Aos 5 anos são bebés ou crescidos?

Aos 5 anos, o que são os nossos filhos? Crianças crescidas ou bebés? Para eles, já são muito crescidos, mas para nós mães, são uns bebés. Em que ponto da vida é que nós percebemos que eles crescem?
Olho para os meus filhos, pendurados na vedação da casa dos avós, a verem o nosso carro desaparecer na esquina ao fundo da rua, de mãos no ar, a dizer adeus…
“…Aaaaadddeeeuuuuusssssssssss….”
São os meus bebés. Sei que estão bem, e estão mesmo aqui “ao lado” a 15 minutos de carro, mas deixá-los, deixa-me sempre o coração apertado. Sempre que saem debaixo “da minha asa” sinto que falta um pedaço de mim. Seja para ficarem o dia na escola, para irem à praia com os avós, para passarem uma noite fora de casa, também com os avós, porque nunca dormiram fora sem ser em casa dos avós, ou para ficarem uns dias de pré-férias, enquanto nós enfrentamos a última semana de trabalho.

Para mim, continuam a precisar de mim sempre, a todo o minuto. Continua a ser o meu colo o que eles procuram quando caem e esfolam o joelho, quando batem com a cabeça, quando se assustam com alguma coisa e fogem a correr. Continuo a ser eu que lhes dou o beijo de boa noite antes de dormirem todos os dias. Continua a ser comigo que eles devem estar 24 sobre 24 horas por dia. pelo menos, eu gostava que assim fosse.
Só que para além da vida não ser assim e não nos permitir de forma nenhuma tê-los connosco sempre, há o crescimento, a independência, o cortar do cordão umbilical. E eles crescem. Muito depressa. Para nós mães, depressa demais. Deixam de precisar de nós sempre. Começam a fazer coisas sozinhos. A tornar-se independentes, autónomos, desenrascados.


Ontem, passámos o dia em casa dos meus pais com eles. Sabiam que iam lá ficar e nós vínhamos embora. Fizemos as malas de manhã em casa, expliquei-lhes o que tinham lá dentro e onde, e quando saímos cada um levou a sua mochila às costas. A Carolina gere bem estas separações. Independente e crescida, não voltou a falar sobre o assunto e quando chegou a hora de nos despedirmos deu beijinhos e abraços e foi brincar. O Daniel é diferente. Durante o dia perguntou várias vezes se íamos embora só à noite, veio abraçar-se e dar beijinhos a cada 10 minutos. E quando a meio da tarde percebeu que nos estávamos a preparar para ir embora, veio agarrar-se às minhas pernas com um ar triste. Sentei-me com ele no quarto, e disse-me que ia dormir na cama que era minha quando eu era bebé, que sabia onde estavam as luzes da nossa casa quando à noite olhasse pela janela e ia olhar para lá quando estivesse com saudades. Porque ia ter muitas saudades. Fui à minha carteira, tirei uma fotografia nossa que anda sempre comigo e dei-lha. Disse-lhe que se tivesse muitas saudades, podia telefonar, mas também tinha ali a fotografia e podia ver-nos sempre. Perguntou se eu só tinha uma fotografia daquelas, e quando lhe disse que sim respondeu-me que não ia estragar e ia guardar muito bem. Olhou em redor, e escolheu o sitio onde a queria colocar, observou-a atentamente uma última vez, deu-lhe um beijinho e colocou-a direita no móvel que está aos pés da cama. Disse-me que assim, quando estivesse na cama, era só levantar a cabeça e via-nos logo.
Quando fomos embora ficou a dizer adeus ao portão, a ver-nos entrar dentro do carro, a fazer inversão de marcha e a sair pelo caminho de acesso. Depois mudou de lado, e foi para a vedação lateral, até ver desaparecer a nuvem de pó que o nosso carro levantava ao passar. Nestas coisas acho que os meninos são sempre mais agarrados aos pais do que as meninas. Elas ganham independência mais cedo, crescem mais depressa.
Para mim, a barreira entre os 4 e os 5 anos foi enorme. Com 4 anos eles eram ainda muito os meus bebés, e a partir do momento em que fizeram 5 foi como se tivessem crescido imenso, como se o salto de desenvolvimento tivesse sido enorme e quase que de um dia para outro deixaram de ser pequeninos.
O Daniel e a Carolina têm 5 anos. Ainda não vão para a escola em Setembro, mas a maioria dos seus amigos do colégio vão. A Carolina ficou triste quando percebeu isso e mostra-se ansiosa por ir para a escola primária. O Daniel não tanto.
Na reunião de fim de ano com a educadora, oiço dizer que para além de serem meninos muito interessados e atentos, são meninos que acompanham facilmente todas as actividades dos meninos de 6 anos, que têm o raciocínio lógico bem desenvolvido, e que, cada um com áreas preferenciais distintas, estão óptimos e não há nada a assinalar.


Dei comigo a pensar no dia em que depois das férias vão regressar ao colégio. Dos 25 meninos da sala deste ano, apenas estarão lá 7. Eles serão os mais velhos. De alguma forma isso deixa-me angustiada, faz-me sentir que estão prestes a dar mais um salto de crescimento, a afastarem-se mais um bocadinho de mim. Senti que de algum modo no próximo ano iam estar menos interessados, mais aborrecidos, e de repente percebi porquê.
Faço anos a 29 de Dezembro, e no ano em que entrei para a escola, também eu voltei ao colégio em Setembro para a minha sala vazia dos meus amigos, com meninos novos. Era a mais nova da sala e todos os outros tinham os 6 anos feitos até Setembro, pelo que todos foram para a escola, menos eu. Senti que não era justo, afinal a diferença era tão pequena e de repente sentia-me deixada para trás. Nesse momento, a sala onde antes me sentia tão confortável deixou de me fazer sentido, não pertencia ali, não me identificava com aquele espaço.
Não sei exactamente quanto tempo foi mas sei que talvez um mês depois, a minha avó paterna, que era professora primária, soube da entrada em vigor da lei das matrículas condicionais. Havendo vaga na escola, os meninos que completavam os 6 anos até ao final do ano podiam entrar para a escola. Lembro-me que houve indecisões, que o assunto foi discutido, pais, avós, educadoras. Pesaram os prós e os contras e um dia disseram-me que eu ia para escola primária. Para a mesma sala onde estavam os meus amigos. Deram-me uma mochila nova e um sem fim de material escolar, e levaram-me numa manhã fresca de Outono para a escola onde ia passar os próximos 4 anos. Tinha 5 anos, era pequenina demais, franzina, e quase ia desaparecer no meio daquela realidade tão maior que eu. Pelo menos era o que sentia a minha mãe. Porque para mim, era o dia mais feliz da minha vida, o dia em que entrei na escola de sorriso triunfante, abri a porta da sala e me sentei na secretária vazia que esperava por mim. Sim, eu era crescida e também podia ir para a escola.

[Não tenho a certeza da idade que tinha nesta fotografia mas sei que foi tirada depois de um dia de escola à porta de casa da minha avó]
Com 5 anos eu sentia-me invencível. Era uma miúda desenrascada e autónoma e não tinha qualquer limitação ou problema. Estava feliz! Para os meus pais, com 5 anos, eu era um bebé a precisar de colo, que não podia atravessar a rua sozinha, que não podia estar tantas horas sozinha e com tanta independência quanto a que escola exigia. Mas estava. E não houve nada de errado com isso, excepto talvez para os corações deles que encolheram mil vezes e que ansiaram pelo meu relato mais detalhado depois de cada dia de escola.
Hoje percebo que a fronteira entre os nossos filhos serem crescidos ou bebés é muito ténue. Percebo que para mim, vão ser bebés muito tempo. Os meus bebés. Enquanto que para eles isso não é assim e certamente em muitas ocasiões já se sentem muito crescidos.
Crescer é mesmo assim, ter filhos é mesmo assim, e provavelmente à medida que eles crescem a única coisa que muda para nós mães é a dimensão do aperto no coração que nunca mais vamos deixar de sentir.