Banalidades

Quando os miúdos aprendem palavrões!

Quando as crianças entram na fase “papagaio”, em que repetem tudo o que ouvem, há cuidados acrescidos que nós adultos temos mesmo que ter. Por vezes nem sabem bem o que ouviram, mas a entoação dada à palavra deixa-os perceber que é uma palavra diferente e resolvem decorá-la bem decoradinha para aplicar quando acharem ser o momento certo!

Cá em casa, há uns meses atrás, aprenderam a palavra “porra”. Ouviram, guardaram, e uns dias mais tarde, enquanto estavam a brincar, o Daniel ficou chateado porque não conseguiu fazer o que queria com o brinquedo que tinha na mão e lançou uma valente: “Pooorrraaaaaaa!”. Depois de proferir a palavra, ficou em silêncio, com um meio sorriso, olhou em volta para avaliar a nossa reacção, e como ficámos os dois em silêncio a olhar para ele [de olhos esbugalhados de surpresa], achou que valia a pena repetir e desatou a dizer em modo repeat: “Porra, porra, porra, porra porra…” – enquanto ria à gargalhada. Explicámos-lhe que aquela é uma palavra feia, que não se deve dizer, e embora ainda a tenha repetido uma meia dúzia de vezes [e sempre aplicada no momento certo, que se há coisa que aprendem logo é como empregar as palavras!], depressa deixou de lhe achar piada. Não obstante, interiorizou que não se deve dizer semelhante palavra, e se em algum momento alguém a disser em frente a ele, leva ralhete! – “Porra não diz-se mamã! Pois não?”

Mais recentemente, surgiu a expressão “que raio!”. Não que seja uma expressão considerada palavrão, mas não podemos dizer que é uma expressão bonita de se dizer. Quando saiu pela primeira vez, ficámos sem perceber bem onde a teriam ouvido. O facto é que à semelhança do porra, foi bem empregue! E claro que isso é coisa para nos deixar mortos de riso. Já não me recordo bem, mas acho que até nos desmanchámos a rir quando a meio de qualquer coisa que não lhe saiu como esperava o Daniel se saiu com o “que raiooooo”! Entretanto acabámos por descobrir que há uns desenhos animados no Canal Panda, que não fixei quais são, em que os bonecos usam esta expressão! Estava desvendado o mistério da origem da nova aquisição no vocabulário do Daniel!
A última aquisição linguística foi o “fogo”! Estavam a brincar, e antes mesmo de dizer a palavra, pergunta o Daniel:
“D – Mamã, fogo eu pode dizer?
Eu – Mais ou menos filho…
D – Mais ou menos??
Eu – Podes dizer, mas não pode ser muitas vezes!
D – Ahh tá bem!”

E de seguida, com todas as letras e a entoação certa, diz a plenos pulmões:
” Fooogoooooooooooo!” – E sorri feliz!
Na nossa casa não é habitual ouvirem-se palavrões. Aliás, das palavras e expressões que mencionei, nenhuma pode ser verdadeiramente considerada um palavrão. São palavras menos bonitas, que não ficam bem. Ainda assim, e como em qualquer família normal, de vez em quando lá se solta um palavrão dos cabeludos! Se me queimar a fazer o jantar, é capaz de ser ocasião para um desses, e posso mesmo não ter raciocínio suficientemente rápido para me lembrar que os miúdos estão mesmo ali ao meu lado e vão absorver e repetir o que ouviram da minha boca! Ora se há coisa que não me apetece nada, é ter os meus filhos, a enriquecerem o seu vocabulário com todos os palavrões do dicionário. Por isso, regra geral, tento ter o cuidado de não deixar escapar nada que não queira que eles repitam.
Mas, e quando os ouvem  na rua? Já os levei embora de um parque infantil numa determinada ocasião precisamente por isso. O parque estava apenas com 6 meninos: O Daniel, a Carolina e outros 4 meninos, com 5/6 anos talvez. Acontece que do diálogo entre esses 4 meninos faziam parte todos os palavrões do Dicionário Português, dos mais banais aos mais rebuscados. Os meus filhos, como quase sempre, ficaram encantados a observar os miúdos mais crescidos, e a ouvir tudo o que estavam a conversar, e eu, rapidamente os tirei de lá, disfarçando a conversa e arranjando uma desculpa para irmos embora 30 segundos depois de termos chegado. A verdade é que há muitas pessoas para as quais dizer palavrões é tão normal que não têm o cuidado de explicar aos filhos que são palavras que não se devem dizer, e os miúdos absorvem-nas, e utilizam-nas, como qualquer outra palavra. 
Para nós, a solução para lidar com esta questão, passa por conversar com eles, por lhes explicar que não se deve dizer esta ou aquela palavra, e fazer com percebam isso e façam a distinção entre palavras que se dizem e palavras que não se dizem. Claro que haverá ocasiões em que as vão dizer, pelo menos durante a fase de interiorização da nova palavra, à qual vão achar imensa piada, mas calmamente, voltamos a explicar que não se diz, e acredito que funciona! Pelo menos, até agora, tem funcionado! Mas os piores palavrões ainda não surgiram!

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