Crescimento,  Maternidade

# Our family | A ti filha, que hoje fazes 6 anos!

Querida filha,

Ao contrário do teu irmão, há 6 anos atrás, beijei-te no momento em que te tiraram de dentro da minha barriga. Foste “obrigada” a nascer mais cedo, e não querias! Deste luta, e foram precisas duas horas para avançarmos com a cesariana e trazer-te ao mundo, mesmo que contrariada. Tinhas toda a gente cá fora à espera, mas com o espaço todo para ti e tantas semanas antes do tempo, pura e simplesmente não querias fazer-nos a vontade! 

Assim que nasceste, choraste. Ouvi a tua vozinha, aguda e bem sonora, a mostrar ao mundo que tinhas chegado. Trouxeram-te junto a mim, e mal te encostaram ao meu rosto beijei-te e ficaste imediatamente em silêncio. Sabias que era eu não sabias meu amor? Foram apenas uns segundos, mas percebi logo que aquele era o meu maior feito. O meu legado. Aquilo que trazia sentido à minha vida. 
Seguiste o mesmo percurso do teu irmão, que já te esperava há 2 horas, limparam-te, mediram-te, avaliaram-te, e enquanto isso foram tratando também de mim. Disseram-me que estavas bem, que não havia nenhum sinal de alerta e que iam levar para a neonatologia com o mano. Eu seguia para o recobro, e julgava que depois do descanso poderia ir logo ter convosco. Fiquei tranquila e quando acabaram de tratar de mim, adormeci.
Lembro-me de algumas horas depois ir para o quarto, lembro-me de estar com o papá e de ver fotografias vossas nas incubadoras, entubados e ligados a várias máquinas de monitorização. Não precisaram de ajuda para respirar, tinham todas funções vitais a funcionar de forma autónoma, mas tinham nascido de 33 semanas, o sistema imunitário era débil e havia muitos cuidados que eram preponderantes à vossa saúde. 
De manhã comecei a tomar consciência de que não poderia ter-vos comigo no quarto. Estavam os dois em incubadora, o mano tinha ficado com icterícia e estava a fazer fototerapia. Estavam em isolamento por precaução. Imaginei que poderia levantar-me e ir ter com vocês. Tentei sem sucesso fazê-lo. Logo nesse dia, e no seguinte, e no seguinte. Tu nasceste na 3.ª feira às 1h02 da madrugada e só te consegui ver na 4.ª feira por volta das 21h. 
Cheguei de cadeira de rodas, com o papá a empurrar, sem conseguir sequer tentar pôr-me em pé, cheia de dores, mas com uma vontade sufocante de vos ver. Tiraram-te da incubadora e peguei-te ao colo. Caramba! Como eras pequenina. Tão mais pequenina do que eu imaginava. Muito redondinha, de nariz arrebitado, aninhaste-te nos meus braços e ali ficaste. Foi a primeira vez em que estivemos só os quatro juntos, a primeira vez em que estivemos as duas pele com pele. A primeira vez em que tentaste mamar. As minhas memórias destes primeiros dias são difusas. Estava muito fraca e medicada, e não tenho a linha cronológica bem definida, mas esta noite, aquela em que finalmente te peguei ao colo, nunca a esqueci!
No sábado seguinte saí do hospital. Fiquei feliz, mas no momento em que já à noite entrei no carro e vi o hospital pelo retrovisor do carro, em que senti que vos estava a abandonar, desfiz-me em lágrimas. Depois de passar dois dias à espera de poder estar ao pé de vocês, passei mais 4 dias no hospital, mesmo que sem os ter sempre comigo, e acabei por me ir embora sem vos trazer comigo. Foram dias difíceis. Todas as manhãs eu e o papá íamos ter com vocês, e ficámos todo o dia junto aos vosso berços. À noite voltávamos para casa para descansar, e de manhã regressávamos. Foi assim todos os dias, até que chegou uma manhã em que me disseram: ” Pode trazer os ovinhos! Eles saem hoje!”. 
Chorei! De alegria, claro! Arranjei-vos enquanto o pai foi buscar os ovos, instalámos-vos, e saímos. Peguei em vocês e esperei pelo carro à porta do hospital. Foi aí que a nossa vida a quatro começou. E desde então, o tempo tem voado!
Hoje fazes 6 anos meu amor! És uma menina doce, sensível, meiga e amorosa que só tu. Tens a tua personalidade mas és fácil de levar e quando te explicamos o motivo para determinada decisão, consegues entender e aceitar sem dificuldades. 
Sentes-te feliz por estares a ficar crescida, mas continuas a gostar de miminhos. Enches-me de beijos e abraços e gritas que me amas sempre que saio do quarto e te deixo na cama para dormires, sempre que deixo no colégio, sempre que ficas com o pai e eu saio. Adoras brincadeiras de menina, mas por influência do mano também brincas com coisas de rapaz. És linda e sabes que o és! És tudo o que eu poderia querer ter como filha e muito mais! 
Dizes-me coisas tão bonitas como que nunca vais deixar de ter tempo para estar comigo, que gostas de mim para sempre mesmo que eu morra, e que quando eu for velhota tratas de mim. Parabéns minha princesinha linda! Como é que já cresceste isto tudo? 

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