Sobre a forma como gerimos o tempo com os nossos filhos!
Este fim de semana, numa conversa com outra mãe de gémeos, dois rapazes com 14 anos, que tem agora um 3.º filho com 4 anos, partilhávamos o quanto sentimos que temos pouca disponibilidade para os nossos filhos, por serem gémeos. São sempre dois para tudo. São sempre dois para dividir a nossa atenção, a nossa paciência, o nosso tempo. São sempre dois para despachar, dar banho, jantar. E são sempre dois para brincar, o que acaba por fazer que os deixemos os dois sozinhos mais vezes, e brinquemos com eles menos vezes. Dizia-me ela, que agora com o S sente que lhe sobra tempo! Os outros dois já são crescidos e independentes, e ela, habituada a ter sempre dois para despachar, acaba de tratar do pequenino e fica a olhar à volta como que a procurar o que ficou por fazer. Dá com ela a pensar com frequência: “Então mas já está tudo? Era só isto!?”
Sinto muitas vezes que não dedico tempo suficiente aos meus filhos. Sinto muitas vezes que precisava de deixar tudo para trás das costas e pura e simplesmente, brincar com eles! Sinto que eles precisam. Que eles pedem. Que lhes faz bem. E que vezes demais… eu não correspondo.
A verdade é que a velocidade a que vivemos hoje em dia, nos faz desperdiçar o tempo que temos para os nossos filhos, deixar passar fases importantes sem desfrutar devidamente delas. Porque temos 1001 coisas para fazer, porque estamos demasiado cansados, porque temos muito trabalho. E a verdade é que quando conseguirmos parar e olhar para eles, já não vão ser os nossos bebés, e já perdemos os seus melhores anos. Sufoca-me pensar que preciso de dias com mais horas, por eles, por mim, pela nossa família. Refugio-me no argumento de que se trabalho tantas horas é por eles e para eles, mas por vezes, eles só precisam… é de mim.
Hoje, a Magda enviou uma das suas newsletters motivacionais. Li-a de uma ponta à outra, e fiquei triste. Confesso que muitas vezes me culpo por não ter a paciência que queria, o auto-controlo que queria, a calma e clareza de espírito que precisava. Confesso que hoje, este texto, me tocou. Revi-me no diálogo 1 em tantas situações, que só me apeteceu fugir do escritório, ir buscá-los à escola e sair para brincar e passear sem pensar em mais nada! Será que um dia vou conseguir passar para o diálogo 2?
“Imagina que o teu filho deixou cair o pão com manteiga do pequeno-almoço ao chão.
Diálogo 1
Não! A sério? Tu nunca tomas atenção a nada! Anda, vai buscar a esponja para limpares o chão que está cheio de manteiga. Há muitos meninos que não têm para comer. Deixa estar que eu limpo, se fosse esperar que fosses buscar a esponja, estávamos aqui até amanhã.
Diálogo 2
Oh, o teu pão caiu ao chão! E agora, o que vais fazer?
[damos espaço para a criança responder]
Reparei que a manteiga sujou o chão – queres um pano ou uma esponja para limpares [quando são pequeninos podemos dar a escolher].
Enquanto limpas, eu vou guardar o resto da loiça na máquina.
Diferenças entre os dois
No primeiro a criança não foi escutada, em momento nenhum. A mãe/pai conseguiu passar toda a sua frustração ao filho em forma de humilhação e com um tom de voz desadequado, onde não há nenhuma gestão emocional nem aparente vontade de o fazer. No fundo, a mãe/pai acredita que esta é a forma que ela tem para prevenir que o pão volte a cair. No fundo, a mãe/pai faz parecer que o facto de o pão ter caído é uma ofensa propositada a si.
Mais, a mãe/pai sente que o filho é incapaz porque pede para ele limpar mas depois ‘arruma-o’ a um canto, fazendo-o sentir ainda mais desadequado.
No segunda caso a mãe olha para a situação e entrega a responsabilidade da sua resolução à criança, sem ter de se exaltar ‘E agora, o que vais fazer?’
Depois dá-lhe uma opção e diz que vai continuar a fazer a sua vida porque sabe que ele vai fazer o que é suposto fazer.
É simples? Parece que sim!
A diferença reside no facto de eu sentir que o meu filho é capaz ou não é capaz.
O que te impede de fazer o segundo diálogo?
Lembras-te disto quando a situação acontece? É preciso pensar neste assunto mais vezes e imaginares como queres agir. Controlares o teu próprio estado? É uma questão de treino e também de saberes que ninguém diz que tens de te zangar. Achares que ele não o vai fazer? Não é a força das tuas palavras e sim a força da tua certeza e atitude que lhe vão dizer que é assim.”
É desta força que vou à procura. Republico este texto para o reler as vezes que precisar. E para que quem está comigo neste barco da maternidade, o faça comigo! Vamos tentar?