Tipo de parto e sistema imunitário
Terão o tipo de parto e o sistema imunitário uma relação? A influência do tipo de parto no sistema imunitário, é real ou um mito? Diz a ciência que os bebés que nascem de parto natural têm um sistema imunitário mais resistente do que os bebés que nascem de cesariana. Mas a verdade, é que diga a ciência o que disser, os resultados de todo e qualquer estudo são sempre representativos de uma amostra, de uma média e é tão simples encontrar quem se encaixe fora deles.
Há uma tendência para a comparação em muitos campos na vida e a maternidade não é excepção. Comparamos semanas de gravidez até ao parto, contracções, azia, ciática e dores de costas, comparamos o parto, o número de pontos, os dias de internamento, o peso e o comprimento do bebé, os mililitros de leite que mama, a amamentação em exclusivo versus o leite adaptado. Comparamos as competências dos pediatras que acompanham os nossos filhos, o número de vezes que lhes prescrevem ben-u-ron ou brufen, as idas à urgência e a febre. Comparamos tudo e mais um par de botas mesmo que de forma inconsciente. E quantas vezes isso só serve para nos deixar de coração nas mãos? Bem, eu diria que todas! Hoje falamos sobre a influência do tipo de parto no sistema imunitário.
Deixem-me que vos conte uma história. Se me seguem regularmente já sabem que o Daniel e a Carolina não só nasceram em dias diferentes mas por vias diferentes. Sim, é isso! Um nasceu de parto natural e o outro de cesariana. E se olhar para trás, para estes poucos anos de vida, quem é que tem mais fragilidade e mais propensão para adoecer? O Daniel!
Já a irmã, aquela que nasceu de cesariana, adoece muito poucas vezes e tem muito mais resistência a todo o tipo de infecções [Lá caiu o resultado dos estudos por terra cá em casa!]. Ainda na semana passada andou com dor de ouvidos três dias, queixou-se, e passou. Não foi mais do que uma dor de ouvidos ligeira [e sim eu sei que tudo o que implica ouvidos e/ou otites tem que ser vigiado e pode ser grave. Não se exaltem que posso ser descontraída mas não sou negligente].
Então afinal qual é a influência do tipo de parto no sistema imunitário? Ora, segundo este estudo:
“Os nascidos naturalmente possuem muitos Lactobacillus, provenientes da vagina da mãe, que ajudam na digestão do leite, junto com uma mistura de bactérias muito específica de cada mãe. Os nascidos por cesariana, pelo contrário, são colonizados inicialmente por um conjunto de bactérias genéricas e potencialmente prejudiciais, como Staphylococcus e Acinetobacter, típicas da pele da mãe e também habituais nos hospitais.”
Mal estaria eu se ligasse assim tanto ao que dizem os estudos.
Ora vejamos, até sensivelmente ao segundo ano de vida, quer o Daniel quer a Carolina estiveram abaixo do percentil. Porque tinham um pediatra assertivo e pragmático, sempre olhei para os percentis como uma média e pouco me importou que a linha de percentil deles na caderneta fosse desenhada à mão. Desde do dia em que tiveram alta hospitalar depois do internamento pós-parto nunca voltaram ao hospital. Excepção feita a uma ida ao mesmo hospital onde nasceram para fazer um exame que os prematuros fazem 4 semanas depois da alta. Isto para dizer que visitas à urgência hospitalar desde que nasceram têm… zero! Sim é isso mesmo! Nunca foram a uma urgência e eu nunca telefonei para o saúde 24. Felizmente porque não precisei, mas também porque sou defensora acérrima que as idas ao hospital devem ser reduzidas ao mínimo indispensável, pois se lá vamos fragilizados o mais certo é estarmos propensos a trazer connosco bactérias que não tínhamos. E isto vale para crianças e para adultos!
E querem ficar ainda mais pasmados? A Carolina e o Daniel não têm pediatra! A última consulta a que foram foi a dos 4 anos. E não, também não é porque sou negligente. Não sou das que recusa as vacinas ou algo do género. Mas tenho um motivo muito forte e para mim é o mais válido de todos.
Quando eles tinham 4 anos e meio o nosso pediatra morreu. Estava doente, fez uma cirurgia complicada mas que até correu bem e durante meses lutou pela vida alternando a estadia entre casa e hospital. E não foi a doença que estava a ser tratada que o levou, foi uma bactéria multi-resistente hospitalar que se alojou nos pulmões e o levou a entrar em falência. [Aquele que passou a vida a dizer-me que pessoas frágeis em hospitais dá geralmente mau resultado foi exactamente o que sofreu na pele a consequência de não ter outra solução]. Foi duro. Perdemos um bocadinho de nós naquele dia e passado este tempo todo ainda tenho dificuldade em pensar nisso sem ficar de lágrimas nos olhos. O Dr.º Cabrita era da família. Foi meu pediatra, pediatra dos meus 3 irmãos e dos meus filhos. Foi ele que me ensinou a ser pragmática com os meus filhos e a saúde deles. Foi ele que me deu 1001 recomendações assim que soube que eu ia ter gémeos e que me foram muito úteis. Foi ele que toda a vida me ensinou que hospitais só mesmo em último recurso. Foi ele que esteve lá tantas vezes para nós. Era tão mais do que um pediatra, era um amigo, sempre disponível e sempre pronto a ajudar.
Desde então não fui capaz de procurar um novo pediatra para a Carolina e o Daniel. Já tentei, mas assim que começo a tentar aprofundar um pouco mais a conduta de cada um encontro alguma coisa que não subscrevo e desisti. Já foram ao médico, mas optei por levá-los à médica de clínica geral que me segue há anos e em quem confio plenamente. Quando eles adoecem, como aconteceu na noite passada, respiro fundo e penso para mim: ” O que é que o Cabrita diria para eu fazer?” e é isso que faço.
Não quero outro pediatra porque sei que nenhum vai ser igual ao “meu”. Porque sei que vou comparar, que vou ficar muitas vezes pouco satisfeita com a forma de encarar a saúde dos meus filhos. Que vou ter uma imensa dificuldade em confiar no parecer clínico que me derem.
Afinal, comparar está-nos no sangue. Por mais que tentemos, acabamos invariavelmente por o fazer, mesmo que sem dar por isso. E eu também não sou excepção.