Road trip férias 2016 | Spot #1
No Verão de 2005, pela primeira vez, passei as duas semanas de férias grandes afastada da praia e sem passar os dias a tostar. Nesse ano, fomos até aos Açores. Conheci São Miguel, o Faial e o Pico. Adorei a viagem, mas fez-me falta a praia. O tempo por lá não era muito quente, e andei quase sempre de manga comprida, por isso não me senti verdadeiramente em férias de Verão. Decidi nesse ano que não voltaria a passar férias longe da praia. Só que, não sei bem se com a idade ou com a maternidade, este ano, acabei a fazê-lo, e só vos digo…. está a ser tão bom!
Fez no sábado uma semana que fomos ter com os nossos filhos, que já estavam de férias com os avós maternos, almoçámos todos juntos e partimos rumo ao Alentejo. O destino, um pequeno turismo rural na vila de Alcáçovas. Andava de olho nele desde meados de Junho, quando o vi pela primeira vez numa campanha do Odisseias. Cheguei a pensar passar lá o fim de semana do 10 de Junho, mas não havia disponibilidade pelo que ficou registado. A verdade é que sempre que fazia pesquisas de alojamento no Odisseias, os critérios de pesquisa que aplicava davam sempre o Monte da Cabeça Gorda como primeira escolha, e foi ali que começámos as nossas férias.
O Monte da Cabeça Gorda é uma propriedade pequena, com apenas 4 apartamentos e 2 quartos duplos, inserido na Vila de Alcáçovas e que goza de uma localização [num dos extremos da vila] que lhe confere um sossego e uma tranquilidade ímpares. Ali, não há pressas, não há horários, não há rotinas nem pressões. Ali, todos fazem a sua vida ao seu ritmo. Filipa e João, designer gráfica e engenheiro oceanografico, respectivamente, cansaram-se de viver pelo mundo e decidiram mudar de vida. Agarraram em tudo e trocaram o Estoril por Alcáçovas. Acreditam que ali vão continuar a ser felizes, e basta passar por lá para perceber porquê!
[Foto: Monte da Cabeça Gorda]
Num final de mais uma tarde quente de Agosto, fomos recebidos pela Filipa, de bikini e pareo à cintura, no Monte da Cabeça Gorda. Já tinham terminado as lides do dia, e Filipa estava junto à piscina com a família e os hóspedes a conversar. Recebeu-nos com um sorriso contagiante e umas bochechas coradas do sol que faziam sobressair ainda mais os olhos verdes e brilhantes. Conduziu-nos pela propriedade, levou-nos ao nosso apartamento e deixou-nos à vontade a arrumar e organizar tudo. Cerca de meia hora mais tarde, já estávamos todos dentro de água. O calor era realmente muito e não tínhamos mais nada para fazer por isso era mais do que hora de dar o primeiro mergulho oficial das férias. Estivemos por lá até ao pôr do sol. Entre mergulhos e conversa, ao som dos badalos das ovelhas do senhor Cabecinha, o vizinho da quinta do lado. E acreditem quando vos digo, que o pôr do sol ali, é um espectáculo que deve ser visto! Sem filtros, sem edições, apenas com as cores reais de um Alentejo quente e tranquilo!
Voltámos depois para o nosso apartamento para banhos e jantar. Os apartamentos estão todos equipados com kitchenet pelo que todas as refeições podem ser confeccionadas em casa. À porta, num longo varandim comum, uma mesa com cadeiras, ideal para as refeições no exterior. Na sala da entrada, duas camas para os filhos, e logo de seguida o nosso quarto e uma casa de banho, ambos com janelas para o exterior de onde podíamos espreitar as burras e a mula do vizinho [A Maria da Peida, a boneca, e a Fatinha]. Nessa primeira noite, como as saudades de terem estado de férias com os avós apertavam, dormi com a Carolina, que não falava noutra coisa senão em dormir com a mamã, enquanto o Daniel dormiu com o papá no quarto.
[Foto: Monte da Cabeça Gorda]
Em cada apartamento, existe um formulário para assinalar as preferências para o pequeno almoço e a hora a que o queremos, sendo que aqui, os dorminhocos são privilegiados, pois o pequeno almoço é servido a partir das 9:30! É com um bom dia da Filipa que despertamos. Já está à nossa porta, sorridente e bem disposta, de tabuleiro na mão com o nosso pequeno almoço! Pão Alentejano fresquinho, bolo caseiro [acabado de fazer], manteiga, queijo, fiambre, compotas, café, leite, sumo, iogurtes, fruta e cereais. A verdade é que é difícil que tudo caiba na mesa, mas lá conseguimos, e saboreamos todas estas delicias virados para a piscina, com a planície alentejana por trás e todo aquele silêncio… Aquela luz, aquele calor que só o Alentejo nos pode proporcionar.
No primeiro dia, depois do pequeno almoço, fomos às compras a Alcáçovas. Precisávamos de ingredientes para almoços e jantares, pelo que fomos abastecer-nos à vila. Aproveitámos para passear pela meia dúzia de ruas e ficar a conhecer os cantos à terra. O Meu Super, o maior supermercado da terra, a mercearia duas casas à frente, onde fomos comprar ovos e onde a senhora entre olhares tristes desabafou: “sei sempre o que é que eles não têm, porque as pessoas veem todas aqui…”, ou a papelaria do senhor Salsinha, onde aceitam encomendas de livros escolares, vendem todo o tipo de revistas, chapéus e bonés e até alguns produtos alimentares. Regressámos à Cabeça Gorda já perto da hora de almoço, vestimos os fatos de banho e fomos directos para a piscina. Desde mergulhar, ler, jogar jogos, andar de bicicleta, conversar… Por ali, tudo se faz! O ambiente é de completa descontração, quer entre os hóspedes, quer na relação com os proprietários. Afinal, a Filipa e o João, tratam-nos como se fossemos da família.
Da sua cozinha, saem a toda a hora bebidas frescas, ice tea caseiro [se nunca provaram chá de perpétua roxa provem!], fatias de bolo ou snacks ligeiros para os almoços, como saladas, tostas, empadinhas e afins.
Um pouco antes da hora de almoço, é altura de alimentar os 3 gansos e as 3 cabrinhas da Cabeça Gorda. [há fortes desconfianças de que uma delas está grávida! Teria sido lindo que nascesse uma cabrinha durante a nossa estadia, mas não tivemos essa sorte!] Imaginam quem fez questão de participar nesta tarefa todos os dias? O Daniel e a Carolina, pois claro!
Ao fim do dia, é a vez de alimentar os cães, o Timoteo Barbosa, o Fadista e o Virgilio Armindo no recinto de baixo, e a Lola, uma lindíssima rafeiro alentejano, meiga que só visto, no de cima. A Lola viveu acorrentada durante 9 anos e foi resgatada pela Filipa e pelo João. Construíram um espaço só para ela, porque não se deu bem com os restantes amigos cães. Com o tempo, a Lola irá perceber que não voltará a ser mal tratada e poderá juntar-se aos amigos. O responsável pela comida dos cães é o Sebastião, o filho mais novo de Filipa e João, que é “o chefe da comida dos cães” e coordena esta tarefa. Aqui, todos os animais têm nome próprio! Na janela do Alentejo, junto à cozinha, o gato Toni Fonseca adora ver o por do sol. Gato esperto este!
[Fotos: Monte da Cabeça Gorda]
É neste ritmo lento, em comunhão total com o que nos rodeia, que se vivem os dias pela Cabeça Gorda. Ali, é fácil desligar a cabeça, e rapidamente deixamos de ter noção de que dia da semana é, e de há quantos dias já estamos por lá. É fácil passar dias assim, em que as horas se passam sem que demos por elas. É fácil ter noites em que jantamos entre novos amigos, em que conversamos horas esquecidas, em que partilhamos as nossas experiências e as nossas vidas com pessoas que conhecemos “há dois dias” mas que parece que fazem parte da nossa vida desde sempre. É fácil descansar, quando tudo o que temos que fazer, é apenas o que nos apetecer.
Quanto ao pequeno almoço, todos os dias nos soube pela vida começar o dia assim. A Filipa tem o cuidado de ir variando nos bolos que faz, e enquanto lá estivemos provámos o bolo de laranja, o de chocolate, o de manteiga e um folhado alentejano delicioso, típico da terra, que uma vez por semana a Filipa encomenda para servir aos hóspedes. Todos os dias acordámos com este ritual, até que no último dia, porque a Filipa já nos ia conhecendo, adormecemos, e ela deixou-nos ficar a dormir apesar do pequeno almoço estar pedido para as 9:30. Acordámos uma hora mais tarde, e assim que abrimos as portadas, lá vinha ela, de tabuleiro na mão: “Deixei-vos dormir até quererem! Fiz bem não fiz?”
Destes dias, guardamos o sorriso da Filipa, a tranquilidade do João, a doçura envergonhada do Sebastião, a energia da Rita, a traquinice do Francisco, o carinho da avó Mitó. Guardamos a Luisa e o Rui, com os filhos Ana e Luís. Guardamos a Susana e a sua paciência infinita para os nossos filhos. Guardamos os restantes hóspedes com que nos cruzámos mas cujos nomes acabámos por não registar. Porque é muito isto que sabe bem em turismo rural. Esta partilha, esta troca de experiências, estas noites à conversa. Estes dias passados com desconhecidos com quem vivemos quase como se fossem família. Para nós, foram uns dias mesmo muito bem passados. Foram dias enriquecedores, que nos deixaram marcas e que não vamos esquecer. Aqui fomos felizes, e aqui vamos certamente voltar!
Obrigada Odisseias por mais uma experiência de sonho, e por este inicio de férias tão marcante. Seja para férias ou para um fim de semana, fica a dica, de 1 noite por 54€ a 3 noites por 145€, basta comprarem o voucher aqui e marcarem directamente com a Filipa! Vale a pena!