Sonhos e angústias…
Na semana passada, uma noite qualquer (já não sei qual), tive um sonho estupido. Sonhei que nos tinham “roubado” a Carolina. Recordo-me de alguns detalhes do sonho, como que se passava num dia de Sol, que estavamos numa casa que não conheço, num sitio que não conheço, com pessoas que não conheço. Que supostamente estava alguém a olhar por ela, mas que de um segundo para outro, ninguém a via. Teria saído sózinha para a rua, e alguém que estava na rua lhe teria dado a mão e seguido viagem! Lembro-me da angústia de não saber dela, da angústia de passar o que no sonho foram horas a procurá-la, da aflição que sentia, com o Daniel ao colo, a procurar pela irmã. Num sitio que não sei onde é, com pessoas que não sei quem são. Só me reconhecia a mim e ao marido, e ao Daniel e à Carolina. Depois de muito procurar, dei com uma casa, piso térreo, janelas com grades verdes, pintada de rosa velho e com uma grande porta verde em madeira. Ia chamando sempre por ela, em berros, pela rua, e quando me aproximei dessa casa, a porta entreabriu-se e apareceu a Carolina, de tshirt e fralda, descalça, de chucha e doudou… a sair devagarinho e muito a medo. Ouviu-se uma voz lá dentro a dizer: “fecha a porta que ela vai a sair!”. Gritei! “Ela está ali! Agarra-a que ela está ali!”. O marido correu e agarro-a. Trouxe-a e passou para o meu colo. Ela ria-se, dizia olá, dava abracinhos. E eu, de coração descompassado, respiração ofegante, chorava e apertava-a contra mim.
Sei que depois ainda entrei na tal casa. Era uma casa de uma divisão só, com camas, algumas de grades, e muitas crianças. Duas pessoas tomavam conta de todas as crianças. Ninguém sabia explicar quem eram, nem o que estavam ali a fazer, e apenas diziam que a Carolina andava perdida na rua e alguém a levou para ali.
Acho que acordei com os nervos e o pânico, e que o sonho ficou por ali. Ou então não fiquei com o resto do sonho registado na memória de longo prazo. Mas sei qual a intensidade da angustia que senti.
Na 2ª feira passada, ou melhor, na noite de 2ª para 3ª feira, voltei a ter um sonho estupido! Desta vez com o Daniel. Estava em casa, num final de dia, sózinha com os dois. Tocaram-me à campainha, e fui abrir. Era alguém a entregar um folheto, uma publicidade… não sei precisar. Os miúdos andavam por ali ao pé de mim enquanto eu falava com a pessoa em questão. Quando já estava a despedir-me da pessoa e a pedir licença para fechar a porta, o Daniel resolveu sair de gatas para a escada. Chamei-o, e ele fez o que tantas vezes faz quando o chamamos… acelerou e fugiu ainda mais depressa. A minha escada tem um corrimão em ferro, com colunas verticais. Nos intervalos dessas colunas, tem varões horizontais, numa distância que não permitiria que ninguém (excepto talvez os gatos!) coubesse lá, mas no sonho, a distância era muito maior! O Daniel fugiu de gatas, em direcção ao corrimão da escada, passou por baixo do primeiro varão… e caiu. Caiu directo, do terceiro andar para o R/C. Eu gritei, gelei, corri… os acontecimentos sucederam-se a uma velocidade alucinante, mas quando cheguei ao R/C já tinha o que eu assumi serem os vizinhos todos (embora fossem tudo caras que eu não conhecia) lá em baixo. Rosnei para que ninguém lhe tocasse, ninguém se chegasse perto dele, e que chamassem o INEM. E deitei-me no chão, ao lado dele, encostada a ele, gelada, a chorar, e a dizer baixinho: “Está tudo bem meu amor, a mamã está aqui…”
Acordei logo! O pânico, o pavor eram de tal ordem que foram suficientes para me arrancar do meu sono profundo. Levantei-me da minha cama e corri para o quarto do lado para ver o Daniel. Ali estava ele, a dormir tranquilamente, sem chucha, com uma respiração pesada. Aconcheguei-o, dei-lhe um beijo na testa e fui espreitar a irmã. Também ela dormia tranquilamente. O cheirinho a bebé naquele quarto pequenino ao lado do meu costuma ser suficiente para me tranquilizar de tudo, mas naquele momento, não chegou. Voltei para a minha cama e estive muito tempo às voltas. Nunca mais conseguia adormecer. Revia cada momento daquele sonho estupido. Dava voltas a tentar esquecer mas a imagem voltava, teimosa a entrar na minha cabeça. Na manhã seguinte, quando saímos de casa, olhei para o corrimão e vi que era tão diferente do que era no sonho. Já no R/C, vi que a escada também era tão mais pequena que no sonho. Ainda assim, olhei para ambos com apreensão. Só ontem é que consegui falar deste sonho pela primeira vez. E mesmo assim, ao chegar a casa, o pai pôs a Carolina no chão ao pé da nossa porta e eu gelei. O Daniel começou a querer ir para o chão também e eu bloqueei!
Foram só sonhos. Nada mais do que isso, mas senti-os como reais. Mexeram comigo, afligiram-me e condicionaram-me. O que será que sente esta mãe?
(E onde é que eu vou arranjar imaginação para ter sonhos estupidos destes!?)
One Comment
ML
Acho que por mas que tentemos imaginar um bocadinho da dor que essa mãe transporta no olhar e no coração nunca vamos conseguir perceber nem chegar perto, um bocadinho que seja.
🙁