O meu filho não quer comer

Nas últimas semanas o Daniel tem andado particularmente difícil para comer. Há dias melhores e dias piores, há refeições melhores e refeições piores. No global, tenho notado que ao jantar tem sido mais difícil, provavelmente pelo cansaço. Tenho tentado ao máximo que nos dias em que têm karaté e que por isso estão mais cansados e jantam mais tarde a ementa seja mais apelativa, mas ontem nem isso resultou.
Sentaram-se à mesa pouco antes das 21h, a Carolina jantou: sopa, prato e fruta, saiu da mesa, foi lavar os dentes e despachar-se e perguntou-me se podia deitar-se a ver televisão à espera do mano. Disse-lhe que sim e fui arrumando a cozinha enquanto o Daniel já com a sopa e a fruta comidas estava ainda em frente ao prato. O prato principal ontem foi Bolonhesa. Uma coisa que gostam bastante e que costumam comer depressa. Só que o modus operandi ultimamente é simplesmente ficar ali, de braços caídos, ou a segurar a cabeça, a olhar para o infinito à espera que a comida desapareça do prato como que por milagre, simplesmente porque o meu filho não quer comer.
Não sei se por sentir que me quase me estou a ver ao espelho com 6 ou 7 anos, mas a verdade é que esta atitude dele me tira do sério. Há dias em que não me consigo controlar e só me apetece enfiar-lhe a comida pela boca abaixo com um funil! Fico completamente furiosa! E se no passado o deixava ficar até se fartar, até adormecer à mesa, ou desistia de o fazer comer, agora com ele com uma diferença de peso tão grande da irmã e com horários de escola para cumprir, tento ao máximo que as coisas corram bem e tento que coma embora o mais possível dentro de um horário razoável.
Ontem o meu limite foram as 22h15! O horário de deitar são as 21h30 e teve 45 minutos de margem! Quando acabei de arrumar a cozinha, muito calmamente olhei-o nos olhos e disse que ou comia tudo em 5 minutos para se ir deitar, ou eu guardava a comida numa caixinha e ele ia comê-la ao pequeno almoço. Pequeno Daniel, nariz empinado, olha-me nos olhos e responde sem hesitar: “ok! como ao pequeno almoço!”. Tudo bem! É assim que queres, é assim que vais ter! Levantou-se, foi lavar os dentes e foi-se deitar! E eu fiquei-me a roer por dentro mas consegui não me exasperar com ele e não gritar nem perder a cabeça porque o meu filho não quer comer. É preciso ter calma e não deixar que isto me consuma.

Hoje de manhã, antes de os irmos acordar discutimos o tema. Sabíamos que não podíamos vacilar, mas ao mesmo tempo que ia ser uma bronca matinal daquelas! E quem é que não adora começar o dia com uma guerra aberta com um filho hum? Mas, decisão tomada está mais do que acertada e por isso lá pus a comida num prato e aqueci. Fomos acordá-los e a fase sempre difícil de os tirar da cama hoje com ele foi ainda mais difícil. A memória não lhe falhou e apesar de [acho eu] ter uma réstia de esperança que eu não cumprisse o prometido, sabia que corria o risco de ter a comida do jantar na mesa à espera. Quando finalmente foi para a cozinha, deu de caras com o prato, os olhos encheram-se de lágrimas e fugiu para a sala. Teve que ir o pai buscá-lo de volta e sentá-lo à mesa. Os primeiros 10 minutos esteve de costas para a mesa, a chorar. Deixámos. Serviram para ele se acalmar e para interiorizar que tinha mesmo que se resignar e comer o que tinha no prato. Depois de passados estes minutos, comecei a dizer-lhe que se virasse até que quando me começou a ouvir já com um tom de voz mais elevado lá acedeu. Não começou a comer pela mão dele, fui eu que lhe dei as primeiras garfadas enquanto ele chorava em silêncio, mas ao fim das primeiras acabou por se acalmar e comer tudo tranquilamente. Depois do prato vazio disse-me que queria mais alguma coisa e rematou a refeição com duas bolachas! Ora, este pequeno almoço atípico só veio provar que realmente o meu filho não quer comer e não tem propriamente uma razão concreta para isso.
Não sei se tomei a decisão acertada ou não, mas ontem decidi que ia fazer assim! Em vez de me desgastar a dizer 1999 vezes “come Daniel”, de o deitar fora de horas, de me chatear, gritar ou perder a cabeça, a estratégia com o jantar vai passar a ser esta. Não me apetece tê-lo a chorar à mesa todos os dias de manhã, não me apetece vê-lo privado de comer o que lhe apetece ao pequeno almoço, e só eu sei o que me doeu fazer o que fiz esta manhã, mas tenho esperança que o ajude a perceber que a melhor estratégia, aquela que lhe vai dar mais a ganhar, é comer tudo num instante ao jantar! Afinal, com a irmã resulta!