Banalidades

Os meus filhos usam chucha e não faço disso uma batalha!

Querem saber uma frase que oiço muitas vezes? “4 anos e ainda usam chucha?” – normalmente acompanhada de uma certa entoação depreciativa. Respondo igual a todos: “Sim! usam!”  – com um tom definitivo e que não dá margem para diálogos nem opiniões alheias. Normalmente as pessoas rematam com um “…eu não tenho nada a ver com isso, vocês é que sabem…”, frase que nitidamente ia terminar com um “mas…” no final, mas que a maioria das pessoas tem o discernimento de não o dizer.

Há uns meses atrás, já não me recordo exactamente quando, o Daniel ficou sem chucha. Dos dois, ele é o mais esquisito com as chuchas. Não lhe serve qualquer uma, tem que ser apenas o modelo dele, em silicone e não pode ser nova a estrear, porque diz ele: “cheira mal“. Numa determinada altura, a última chucha que reunia as condições que para ele são as boas, ficou com buracos, porque ele a mordeu, e como deixou de a usar e as outras que havia em casa eram de borracha, apesar de serem do mesmo modelo, ele não as quis. 
Aproveitando esta oportunidade, dissemos que não lhe íamos comprar mais, que já era crescido e que por isso estava mais do que na altura de deixar de ter chucha. Embora oferecendo alguma resistência, acabou por aceitar, e passou a andar com a chucha com buracos na mão. A verdade é que a altura do dia mais complicada é a noite, porque para dormir, ou melhor, a partir do momento em que fica com sono, precisa mesmo de ter a chucha para se acalmar. [Afinal, algum significado terá o nome em inglês para chucha: Pacifier].

Quando chegava a hora de dormir, deitava-se com a chucha na mão, e demorava mais do que é hábito a adormecer, mas lá acabava por adormecer. A maior dificuldade era a tranquilidade do sono. O menino calmo e tranquilo que sempre dormiu bem e durante toda a noite, passou a ter noites de sono agitadas, com pesadelos, em que choramingava a dormir e se lamentava pela chucha. Considerámos que seria uma coisa que passava, mas passadas três noites, e face ao visível cansaço que começou a revelar fruto das noites mal dormidas, decidimos que não íamos comprar esta guerra e demos-lhe uma chucha!

O brilho nos olhos e a satisfação com que a pôs na boca foram indescritíveis. Embora estivesse consciente de que podia e devia passar sem chucha, a verdade é que fisiologicamente sentia muito a falta dela, pelo que o momento em que o deixámos voltar a ter esse conforto, para ele, foi impagável! 

A irmã, por sua vez, nunca foi tão dependente da chucha como ele, e para ela chucha é chucha e embora tenha a sua preferida à falta de melhor qualquer uma serve. Depois de adormecer nunca acorda por não saber da chucha e dorme a noite toda sem ela, por isso, o tempo útil em que realmente a está a usar é limitado ao período de final de dia em que já está cansada e lhe sabe bem aquele conforto, e o momento em que adormece profundamente e a deixa cair da boca. Nada de mais!

O tema chucha já foi debatido cá por casa várias vezes, e eles sabem que mais dia menos dia vão ter que a deixar. Já visitámos a Quinta Pedagógica dos Olivais e já vimos a árvore das chuchas, mas na verdade, a visão de uma árvore carregada de chuchas ressequidas, sujas e sem cor, não é a mais atractiva, pelo que eles não ficaram nada convencidos em ir lá deixar as suas próprias chuchas. Já falámos em amarrar as chuchas em balões com hélio e lançá-los para o céu, e já pusemos a hipótese de as deixar na pedra da lareira na noite de Natal, junto das bolachas e do leite do Pai Natal, para que ele as leve para outros meninos pequeninos. Esta última parece-me ser a solução que reúne mais consenso.

A verdade é que não queremos fazer do tema chucha uma batalha. Conscientes que estamos de que aos 4 anos poderiam já não usar chucha, temos também que ter consciência que cada criança tem o seu ritmo, e para nós, não é um tema que inspire cuidados por aí além. Não que valha a pena ignorar, mas para nós, também não vale a pena perder o sono por isso. 
Eu deixei a chucha tarde. Cerca dos 6 anos acho, e lembro-me perfeitamente do quão reconfortante era chuchar, e de como adormecia depressa e de forma tranquila com a minha chucha e a minha fraldinha. Se me fez mal? Provavelmente potenciou a minha necessidade de correcção ortodôntica, mas tirando isso, não me parece que tenha tido mais repercussões nenhumas.
O Daniel e a Carolina mamaram até tarde, até cerca dos dois anos e meio. E sim, este foi outro tema que gerou controvérsia, que fez com que fosse alvo de comentários a avaliações pouco próprios. Ignorei tudo e todos e continuei a amamentar até ao dia em que o Daniel, depois da irmã acabar de mamar e quando lhe disse que era a vez dele me respondeu: “Nã qué mamã! Já xou gande!“. Duas semanas depois foi a vez da irmã deixar de pedir, e naturalmente, deu-se o processo de desmame. 
A forma como lidei com essa realidade, é exactamente a mesma com que lido com a questão da chucha. Eles vão deixar a chucha quando estiverem preparados, quando sentirem que já não precisam dela, sem pressões, sem guerras e sem sofrimento. Porque é isso que é natural, e as crianças são todas diferentes!

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