Smartphones, Tablets, App’s e crianças!

[Imagem daqui]
Cá em casa temos dois iPhones [um do pai outro da mãe] e um iPad. Usamos os três dispositivos constantemente, essencialmente para responder a emails e para utilizar as redes sociais. Para nós, são mais ferramentas de trabalho do que telefones ou dispositivos de comunicação. Mas e para os miúdos? A verdade é que até à bem pouco tempo, para os nossos filhos, estes dispositivos serviam para ver vídeos no youtube, para verem fotografias, e pouco mais. E não perdiam muito tempo com eles, ou tinham um desejo especial de os utilizar. Só que, recentemente, esta realidade mudou! O mundo das app’s começou a fazer-lhes sentido, e começámos a ter que lidar com birras porque querem o iPad ou mesmo guerrinhas entre os dois pela posse do mesmo. E ainda não chegaram à fase das redes sociais, essa sim, confesso, que me assusta! E nós pais, como devemos lidar com isto?
Hoje em dia a internet está por todo o lado, em casa poucas pessoas deve haver que não a tenham, e na rua somos utilizadores de redes wifi a uma escala cada vez maior, pelo que se torna crucial reflectir sobre o impacto que esta presença tem nas nossas vidas e na sociedade. Mais importante ainda, pelo menos para mim, será ponderar o impacto que tudo isto exerce nas crianças. O Zaask publicou um artigo precisamente sobre este tema, e depois de o ler, achei pertinente pensar e escrever sobre o tema.
“Segundo a Academia Americana de Pediatria, em San Diego, as crianças aprendem primeiro a manusear estes dispositivos do que a andar e a falar. Hoje, ouvimos berros em restaurantes, centros comerciais e supermercados, não devido a quererem brincar com o action man ou a barbie mas sim para usarem o telemóvel ou tablet dos pais. Hoje não vemos uma família a dialogar cara-a-cara. Hoje não vemos miúdos a brincarem às escondidas ou à apanhada. Hoje não vemos meninas a pentearem os cabelos das suas barbies e nenucos. Hoje, segundo Magda Dias, autora do blogue “Mum’s the boss” e do livro “Crianças Felizes”, vemos “zombies”. Zombies concentradissímos em dispositivos. Não há comunicação. Não há gargalhadas. Há aplicações e níveis de jogos alcançados.”
A questão que se impõe, é apenas uma! A utilização de smartphones ou tablets prejudica ou beneficia o desenvolvimento das crianças?
“De acordo com Maria Belo, Psicoterapeuta, “como quase tudo na vida os tablets e smartphones têm benefícios e prejuízos segundo cada criança e sobretudo da maneira e para que os usam”. Letícia Oliveira, Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta na área do desenvolvimento infantil, afirma que a “criança nos seus primeiros anos de vida, tem as suas capacidades de aprendizagem na sua máxima potência”. Desta forma, torna-se simples conceber o motivo pelo qual as crianças manuseiam as tecnologias com tamanha rapidez e eficácia. João Matos, Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta, enfatiza os benefícios desencadeados a nível “cognitivo e criativo das crianças” dada a estimulação orientada para a concretização de objectivos. Mariagrazia Marini Luwisch, Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta, acrescenta que se traduzem numa mais-valia “principalmente na concentração e na coordenação motora fina da criança”.
Por outro lado, Luwisch defende que “pode haver dificuldades quanto ao desenvolvimento da interacção social, da empatia e na resolução de problemas, que são normalmente alcançados ao explorar, brincar e ao interagir com pessoas”. Em consonância, João Matos alerta que a utilização de smartphones e tablets pode significar uma fuga à relação porém, neste caso, o problema é oriundo “das relações existentes e não destes meios”. Para além disto, o Psicólogo ressalta que restringir o acesso a estas tecnologias poderá resultar numa “relação repressiva”. Neste sentido, Mariagrazia demonstra a sua preocupação em relação “ao gerir emoções e ao controle da ansiedade e frustração quando a criança não puder ter estes dispositivos à disposição” pois “ao estar entretida com joguinhos electrónicos, não estará envolvida com o que acontece ao seu redor e se não desenvolver a relação interpessoal poderá tornar-se insegura e despreparada para enfrentar pressões, provocações e situações adversas da vida”.“
Como em quase tudo na vida, na minha opinião pessoal, deve imperar o bom senso, e a utilização das tecnologias deve ser regrada. Do mesmo modo que na minha infância/adolescência surgiram os Gameboy, e mais tarde as consolas de jogos, os telemóveis e tablets representam também um mundo de vantagens e desvantagens. Se por um lado os nossos filhos já nascem “programados” para intuitivamente serem utilizadores das tecnologias, por outro lado, se permitirmos que as utilizem em excesso, perdem aptidões como o trabalho em equipa, o desenvolvimento motor, deixam de treinar as relações interpessoais e tornam-se pessoas solitárias e isoladas, que vivem no seu mundinho e se fecham ao mundo que os rodeia. E meus amigos, isto não se reflecte apenas na relação dos vossos filhos com o mundo exterior. Já pensaram no que faz à vossa relacção familiar? Ao vínculo que como pais devem querer estabelecer com os vossos filhos? Na verdade, antes de ter filhos, assisti várias vezes a situações em que os pais preferem entregar dispositivos electrónicos aos filhos, para que eles não façam birras, não chateiem e lhes permitam, por exemplo, ter uma refeição mais tranquila. Nesses momentos, critiquei e afirmei que aqueles pais estavam a ser irresponsáveis. E agora, que sou mãe, percebo essa escolha! A sério que percebo! Há realmente alturas em que nos apetece mesmo é que os miúdos tenham um botão de OFF e nos dêem um bocadinho de folga. E até podemos jogar com isso e dar-lhes os dispositivos para a mão para que sosseguem durante um bocado. Mas atenção, isto é seguir o caminho mais fácil, e embora seja um caminho que está lá, à nossa disposição, não o devemos escolher sempre, sob pena de mais tarde, termos que atravessar caminhos muito mais sinuosos para tentar corrigir os nossos erros do passado.
“Magda Dias frisa: “como em tudo, o equilíbrio deveria ser a regra na utilização daquilo que causa dependência porque sim, a Internet, os jogos e tudo o que é digital causa dependência”. Refere ainda que “desvinculamo-nos do papel de pais quando, continuamente, deixamos que a tecnologia passe a entreter os nossos filhos. A cada passo afastamo-nos mais deles, e eles de nós. A cada momento perdemos situações mágicas porque estamos a olhar para baixo, para um mundo virtual”. Mariagrazia remata “é importante dar sempre preferência a actividades familiares sem o uso da tecnologia e lembrar que o tempo de qualidade em família é essencial para o desenvolvimento de uma família funcional e saudável”.”
Indiscutivelmente, a relação entre as crianças e o uso de tecnologias pode ser muito positiva no que respeita ao desenvolvimento de determinadas capacidades cognitivas, no entanto, em excesso, torna-se prejudicial e pode realmente afectar a sua capacidade relacional. Cabe-nos a nós pais, como em tudo no que respeita à educação dos nossos filhos, criar regras, balancear os prós e os contras, e garantir que não estamos a criar adultos isolados e com dificuldades de relacionamento com tudo o que seja real.

Há uma série que adoro, num dos canais de televisão por cabo, que aborda este tema de uma forma cruel mas muito real. Chama-se A Teoria do Big Bang. Conhecem? Nesta série, em determinada fase, Raj e Lucy, um casal, na casa dos 20 e poucos anos que se relaccionam por mensagem, marcam o seu primeiro encontro presencial. Ambos sofrem de um distúrbio relacional, pelo que passam o encontro a trocar sms’s um com o outro, sem dirigirem uma única palavra. Quereremos nós ter filhos assim?
One Comment
Xica Maria
Eu acho que se houver bom senso não faz mal nenhum.