palavras “Eu, ele a Maria, o Miguel e a Ana”. É fabuloso e uma inspiração.
Fazes bem em pensar mais em ti e na tua família.
Faz-me um pouco de confusão e deixo de seguir blogs “fantasia” em que a vida é completamente irreal com miúdos pipi e mães mais pipi ainda. 🙂
Maria Tomás
Mas só é blogger quem quer. Ninguém vos obriga, logo não entendo a lamentação.