Educação,  Maternidade

O primeiro dia de escola

Este texto pretende comparar o primeiro dia de escola em 1984 e em 2018. A realidade mudou, mas há ainda alguns pontos em comum. Vamos lá voltar atrás no tempo.

(…) “Sara. Acorda, filha. Bom dia. Hoje é o teu primeiro dia de escola. Anda que hoje já vais ter com os teus amigos…” (…)

No ano em que entrei para a escola primária, saiu a lei que permite a entrada para o 1.º ciclo caso a criança complete os 6 anos até 31 de Dezembro. Faço anos a 29 de Dezembro e por isso tinha “ficado para trás”. Pelo menos foi assim que o senti. Senti que todos os meus amigos tinham ido para a escola e que eu tinha que ficar mais um ano no Pica-Pau, com os meninos mais pequeninos, que eram de outra sala, porque fazia anos uns meses depois. Fiquei triste, senti-me sozinha, não gostei de ter que ficar mais um ano no pré-escolar e ver todos os meus amigos a continuarem o seu percurso sem mim. 
A minha avó Luísa era professora primária e assim que soube da nova legislação correu a falar com os meus pais. Imagino que foi assunto discutido por todos, e após a verificação de que havia vaga na turma, fui informada de que afinal eu também podia ir para a escola primária. O primeiro dia de escola foi o dia mais feliz da minha vida.
Lembro-me de sair de casa de mochila às costas, com o meu material escolar novinho em folha, orgulhosa, curiosa, mas acima de tudo, cheia de mim mesma! Afinal, eu também era crescida! Durante muitos anos, todos talvez, faculdade incluída… fui a mais nova da turma. Nunca senti que isso fosse prejudicial, nunca senti que tivesse dificuldade em acompanhar os meus colegas quer na aprendizagem quer nas brincadeiras. Acompanhava em tudo o queria e não acompanhava no que não queria [leia-se desportos em equipa tipo futebol, basquetebol e coisas do género, de que nunca fui fã].
Fui feliz na escola primária. Entrava de manhã, tinha um intervalo a meio da manhã, e na nossa escola não havia mobiliário urbano ou sombras no recreio. Havia um páteo, com um pavimento que recordo ser um género de alcatrão mais claro e pedras, onde corríamos, saltávamos, brincávamos. No limite da escola, supostamente vedado, havia aberturas que nos permitiam escapar à vigilância das auxiliares [A Dona Mariana e a Dona Nelma] e sair para a Quinta de Santa Teresinha. Uma Quinta local, abandonada, rica em amoreiras silvestres. Hoje vejo que os perigos eram mais do que muitos e confesso que me arrepia pensar nas 1001 coisas que nos podiam ter acontecido, mas que eu saiba, nunca nenhuma destas fugas da escola correu mal.
Voltávamos à escola depois do intervalo para interromper novamente para almoçar. Normalmente ia almoçar à farmácia, onde a minha mãe estava e onde tinha um almoço a postos para mim numa das divisões interiores. Voltava à escola depois do almoço e saía às 15h30.
Foi na escola que descobri que via mal. Sentei-me nas carteiras do fundo da sala, e não via bem o que a professora escrevia no quadro. Quando isso se tornou evidente e me levaram ao oftalmologista foi-me detectada uma miopia tal que quando comecei a usar óculos descobri que existiam… formigas.
Uma vez a professora deixou-me no quadro a tomar conta da turma enquanto saiu por minutos para fazer qualquer coisa. A ideia era que se alguém se portasse mal, eu deveria apontar o nome no quadro. Achei por bem propôr uma actividade! Eu contava até três e toda a turma gritava em conjunto. Estava de costas para a porta, enquanto a restante turma estava virada para mim e para a porta, pelo que fui a única que não vi a professora a entrar e depois de contar até três gritei sozinha! Valeu-me uma bela reguada na mão!
Não era uma menina bem comportada e exemplar, mas era educada, respeitadora e interessada. Jogava ao elástico nos intervalos, mas gostava mais de jogar ao berlinde, à carica ou ao prego. O meu avô Fernando costumava dar-me umas cavilhas que vendia na drogaria que eram um sucesso para jogar ao prego! Entrei num campeonato de Yô-yô’s e ganhei! O prémio era um five stars preto, a inveja de todos os meninos da escola e que só os campeões tinham.
Tive duas professoras diferentes, a professora Maria José nos dois primeiros anos e a professora Edite nos dois últimos. E também a mudança de professora foi coisa que não me deixou marcas negativas. Recordo as duas com igual carinho e acho que aprendi igualmente bem com ambas.
Guardo boas recordações dos 4 anos de escola primária e apesar de já terem sido no século passado, parecem-me frescos na memória. Recordo o primeiro dia de escola com carinho.

O primeiro dia de escola

Hoje chegou a vez da geração seguinte. Foi o primeiro dia de escola, levei os meus filhos à escola primária pela primeira vez. Iam nervosos, ansiosos por perceber como seria, por conhecer a professora, a sala onde terão aulas, escolher o lugar onde se sentam. Chegaram de mãos dadas connosco, de mochila às costas, um bocadinho a medo. Entraram na sala, escolheram o lugar um pouco ao acaso mas sempre ao lado um do outro. Quando os pais saíram da sala para conhecer a escola e eles ficaram na sala com a professora, despediram-se com beijinhos e um olhar um pouco perdido, mas não se desmancharam. Passadas duas horas, quando os reencontrámos já no recreio, corriam e brincavam como sempre, contavam o que tinham feito na sala com a professora com o maior entusiasmo e ainda se riram quando lhes dissemos que no primeiro dia quem trouxe trabalhos de casa fomos nós! Passou o primeiro dia de escola.
Se daqui a 4 anos os meus filhos saírem do ensino básico com tantas boas recordações como as que eu tenho fico feliz!

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