Banalidades

Será que brincamos o suficiente com os nossos filhos?

Não precisava de ouvir o resultado de um estudo para saber a resposta a esta pergunta. Mas a verdade é que apesar de no meu íntimo o saber, ouvir concretizar as coisas de forma mais objectiva mexeu comigo. Para celebrar o Dia da Família, a convite da TriNa, passámos uma manhã entre brincadeiras e coisas sérias, a abordar este tema delicado que é o tempo que os pais despendem verdadeiramente a brincar com os filhos.

O cenário escolhido foi o Village Undeground, onde a TriNa preparou um cenário paradisíaco para que as crianças pudessem disfrutar de 1001 brincadeiras enquanto os pais falavam sobre o tema em debate.
Para assinalar o Dia da Família, 15 de Maio, e com o objectivo de despertar as mentalidades a fim de se mudarem os hábitos familiares, nomeadamente no que respeita ao tempo de lazer e brincadeira entre Pais e Filhos, a marca TriNa lançou o resultado do levantamento de dados efectuado pela Marketest durante o mês de Abril deste ano, a 410 pais, de norte a sul de Portugal, com filhos com idades entre os 6 e os 12 anos. 
Mesmo que a criança tenha a capacidade de se divertir sozinha, a participação dos pais nas actividades é essencial para o desenvolvimento da criança e para a relação entre pais e filhos: os laços serão reforçados e os pais ainda poderão compreender melhor o universo dos seus filhos. Não nos podemos esquecer que o “brincar” é essencial para o desenvolvimento das crianças, sendo que o valor da brincadeira não pode e não deve ser subestimado. 
As conclusões deste estudo foram-nos apresentadas Psicóloga Clínica Cecília Galvão, especialista no desenvolvimento psicológico da Criança, tendo trabalhado o tema “brincar” nos últimos 30 anos.
O “Estudo – Hábitos de brincadeira entre pais e filhos portugueses” revela que a Televisão é o “instrumento favorito” de companhia das famílias e que os pais portugueses sentem a frustração de não ter mais tempo para os seus filhos, tendo mesmo dificuldade em lidar com o facto de negar muitas vezes pedidos para brincadeiras em conjunto. Mais de 80% dos pais, de Norte a Sul do país, referem que no top de actividades familiares durante a semana está “verem televisão em conjunto”. No fim-de-semana os valores descem para cerca de 70%. Logo de seguida seguem-se as brincadeiras em casa com 71% durante a semana e 62% ao fim de semana. Durante a semana, cerca de 40% admite ler um livro em conjunto, jogar um jogo ou jogar um jogo de computador ou consola. Ao fim-de-semana esses valores diminuem, sendo ultrapassados por actividades como: idas ao parque infantil, andar de bicicleta, jogar à bola ao ar livre ou idas ao cinema. 
Segundo Cecília Galvão, “brincar é uma actividade essencial para o desenvolvimento das crianças. É muito importante que as famílias tenham tempo para brincar e consigam escolher actividades que sejam não só divertidas, mas também permitam a aprendizagem de atitudes e comportamentos desenvolvendo as capacidades e competências das crianças. Ver televisão pode ser muito enriquecedor em matéria de informação, no entanto não deve ser o espaço preferencial de relação.”
Comparando os géneros das crianças, durante a semana os rapazes dedicam-se à televisão (82,6%), e depois aos jogos de computador ou consolas (48,8%), andar de bicicleta (28,6%) ou à construção de legos (28,5%). Já aos fins-de-semana, a actividade favorita mantém-se ver televisão (67,1%) seguida de jogar à bola ao ar livre (62,4%). As brincadeiras em casa e as idas ao parque também se intensificam. Por sua vez, as raparigas são quem passa mais tempo em casa, quer durante a semana, quer ao fim-de-semana. 83% vê televisão durante a semana, diminuindo para 71,6% aos fins-de-semana. Brincar em casa também é um dos passatempos favoritos durante os 7 dias da semana. As idas ao parque infantil (65%), andar de bicicleta, (48,2%), jogar um jogo, (42,1%) e as idas ao cinema, (42,1%), são das actividades favoritas das raparigas aos fins-de-semana. Para a Psicóloga Clínica, “estes valores podem traduzir a necessidade de actividade física, mais evidente nos rapazes desta idade.”
Quanto aos participantes, 85% dos inquiridos referem que outros familiares participam nas actividades que fazem com os seus filhos. Nessas situações, o cônjuge ocupa o principal papel (80,8%), seguido dos irmãos (48%). Quando questionados sobre o número de dias de semana em que costumam brincar mais de meia hora com os filhos, quase 40% está entre os 1 a 4 dias por semana. Apenas 38% refere dedicar mais de 30 minutos por dia, durante os 7 dias, a brincar com os seus filhos. Ou seja, durante os dias de semana, 5 em 10 inquiridos referem passar entre 2 a 4 horas com os seus filhos e 4 em cada 10 refere passar entre 30 minutos a 1 hora em actividades conjuntas. Já ao fim-de-semana, 9 em cada 10 passa mais de 4 horas com o seu filho e 4 em cada 10 passam mais de 4 horas em actividades conjuntas. Já 6 em cada 10 inquiridos consideram que passam o tempo suficiente com o seu filho e 4 em cada 10 consideram que passam pouco tempo. Nenhum dos inquiridos referiu passar tempo a mais com o seu filho.
Podemos ainda concluir que 74% diz ser difícil dizer ao seu filho que não tem tempo para brincar com ele e 75% admite mesmo que sente que o seu filho gostaria de passar mais tempo consigo. E 36% admite mesmo que por vezes o seu filho pede-lhe para brincar com ele e que inventa uma desculpa para não o fazer. Para 80% dos inquiridos a actividade profissional é o que o impede de passar mais tempo com os seus filhos.
Cecília Galvão conclui deste levantamento de dados que “a percepção dos pais sobre o tempo disponível para brincar com os seus filhos durante a semana é insuficiente o que pode até não ser verdade se esse tempo for de qualidade. O que pode ser menos positivo é a qualidade das actividades lúdicas que trazem pouco benefício à relação entre pais e filhos e ao desenvolvimento das crianças.”
Quanto às rotinas diárias entre pais e filhos, 70% dos pais toma o pequeno-almoço com os seus filhos, durante os dias da semana. O almoço e o lanche andam na ordem nos 17%. O jantar, por sua vez, é feito na companhia dos filhos pela maioria (93%). Aos fins-de-semana, as refeições são quase todas em conjunto, sendo o jantar e o almoço as mais referidas (98%). O lanche da tarde é ainda uma das refeições mais partilhadas entre pais e filhos ao fim-de-semana (79%) ao contrário do que acontece durante a semana (17%).
Quando falamos em deslocações com o filho, 56% leva os filhos todos os dias à escola, no entanto 17% fá-lo 2 a 3 vezes por semana e 12% admite que isto acontece raramente, sendo em Lisboa e Porto que verificamos as maiores percentagens. Quando questionados sobre o irem buscar os filhos à escola, a tendência mantém-se. Relativamente a actividades extracurriculares das crianças, 81% dos inquiridos tem filhos que praticam actividades extracurriculares: 47% dos inquiridos refere a natação como a actividade extracurricular do seu filho, seguido da música com apenas 25%. 37% dos inquiridos refere que o filho tem actividades 2 vezes por semana.
Para Cecília Galvão, estas actividades, nomeadamente as refeições à mesa, “podem ser um bom indicador do investimento das famílias na relação próxima com os seus filhos. Assim como a prática de actividades extracurriculares indica que reconhecem a necessidade de aprender outras coisas para além da Escola, no entanto, o estudo indica que há uma vontade de investir a família e pouco tempo para o fazer o que reforça a necessidade de repensar o tempo laboral excessivo.”

Apesar do estudo não incidir em crianças da faixa etária do Daniel e da Carolina, muitos dos resultados que foram apresentados, pareceram-me transversais a todas as faixas etárias. A verdade é que cada vez mais, os pais têm necessidade de trabalhar até mais tarde e o tempo de qualidade com os filhos sai beliscado. Há algumas estratégias que podemos tentar utilizar para minimizar isto. Eu pessoalmente tento com frequência inclui-los em rotinas da casa, como fazer uma panela de sopa, pôr a mesa para o jantar, ou ajudar a escolher a roupa que vão vestir no dia seguinte. Não sendo propriamente brincar, para eles, são momentos nossos. E é isso que os nossos filhos guardam! Momentos! Já pensaram nas vossas memórias de infância? Não conseguem imediatamente recordar momentos que adoraram viver com os vossos pais e que ficaram registados? É estas memórias felizes que temos que criar nos nossos filhos e em nós! Porque eles crescem depressa demais e quando dermos por nós, já não vamos a tempo para brincar.
É essencial brincar, não só para que as crianças cresçam mais saudáveis e equilibradas, mas também porque brincar é algo que também faz bem aos pais. Muitas vezes, os pais não têm tempo para os filhos e, é exactamente por isso, que é necessário inclui-los no tempo que têm e nas actividades que têm de fazer. Partilhamos 10 dicas para que o tempo seja optimizado e para que os pais consigam brincar com os filhos…mesmo que cheguem a casa mais cansados!
1. Arrumar a casa – sim, é verdade! Se tem de arrumar a casa, porque não pede o apoio ao pequeno ajudante lá de casa? Peça-lhe para organizar os objectos desarrumados por cores ou categorias e para coloca-los em locais diferentes.
2. Dar um passeio – se estiver bom tempo e tiver um parque perto ou viver num bairro calmo, dê um passeio de 30 minutos com o seu filhote. Fale com ele sobre o seu dia, leve-os às cavalitas. O importante é passarem tempo juntos.
3. Cozinhar a dois ou a mais! – sabia que as crianças adoram pôr a mão na massa? Mesmo que não pareça, assim que colocam a primeira vez, querem repetir! Tudo o que é rotina para os pais, pode ser um divertimento para os mais pequenos. Tenha apenas em atenção os utensílios que utiliza.
4. Jogue à Prova-Cega – as crianças são curiosas e adoram saber tudo. Porque não vendar-lhes os olhos e fazê-los provar alguns alimentos. O desafio? Tem de adivinhar o que está a provar.
5. Do It Youself – muitas vezes puxar pela imaginação é a única coisa necessária. Aquelas caixas de ovos, rolos de papel higiénico, entre outros materiais podem ser reutilizados para construir brinquedos novos.
6. Criem a vossa história – todos os dias, antes de ir dormir, porque não constroem um bocadinho de uma história? Só precisam de definir o tema e dar asas à imaginação. Vão escrevendo todos os detalhes et voilá, tem um livro único e exclusivo da família.
7. Aposte em brincadeiras express em casa – porque não brincar ao esconde-esconde ou à caça ao tesouro? Peçam aos filhos para descobrirem um objecto, que para eles será um tesouro, e será uma verdadeira festa lá em casa quando o encontrarem!
8. Façam exercício em família – façam uma competição saudável. Vistam o fato de treino e façam um treino muito simples de apenas 10 minutos. É divertido e ainda podem terminar a actividade com grandes risos e cócegas à mistura!
9. Construam um Puzzle – deixem os filhos escolherem um puzzle que gostem e iniciem juntos essa construção. Todos os dias construam um bocadinho mais.
10. Surpreendam-nos – muitas vezes as crianças estão fechadas no seu mundo, seja a ver TV ou a jogar num computador. Por isso devem ser surpreendidas pelos pais. Coloque uma música que eles adoram e dancem com eles. São 4 minutos de pura diversão e brincadeira.
Se há luta interior que travo inúmeras vezes, é precisamente esta: Preciso de conseguir mais tempo para os meus filhos! Para estar com eles, para brincar com eles, para conversar com eles, para os ouvir. Sem interrupções, sem compromissos, sem nada para fazer que me distraia, sem televisão, sem telemóvel, sem nada! Uma estratégia que gostava de testar, é a de todos os dias encontrar 15 minutos [pelo menos] em que esqueço tudo o resto e lhes dedico 100% da minha atenção. Se conseguir que estes 15 minutos integrem a nossa rotina, posso tentar aumentar para 30 minutos, e se tiver sucesso com os 30 minutos fico muito feliz comigo mesma, porque sinto que esses 30 minutos com eles são especiais.
O triste, é que 30 minutos cheguem para nos deixar felizes. Da forma como a vida corre, em dias de 24 horas, conseguir dedicar 30 minutos em exclusivo aos filhos é uma vitória. Será que a nossa sociedade tem realmente os valores deturpados?
[Fotos Pau Storch]

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