Banalidades

Tirar folga da paternidade!

Quem é que nunca teve vontade de tirar folga da paternidade? Eu já tive! Várias vezes! E não, não tenho qualquer problema em assumi-lo! Adoro os meus filhos, são a melhor coisa que tenho na vida, mas nesta altura, precisava de os pôr “em pausa”! Precisava que tivessem um botão, que me deixasse desligá-los assim por 2 ou 3 dias, e deixar-nos ter calma, tranquilidade, uma noite de sono tranquila, momentos a dois [que tanta falta nos têm feito!]. Precisava de não ter que fazer jantares, mudar camas, preparar roupas para o dia seguinte, apanhar a roupa que está seca na corda porque já tenho outra máquina lavada e eles precisam dela. Precisava de não ter ninguém a depender de mim!


Não sei se é do cansaço, se é pura e simplesmente uma fase, mas o facto é que os miúdos andam impossíveis! Provavelmente, tal como nós, estão desesperadamente a precisar de férias, a precisar de mudar a rotina, de não ter horários para cumprir. Fazem birras por tudo e por nada, daquelas mesmo feias, de nos levar a um grau de desespero tal que só apetece virar as costas e fugir. O pior é que a maioria delas são por motivos ridículos! O Daniel por exemplo, na maioria dos casos começa a fazer birra do nada, e mesmo quando lhe perguntamos porque é que está a chorar ou a gritar, não responde, e chora ou grita ainda mais alto!

Ontem, saímos da creche, e poucos minutos depois começou nesse registo. Gritava, a plenos pulmões, sem lágrimas. A nossa primeira abordagem foi tentar conversar com ele, perguntar o que se passava, se precisava de ajuda. Não resultando, optámos por tentar ignorar, chamando a atenção para coisas à nossa volta, como as pinturas na parede do mercado, ou o avião que ia a passar. Outro fracasso. A birra continuava. A terceira tentativa foi pôr música, a um volume mais alto do que o  habitual, de modo a camuflar um pouco a birra. A irmã já ia assustada e começou a pedir para lhe dar a mão, e nós já tínhamos a cabeça feita em água! Também não resultou!
Foi assim o caminho todo, até chegarmos ao supermercado, onde íamos buscar 2 ou 3 coisas que faziam falta. Aí, quando o tirei do carro, limpou a cara, saltou para o meu colo, e pediu desculpa repetidamente. [Em situações de birra, acaba sempre a pedir desculpa, vezes sem conta, mesmo que no minuto seguinte esteja a berrar outra vez!]
Quando voltámos ao carro, recomeçou! Desta vez queria a chucha. A chucha nunca sai de casa, e já nos valeu várias birras deste género, mas como o que queremos mesmo é que ele a deixe [e a irmã também], não podemos ceder uma vez que seja, sob pena de comprometermos este treino de largar a chucha. Por isso, desta vez, a birra foi até chegar a casa! Chegou, descalçou-se, arrumou os ténis e subiu a escada para ir buscar a chucha. Aquilo que nos faz ter noção do grau de cansaço em que ele está, é a satisfação quando finalmente chega a casa e põe a chucha na boca. A expressão, os ruídos, a tranquilidade que consegue atingir quase instantaneamente, são indescritíveis. Ontem foi um desses dias! Podíamos ter percebido o sinal, mas não percebemos. Ou melhor, percebemos que ele estava super cansado, mas o que fizemos foi despachar o mais depressa possível para que se deitasse cedo. Enquanto o pai tratou do banho, eu preparei o jantar, tirei a loiça da máquina, pus a mesa, preparei as roupas para o dia seguinte.

Depois do banho tomado, vieram para a mesa. Sopa, almôndegas com arroz e pêssegos cortados aos pedaços. A Carolina, mesmo com sono e algumas birras [significativamente mais pequenas] lá foi comendo. Demorou o dobro do tempo que é habitual, mas comeu tudo! O Daniel… começou por dizer que não queria pêssego, que queria morangos, e que não gosta de pêssego. Depois de muito insistir, tirámos-lhe a taça do pêssego da frente e passou à sopa. Claro que a sopa também tinha que ter defeitos! Desta vez tinha fios! Cuspia a cada colherada que punha na boca, dizendo repetidamente em voz chorosa que não gosta de fios! Tal como com a fruta, acabámos por lhe tirar a sopa da frente e passou para a carne. Desta vez nunca objectivou qual era o defeito, mas comer que é bom… nada! O tempo ia-se passando e ele ali estava. Não comia sozinho, não comia se lhe déssemos à boca, não comia ponto final! Dissemos-lhe que se não queria comer tudo bem, mas então ia para a cama. Também não queria! Chorou, berrou, esperneou, tentámos em vão acalmá-lo, fazê-lo comer pelo menos a sopa ou a carne, mas não conseguimos!

O que é que ganhámos com isto? Nada! Ficámos enervadíssimos, ele ficou aos soluços depois de tanto tempo a chorar, e não jantou na mesma! Acabou agarrado ao meu pescoço a dizer “xcupa mamã, xcupa…” enquanto choramingava baixinho. Quando finalmente se calou, limpei-lhe a cara, e perguntei porque é que tinha sido aquela fita toda. Respondeu-me apenas “Puque eu num quio papa!”. Simples! Ele não queria comer! E vale a pena insistir? Não! Não vale! Principalmente quando nos traz stress desnecessário a todos e resultados que é bom, nem vê-los!

Hoje de manhã, ao pequeno almoço, pediram cerelác. O pai fez uma taça para cada um e começaram a comer. A Carolina comeu tudo enquanto o diabo esfrega um olho, o Daniel começou a comer, mas de repente, sem motivo nenhum, parou, empurrou a taça e disse que queria leitinho. Dissemos que não havia leitinho, que estava a comer cerelác porque pediu, e agora era isso que tinha que comer. Não quis. Chateámos-nos com ele? Não! Não quer, não come! Claro que, a irmã aproveitou logo para pedir o dele, e comer tudinho até ao fim! [como mesmo muito pouco a minha filha! Acho que me devo preocupar!]. O ameaço de birra por causa da cerelác acabou por não avançar, e apesar de ainda haver mais dois ameaços, porque queria ver televisão e brincar no quarto em vez de se ir vestir para sair, lá acabou se aguentar.

Por isso, passou a bola para o lado da irmã, que depois de vestida e quando estávamos a acabar de nos despachar para sair, entendeu que queria ir buscar uma caixa de madeira que tem a tampa partida e falhas na madeira, e que só não deitei ainda fora porque foi um presente, e como eu não deixei, atirou-se para o chão a berrar! Durou pouco, porque com a Carolina quando ignoramos as birras e continuamos a fazer o que estávamos a fazer, ela regra geral cala-se e vem a correr agarrar-se a nós e pedir desculpa, mas fez logo com que viesse trabalhar exausta!

Percebem porque é que digo sem qualquer pudor que precisava mesmo de tirar folga da paternidade?!

One Comment

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *